Cine ABI mostra sistema de saúde cubano


15/06/2009


        Jesus Chediak e Gail Reed

O projeto Cine ABI, juntamente com a ONG norte-americana Medical Education Cooperation with Cuba (Medicc) e a Associação Nacional de Cubanos Residentes no Brasil (Ancreb) promoveram a exibição do documentário “¡Salud!”, um retrato do sistema público de saúde cubano, considerado um dos mais eficazes do mundo.

A exibição aconteceu no Auditório Oscar Guanabarino, 9º andar do edifício-sede da Associação Brasileira de Imprensa. O documentário deu início à mostra de filmes cubanos que fica em cartaz no Cine ABI até dia 9 de julho. A iniciativa, segundo Jesus Chediak, Diretor de Cultura e Lazer da Casa, é uma forma de registrar os 50 anos da Revolução Cubana.

Presente à sessão, Gail Reed, co-produtora de “¡Salud!” e Diretora internacional da ONG Medicc, contou que o filme surgiu a partir da experiência de 25 anos trabalhando como jornalista em Cuba. A idéia inicial era escrever um livro retratando a área de saúde pública no País:
— Mas a pessoa que ia financiar o projeto argumentou que os jovens de hoje não lêem, então decidimos fazer um documentário — disse Reed. 

Lição

Gail diz que não é uma especialista no assunto, mas que conhece a realidade da saúde pública cubana como jornalista e paciente. Segundo ela, a principal lição dada pelo Governo de Fidel Castro é a vontade política de assegurar um serviço de qualidade aos cubanos:
— Em Cuba, percebi que os profissionais são grandes lutadores pela saúde, e não apenas trabalhadores. Mesmo sendo um País pobre, por meio do empenho político consegue obter grande êxito na área da setor, se destacando mundialmente.

Traçando um paralelo com a realidade nos Estados Unidos, Gail Reed afirma que, diferentemente dos cidadãos norte-americanos, o povo de Cuba tem o serviço de saúde realmente como um direito:
— Já nos EUA, que é um dos Países mais ricos do mundo, isso não acontece. Lá, há 50 milhões de pessoas sem acesso ao sistema público de saúde, evidenciando que o problema não é a falta de dinheiro, mas sim disposição política. 

 Juan Carlos Haxach

Prevenção

Também presente à exibição, o médico cubano radicado no Brasil Juan Carlos Haxach destacou o “Médico de família”, como importante iniciativa que coloca Cuba em um patamar de excelência mundial. Ele é assessor e coordenador de projetos da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), criada em 1987 pelo sociólogo brasileiro Hebert de Souza:
— Esse serviço é voltado principalmente para populações de baixa renda, que são muito vulneráveis a diversas doenças. O médico se instala nessas comunidades para conhecer de perto seus integrantes e as mazelas a que estão submetidos, focando suas ações na prevenção.

A atuação preventiva, segundo o Dr. Juan Carlos contribui para que Cuba tenha um sistema de saúde eficaz gastando pouco dinheiro. Como exemplo, o médico cita a dengue, que já foi epidêmica em alguns Estados do Brasil:
— Essa enfermidade é presente em Cuba, mas é completamente controlada por meio das ações de prevenção, que reduzem os gastos com medicamentos e tratamento de pessoas infectadas. O mesmo acontece com o sarampo e o paludismo, entre outras doenças.

Para o médico, o Brasil, por meio do Sistema Público de Saúde (SUS), tem condições de implantar conceitos que deram certo em Cuba, como o projeto “Médico de família”:
— Claro que o processo tem que ser adaptado às especificidades de cada região, mas a idéia é a mesma: investir em ações de prevenção. Aqui, a iniciativa tem sido implementada com sucesso em lugares como o município fluminense de Niterói e em algumas regiões de Recife, sob o nome de Programa de Saúde da Família.

Bloqueio

O sucesso de Cuba no que diz respeito ao sistema público de saúde contrasta com o embargo econômico imposto pelos EUA em 1962, que, segundo Gail Reed, prejudica a aquisição de equipamentos e medicamentos de empresas internacionais por parte do Governo de Havana:
— De acordo com as leis americanas, as empresas da área médica têm que pedir permissão ao Estado para comercializar com Cuba. Certa vez, conversei com um empresário americano da Kodak que estava interessado em vender chapas de filmes para mamografia. Quando ele chegou a Cuba, percebeu que a demanda era imensa e que poderia baixar o preço, mas, para isso, teria que pedir nova permissão, o que pode levar tempo.

Além desse, outro problema resultante do bloqueio apontado por Gail Reed, que também é editora executiva da revista Medicc Review, é a dificuldade de intercâmbio entre os profissionais de saúde dos dois países:
— Os médicos ou cientistas cubanos não podem publicar artigos em revistas médicas norte-americanas, dificultando a divulgação no mundo inteiro das importantes ações implementadas por Cuba no campo da saúde pública. Foi por isso que criamos a revista Meddic Review, que pretende abrir espaço para esses profissionais nos EUA.