Dos desenhos para as páginas dos jornais


05/06/2007


Rodrigo Caixeta
6/06/2007

Quando criança, Angelo Duarte gostava mesmo de desenhar — “na escola, era o melhor nessa disciplina”. Mas foi em outro campo das artes que descobriu sua verdadeira vocação: largou a faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro depois de pedir emprestado ao pai uma câmera Ricoh, pois pretendia fazer Fotografia em Preto e Branco no Senac. Dali em diante, não parou mais. Concluído o curso, deixou também para trás o emprego como editor de vídeo na TV Manchete e foi estudar Jornalismo na Escola de Comunicação da UFRJ (ECO).

Em 1997, ano seguinte à sua formatura, foi um dos selecionados para um curso de especialização do Dia, onde deu os primeiros passos no fotojornalismo:
— Na época, existia o Notícias Populares, um jornal para a classe E, que disputava leitores com O Povo. O editor de Fotografia de lá me perguntou se eu queria trabalhar na madrugada. Disse que não, que era furada… coisa de iniciante. Então continuei fazendo futebol de praia pro caderno Ataque, do Dia, todos os sábados e domingos pela manhã. Foram minhas primeiras fotos publicadas. Depois, acabou o torneio e fui despachado.

Angelo trabalhou, em seguida, para o Orla Rio, jornal que circulava na Barra da Tijuca, e retornou ao Dia para cobrir mais um torneio de futebol de praia. Foi quando surgiu uma oportunidade no Extra, para cobrir o nascimento da filha da Xuxa:
— Era noite e havia um batalhão de fotógrafos e cinegrafistas na porta da clínica. Escolhi um canto para ficar e foi justamente o lado para onde a apresentadora olhou quando chegou — e ainda me deu um “tchau”! Fiz a foto, que ocupou metade da página 3. De lá para cá, sempre fiz frilas para o Extra e para o Globo.

Em 2003, ao lado da mulher, a jornalista Cíntia Borges, Angelo foi para os EUA participar como aluno ouvinte de um curso de Fotojornalismo na Universidade da Flórida. Durante a temporada norte-americana, registrou um acidente de carro e vendeu a imagem para a agência AP — “a foto foi primeira página dos principais jornais de Atlanta”. Um ano mais tarde, voltou ao dia-a-dia da profissão no Brasil, já munido de equipamento digital:
Freelancer que não tiver um equipamento digital razoável está fora do mercado fotojornalístico. Uso uma câmera com resolução de 6 megapixels e lentes 17-40mm e 70-200mm, além de um flash, quatro cartões de memória, baterias e cabos. Digital é a preferência — garante Angelo, que diz que, “se ainda fosse vivo, Cartier-Bresson usaria uma Leica digital”.

Mudanças

Para Angelo, hoje estamos no “olho do furacão das mudanças”, mas os poucos jornais do Rio não mostram o que aprendeu nas salas de aula:
— Víamos fotojornalismo mesmo no fim dos anos de chumbo e no início dos anos 80. Hoje a notícia tem hora pra acontecer. Em 60% dos casos, os jornais são pautados pelas assessorias de imprensa. Não é mais possível um fotógrafo de jornal ficar fazendo ronda e flagrar algo.

Há oito anos, ele concilia o uso profissional das câmeras com as aulas de Fotografia que dá, para o ensino médio, na Escola Técnica Adolpho Bloch. Já trabalhou também como correspondente de jornais britânicos, como o Sunday Times. Uma das coberturas que fez para o exterior e lhe rendeu grande espaço em publicações estrangeiras foi a do velório de Jean Charles, confundido com um terrorista e morto pela Scotland Yard, no metrô de Londres:
— Fui chamado às pressas para ir a Governador Valadares e, de lá, buscar meios para chegar à pequena Gonzaga, onde aconteceu o enterro. Foi muito comovente e me deu muito trabalho. Fiz as fotos e, pelo laptop, enviei todas para o Mail on Sunday, da Inglaterra.

Angelo, que acabou de concluir uma pós-graduação em Fotografia, Linguagem e Expressão, diz que gostaria de poder estudar mais, “porque há sempre algo para aprender”. Atualmente, além de continuar fazendo frilas para jornais e assessorias, faz assistência de fotografia de casamento e não é otimista com relação às oportunidades no mercado de trabalho carioca:
— Acho que está cada vez mais difícil encarar esta profissão num mercado tão pequeno como o Rio de Janeiro. Não posso ficar esperando um frila de jornal, tenho que fazer outras coisas para garantir meu espaço no mercado: assessoria de imprensa, eventos, casamentos etc. Fotógrafos da era digital precisam diversificar o olhar. 
 


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