Conjecturas diante das catástrofes


05/04/2011


É difícil cada vez mais fazer quaisquer previsões a respeito do destino das nações. Quando nem bem se espera, toma-se ciência de um conflito, de um crime bárbaro cometido ou uma catástrofe como a ocorrida no Japão,ceifando milhares de vida na área do complexo de energia atômica do país.
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Mal esquecidas que estariam sendo as nossas seqüelas no Estado do Rio, em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, quando da enxurrada que vitimou centenas ou mais que milhares de pessoas de todas as idades, uma vez que muitas delas, entre homens, mulheres e crianças, soterradas que foram, não tiveram seus corpos, até então, encontrados.
 
A energia nuclear, que no momento estaria sendo essencial para a economia  japonesa, passa a ser objeto de medo da população e tudo indica que em razão desse temor, após terremotos, tsunami e o dito acidente nuclear, torna-se evidente que possivelmente, a energia nuclear passará a dar lugar ao uso de energias poluentes, no preciso momento em que o sistema vinha sendo visto como alternativa preciosa ante o carvão, já quase em desuso para tal fim, e o petróleo.
 
No Brasil já existe um plano governamental para a construção de quatro usinas no Nordeste, além da Angra 3, no Estado do Rio. Há poucos dias o Ministro das Minas e Energia, que não nos parece ser um técnico no assunto, julgou que as nossas usinas seriam melhores que as japonesas. Ora, neste momento seria interessante mais raciocínio e humildade que jactância. O de que iremos precisar, se o sistema de energia nuclear se expandir no Brasil, será aprender a conviver com ele e termos, o que ainda não temos, uma agência reguladora com um cientista como diretor (conhecemos vários deles que poderiam assumir o encargo), cercado de técnicos competentes, não ligados a qualquer proselitismo político,o que nos daria um nível de transparência desejada no que tange ao primordial problema energético do átomo.
                                                                                                                                                                                                                                                                                              
O perigo que ronda as atividades das usinas atômicas,em razão do que houve no Japão,tomou conta do mundo. Inúmeros países, como os Estados Unidos, a Rússia, a Índia e a China, parecem que manterão os seus projetos mas, segundo estamos sabendo, aqueles cujos povos resistem mais à energia nuclear, como a Alemanha e a Suíça, poderão declinar ou mesmo desistir de continuar construíndo-as, dependendo, naturalmente, da evolução que se der na dissipação do perigo que ainda existe em termos de radioatividade em Fukushima.
 
A evolução da técnica de moldagem dos sistemas energéticos, em face da necessidade imperiosa de dotar o mundo com a energia necessária à sua evolução, traz,em conseqüência, grandes preocupações, tornando-se necessário que se procure uma forma eficaz da obtenção de outras fontes energéticas que possam substituir a nuclear, amparando-nos com certeza, na biomassa.
 
No Brasil não subsiste o receio imediato, de vez que temos uma reserva de petróleo calculada pela Petrobras em cerca de 140 bilhões de barris nas áreas do nosso pré-sal, o que poderá fazer frente a qualquer expansão energética que se queira obter, a partir dessa fonte. Todavia, há de se aquilatar do montante de recursos necessários à aquisição de equipamentos que serão empregados nas múltiplas operações que envolverão os trabalhos de extração, armazenamento, transporte por oleodutos ou navios-tanque que a Petrobras se obrigará a possuir, sem contar com o pessoal técnico e de apoio que a empresa deverá empregar.
 
Com a continuidade dos trabalhos, em especial no mar, terá a Petrobras de adquirir ou contratar o emprego de novas plataformas, considerando evidentemente o volume de óleo que deseja venha a ser enviado para as suas refinarias, a fim de que seja transformado em derivados necessários a vida plena do País em termos de necessidade energética.
 
Nesse aspecto de aquisição de equipamento ou mão-de-obra, acreditamos que este último fator poderá trazer dificuldades, de vez que o parque industrial do País, mormente quanto ao petróleo, se ressente da presença de técnicos especialistas, engenheiros, geólogos, paleontólogos, técnicos de laboratório e operários especializados no trabalho de extração no mar, bem assim, estes últimos, no manuseio de equipamentos de última geração, considerando-se a grandeza e possível evolução que se dará nas áreas do pré-sal, na obtenção do óleo ali existente.
 
A questão petróleo veio a merecer a nossa apreciação em decorrência da sua interligação energética com o átomo, que está causando a grave comoção ao povo japonês. Esse assunto, que nos parece polêmico, merece, contudo, as nossas primordiais considerações, uma vez que, ao que tudo indica, o Brasil, com inúmeras fontes energéticas ao seu dispor, envereda já para a consumação de um desejo esdrúxulo e até certo ponto incompreensível, ou seja o contido na declaração do Ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, de que o programa brasileiro não iria mudar com relação ás usinas nucleares que deverão ser erigidas e que nem mesmo haveria qualquer revisão nos sistemas de segurança nas usinas 1 e 2 de Angra dos Reis.
 
