Convite à reflexão


11/06/2008


Colaboração de Bernardino Capell Ferreira, jornalista e sócio da ABI 

“A semente verde hoje será o fruto maduro do amanhã. 
Desse modo, a consciência faz de todos nós covardes.”
(William Shakespeare, l564. Hamlet, III 3.83)

Quando os velhos sábios se tornam introspectivos, é sinal de que os jovens deverão estar prontos para os sucederem em todos os sentidos.

É como se a sociedade revivesse a cada geração, dando lugar àqueles que supostamente terão de arcar com a responsabilidade de gerirem o destino dos seus irmãos — árdua e difícil a tarefa que terão sobre seus ombros se não se acharem capacitados para tal mister.

Ao visionarmos esse ângulo, o da capacitação dos jovens para o comando das diversas atividades estruturais da sociedade, ou melhor, da nossa sociedade brasileira, lamentamos que os governos que se têm apresentado como nossos gestores sejam aqueles que não nos parece ter grandes motivações no que tange ao incentivo à educação no sentido básico de suas diretrizes, quer no âmbito da competência da União, quer no dos estados e municípios.

Considerando esse aspecto, buscamos algo em que possamos nos apoiar, a fim de melhor nos conceituarmos em torno do que prescreve a nossa Carta Magna de 1988, e os seus 250 artigos, mormente o seu artigo 14, parágrafo 3º, alínea a, no que diz respeito à elegibilidade para o cargo de Presidente da República, fixada em 35 anos, sem demais exigências, embora apontadas, en passant nos seus parágrafos 9º e 10º.

Face ao que podemos interpretar na letra da lei acima referida, torna-se evidente que não poderia faltar a essa estrutura o cerne que lhe garantiria a estabilidade, o motivo maior, a figura daquele a quem daria o povo a liderança de conduzi-lo nos caminhos da sua evolução social, imprevista, sim, em razão dos inúmeros obstáculos que se antepõem a qualquer governante, os quais poderão ser transpostos, como os fatos atuais de uma possível beligerância entre países do Cone Sul, desde que seus governos tenham condições para evitar o que seria a nosso ver uma calamidade, se observarmos que toda essa região vem, desde há muito, sendo mantida em um clima de paz, considerando-se ainda mais que a nossa integridade territorial poderia ser afetada por possíveis invasões estratégicas de beligerantes, dando lugar a reações significativas de nossa parte.

Vai daí que os problemas a serem enfrentados por aquele que poderia denominar de nosso “maestro”, o Presidente Lula, são aqueles que são distribuídos entre os membros de sua orquestra, nem sempre em dia com as partituras que lhes são distribuídas.

Saiamos da metáfora e entremos no plano racional.

Evidentemente nos parece que ainda temos um vasto caminho a percorrer, na busca de soluções que possam levar o País a suplantar o desequilíbrio e a desigualdade socioeconômica e, por que não dizer, política, gerados por interesses inconfessáveis, que têm como escopo a continuidade da inércia nas ações governamentais, as quais impedem, ao gerar conflitos, a estabilidade da nação e a dificuldade na distribuição de sua renda, eqüitativamente, ao povo.

Diante desse quadro, equivale dizer que algo transcendental pode estar contribuindo para que nos mantenhamos nesse status quo, quando, na verdade, os que conhecem a grandiosidade do Brasil, o seu potencial em todos os quadrantes, a fertilidade do seu solo e as riquezas semi-escondidas em suas entranhas, não podem conceber o porquê das razões que o impedem de elevar-se no conceito das nações do Primeiro Mundo, importante e respeitado, fazendo valer as suas leis, expressas em sua Constituição.

O turbilhonamento das diversas etnias, a diferença de classes entre privilegiados e miseráveis, a decadência dos princípios que norteiam a convivência dessa individualidade diferenciada, a falta de garantias contra os crimes, quaisquer que sejam, fomentam a desordem social que se vem alastrando em todo o País, transformando-o em palco de lutas fratricidas em que são ceifadas vidas humanas a cada dia, perniciosas muitas delas, mais valiosas outras tantas sem qualquer distinção, grassando a criminalidade, matando-se por motivos de somenos importância.

E voltamos a perguntar num assomo de dúvidas: será que temos culpa desse descalabro, dessas incongruências, dessa descida vertiginosa da nossa sociedade para o caos que se aproxima, sem que nada se faça para reter essa avalanche de descréditos que vêm envolvendo as nossas esperanças e os nossos direitos, ante uma Carta Constitucional da qual se faz letra morta; e em seus preceitos descumpridos, dia-a-dia mal respeitada, ainda, por um Congresso inexpressivo e promíscuo?

E a resposta, aquela que não gostaríamos de ouvir no íntimo de nós mesmos, nos afiança que sim, que temos culpa, imensa culpa, por não nos aprofundarmos nas questões ligadas à evolução da Pátria, dentro do regime democrático escolhido por seu povo, exigindo, sim, o cumprimento do dever e a punição rápida e inquestionável dos que não respeitarem os preceitos constitucionais.