Com medo de serem sequestrados, jornalistas deixam o Iraque


Por Kika Santos*

28/10/2014


Jonh_Cantlie_Kobane

Jornalista aparece em trajes civis em novo vídeo do EI (Crédito: Reprodução)

Por causa das campanhas de sequestros divulgadas pelo grupo radical extremista Estado Islâmico (EI), jornalistas estão fugindo da cidade de Mossul, localizada no norte do Iraque. A informação é a da agência de notícias internacional EFE, que afirma que desde o dia 10 de junho, quando o grupo assumiu o controle da cidade, 16 jornalistas foram sequestrados, oito apenas nos últimos três dias. Os profissionais estariam fugindo rumo a Kirkuk e Bagdá.

Fontes da região que não foram identificadas disseram que mais de oito repórteres fugiram no último final de semana e que o EI quer prender todos os jornalistas de Mossul, pois acreditam que eles não seguem a religião. Alguns dos jornalistas são funcionários da rede de TV Semá.

“A situação enfrentada pelos profissionais de comunicação em Mossul é muito perigosa, por causa da constante perseguição a maioria fugiu ou diminuiu muito seu trabalho”, relatou o jornalista Mohammed Amin al Abaui.

O representante do Sindicato dos Jornalistas Iraquianos na região, Ahmed Ezadin, disse que o grupo fracassou na tentativa de obrigar os jornalistas da cidade a “trabalhar” em favor de seus ideais.

Os jihadistas, no entanto, conseguiram tomar o controle da rádio Dar al Salam, pertencente ao Partido Islâmico Iraquiano, e a transformaram no órgão de divulgação oficial do grupo, intitulado “Al Bayan”.

O chefe do Comitê Iraquiano de Defesa dos Direitos dos Jornalistas, Ibrahim Serayi, alertou ainda que a cidade de Mossul se transformou em “uma das mais perigosas do Iraque e do mundo para os jornalistas”.

Um novo vídeo

Em mais um vídeo divulgado na manhã desta segunda-feira (27/10), desta vez vestido com uma camisa preta, o jornalista britânico John Cantlie, sequestrado pelo Estado Islâmico (EI) desde 2012, reapareceu. O profissional de imprensa diz estar no enclave curdo sírio de Kobane e interpreta um repórter que apresenta a visão dos extremistas sobre a batalha pelo controle da cidade.

Na exibição das imagens é nítido barulho de disparos os quais John Cantlie classifica como “ esporádicos”. Segundo o jornalista quase não há confrontos na região porque “não existe nem milicianos das Unidades de Proteção do Povo Curdo, nem peshmergas, mas somente mujahedins” do EI. Cantle diz que está no “no coração da chamada zona de segurança do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, que agora está sob o controle do EI”. Ele indica que é possível ver a Turquia ao fundo da imagem, já que Kobane fica na fronteira entre os territórios sírio e turco.

O grupo radical faz críticas à maneira como a imprensa do ocidente informa a respeito do que acontece na cidade,já que não há jornalistas correspondentes no local e, além disso as únicas fontes são os curdos e autoridades americanas.

John Cantlie tem 43 anos e trabalhou para o The Sunday Times, o Sunday Telegraph, além da Agência France-Presse, e outros veículos de comunicação. O jornalista foi sequestrado pelo EI em novembro de 2012 junto com seu colega americano James Foley, que foi decapitado pelos jihadistas.

 

* com colaboração de agências internacionais.