‘Dia da mulher, o século
XXI começa agora’


09/03/2021


 

Marie Curie (1867 – 1934)

Dia da mulher, o século XXI começa agora

Norma Couri

Diretora Inclusão Social, Mulher e Diversidade

Entre as mulheres que mais se destacaram no mundo está Jacinta Ardern, a Primeira-Ministra de 39 anos que assumiu a liderança na erradicação do coronavírus na Nova Zelândia. A agência Bloomberg analisou 53 países para identificar em qual deles a pandemia é melhor vivenciada, de acordo com os padrões sanitários e sócio-econômicos. Jacinta Ardern colocou seu país no topo do ranking com 85,4 pontos. Entre os destaques, na balança entre a incidência de óbitos a cada 100 mil habitantes, o percentual de testes positivos e as baixas na economia, países governados por mulheres estão em disparada na frente: Finlândia, Noruega, Alemanha e Taiwan. Destaques para Sanna Marin de 35 anos e Erna Solerberg de 60 anos, que ocupam o cargo de Primeira-Ministra na Finlândia e Noruega, para a chanceler Angela Merkel na Alemanha e a presidente Tsai Ing-wen no Taiwan. O Brasil está entre os piores da lista, nossa situação sanitária e qualidade de vida despencaram.

Fomos salvos por uma mulher que se chama Margareth Dalcomo, pneumologista, pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, que acredita, um quarto das vidas poderiam ter sido salvas se tivéssemos feito os acordos comerciais com os laboratórios na hora certa. O negacionismo nos tornou “pestiferados” no mundo.

–Não se iludam, ninguém vai poder viajar, nem para o Uruguai, sem uma carteirinha de vacinação. O mundo mudou, ac e dc, antes de depois da covid, o século XXI está começando agora.

Sem querer ser precursora do apocalipse, a dra. Margareth diz que nem é preciso ler Boccacio no Decameron para saber, desde o século XIV, que as pestes, as doenças virais agudas, se tratam com distanciamento social. E vacinas. Não fizemos nem uma coisa nem outra e hoje temos mais de 10 milhões de casos, 261 ml mortos, podemos chegar a 3 mil mortos por dia. Na contramão do mundo perdemos 3 milhões de doses negando três vezes a vacina Pfizer, e outras tantas desprezando a Johnson & Johnson.

–O Brasil paga o preço de ter confundido a opinião pública com um discurso paradoxal que fez muito mal às pessoas, sem saber em quem acreditar, nas autoridades com curas preventivas de Covid que não existem, ou na Ciência. Gastamos muita energia e jogamos muito dinheiro público fora. Estamos sendo salvos pela Fiocruz e o Instituto Butantã, AstraZeneca e CoronaVac, mas poderíamos estar no topo da lista, temos 40 mil postos de vacinação no Brasil, com capacidade para vacinar 2 milhões de pessoas por dia. Sem vacinas.

Sim, o Brasil é o novo epicentro da doença mas a dra Margareth não ficou de braços cruzados diante da desgraça sanitária e humanitária que nos isolou, e matou. Ela procurou Luiza Trajano, empresária humanista que criou o grupo Unidos pelo Brasil e reuniu empresários de todo país para saber em que os cientistas achavam necessário investir para erradicar o vírus.

— Nós pedimos geladeiras, aviões, caminhões refrigerados para 5 mil municípios de prefeituras pequenas que não teriam condições de se suprir sozinhas, e conseguimos. Para salvar o Brasil precisamos de empatia e paciência. E a operação público-privada. Sempre me perguntam qual vacina pode nos proteger e eu respondo: qualquer uma, eu tomo qualquer uma, AstraZeneca, CoronaVac, a Pfizer e a Janssen da Johnson&Johnson – qualquer uma, os estudos de vigilância genômica provam que são eficazes.

Quando poderemos estar totalmente vacinados ainda é uma incógnita, fomos para o final da fila e neste momento corremos contra o tempo para recuperar vidas. Julho? Setembro? Final do ano? Se tem uma pessoa ocupada 24 horas por dia para encurtar esse processo é a dra. Margareth.

No Dia da Mulher, temos de deixar a ministra Damares Alves e os mimimis de lado, e aplaudir a dra. Margareth Dalcomo pelo seu papel de Primeira-Ministra similar ao das líderes da Nova Zelândia, Noruega, Alemanha e Taiwan. Ela repassa o bastão para outras mulheres.

— Nesta pandemia eu dirijo meu respeito às mulheres que não puderam sair de casa, com crianças e trabalho dobrado, sem vencimentos, sem vacina, tendo que sobreviver a violência doméstica — essas foram as heroínas.