É necessário que as autoridades competentes ligadas às questões energéticas no País possam voltar-se para as possibilidades que tem o Brasil nesse campo. Já falamos muitas vezes sobre as usinas hidrelétricas que podem ser construídas em nossos rios, possibilitando, além da eletricidade e evolução dos nossos mais afastados rincões, a transformação de rios e seus afluentes em verdadeiras estradas
que darão ensejo à comercialização de bens na maioria dos quadrantes brasileiros.
 
Problemas estão-se verificando nas obras de Jirau e Santo Antônio, paralisadas, ultimamente, por greves de seus operários, o que poderia ser evitado, cremos nós, se houvesse uma contínua fiscalização dos setores governamentais, com a obrigatoriedade, também, de as centrais sindicais dos trabalhadores alocados nessas obras, fazerem valer o constante dos contratos entre as partes, denunciando, em primeira mão, quaisquer irregularidades por parte dos contratantes.
 
 
 
Retornando ao fato da aquisição de equipamentos pela Petrobras para a extração do óleo do pré-sal, na hipótese da não existência de recursos na empresa para tal fim, evidentemente que qualquer empréstimo internacional seria imediatamente atendido, de vez que as reservas de óleo nos campos produtores no País, anteriormente mencionadas, nos parecem ser amplas cauções garantidoras de qualquer movimentação financeira com qualquer banco no mundo.
 
A Petrobras se torna cada vez mais acreditada como uma empresa de porte, considerando-se que as suas atividades se louvam em projetos de suportes econômicos e financeiros, os quais sempre se ajustaram ao momento no qual a empresa se obriga a tomar decisões, como agora com o pré-sal, embora não descuide dos estudos relativos à busca de outras fontes energéticas que o seu complexo industrial possa absorver. No mesmo plano, a construção de suas novas refinarias no Nordeste demonstram a sua capacidade de contribuir para que os produtos derivados do petróleo tenham acesso às áreas mais carentes do País, bem assim maiores possibilidades de serem exportados para o exterior, a partir de portos mais vantajosos como Suape PE, Abreu Lima-PE e Pecém-CE.
 
Neste país ainda há muita coisa para se fazer, mas as preocupações no que diz respeito ao emprego de ações que possibilitem a riqueza do seu povo tornam-se cada vez mais obrigatória ao Governo, que se vê forçado, como agora, no caso das greves em Rondônia, a intervir, reunindo empresários e sindicalistas para debater condições de trabalho.
 
As obras do Pac não poderão ser paralisadas. Estamos acompanhando-as porque muitas delas, e nesse aspecto apontamos a transposição das águas do Rio São Francisco, merecem uma conceituação mais profunda em razão do seu envolvimento regional,  tendente á atrair investimentos, tão logo a água, um dos principais fatores naturais para a evolução que se prevê no Nordeste, esteja presente nos reservatórios naturais das bacias do agreste dos Estados de Pernambuco, Ceará,Rio Grande do Norte e Paraíba.
 
As últimas informações que tivemos sobre o assunto, nos foram dadas, gentilmente, pela Diretoria de Obras de Cooperação do Exército Brasileiro, em Brasília, mas não mais temos visto nos jornais das urbs quaisquer informes sobre o assunto: aliás, o fato não nos causa admiração, porque é assim mesmo. Qualquer novo assunto que dê motivos a novas considerações nas esquinas ou nos cafés apaga manchetes.
 
A área nordestina possui grande potencial econômico mas falta-lhe uma infra-estrutura desejável. Com relação à revitalização do Velho Chico, o assunto nos deixa pasmo,  porque, até hoje não sabemos aonde foi parar a PEC 524-A originária do Senado em 2001 (Senador Antonio Carlos Valadares), que tratava da aplicação de cerca de 5% da arrecadação da União em prol da revitalização do Velho Chico, que não tem nada com a transposição. Pode ser que um dia saibamos…
 
Os assuntos neste Brasil continental são tantos, que começamos no petróleo e vamos acabar no Rio São Francisco – Como escrevi um dia, sob título “ A garantia da obra do século, sob a ação do Exército Brasileiro, o chamado Velho Chico não pode ser esquecido e terá que ser acompanhado sempre até o dia em que se tornará um Nilo, levando turistas até a represa de Assuan, graças a um novo Ramsés III, aconselhado como teria sido pelos sacerdotes da Divina Providência,que o levaram a resolver definitivamente o problema do majestoso rio, dominando-o desde o Cairo até a represa acima citada. Tais sacerdotes são difíceis de serem encontrados no nosso País, porque devem possuir, além da cultura, força espiritual e “ficha limpa”, esta última condição na dependência do nosso STF, que se permite a uma avaliação subseqüente do problema, o que poderá postergar ou tornar inútil o movimento de 1.600,000 de assinaturas, permitindo, então, que as janelas não se fechem para nefastos inescrupulosos que infestarão as nossas Casas do Congresso.
 
Por hoje acredito bastar, ante a dificuldade em pensar nas coisas que devem ser ditas pela palavra escrita, tendo em vista o incongruente.
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Bernardino Capell Ferreira, sócio da ABI, é jornalista, escritor e membro titular do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (Casa de Deodoro)