Bom humor que circula em painéis


15/04/2008


José Reinaldo Marques
25/11/2005

Jornalistas ou não, as pessoas que freqüentam as sedes da Associação Brasileira de Imprensa e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, no Centro do Rio, dificilmente ainda não leram, pelo menos uma vez, o Jornal Mural de Arthur Cantalice.

O jornalista afirma que um dos segredos de seu público é que ele sempre procurou fazer do seu jornal mural um veículo bem-humorado, mas ao mesmo tempo combativo:
— O Jornal Mural tem como principal característica ser um veículo eminentemente de caráter político, feito com bom humor.

Na verdade, o jornal é um grande painel informativo, editado com recortes do noticiário político e charges dos jornais do Rio e de outras cidades brasileiras. Cantalice também usa como recurso de ilustração fotografias de mulheres bonitas que têm projeção no meio artístico e cultural para, com balões iguais aos das histórias em quadrinhos, veicular suas opiniões.

Criador e editor do veículo, Arthur Cantalice faz o Jornal Mural uma vez por semana, alternando sua exposição entre a ABI e o Sindicato — entram ainda no informe eventos realizados nas duas entidades e na Associação dos Repórteres-Fotográficos e Cinematográficos do Rio de Janeiro (Arfoc). No alto, sempre o lema: “Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”, frase cunhada por Millôr Fernandes.
— Além de ser admirado pelos colegas, o Jornal Mural é conhecido por estudantes de Jornalismo, o que me envaidece. Dia desses, por exemplo, fui procurado por um aluno da Facha (Faculdades Integradas Hélio Alonso), que levou um exemplar para exibir numa exposição da faculdade.

Colunista do Correio da Lavoura, que circula na Baixada Fluminense, Cantalice, quase 80 anos, diz que a idéia de fazer o Jornal Mural não surgiu repentinamente — foi fruto de uma projeção da vocação jornalística que o acompanha desde pequeno:
— Tenho 56 anos de atividade jornalística, os primeiros dez como amador. Era funcionário concursado da Administração do Porto do Rio de Janeiro e, na sede da União dos Portuários do Brasil, aproveitava os quatro quadros de aviso para fazer jornais murais, um para divulgar os informes da própria entidade; os outros para exibir o noticiário esportivo e político do Brasil e do mundo.

Patrono

Já jornalista profissional, Cantalice montou em 63 o jornal mural O estropo — nome que, na linguagem dos portuários, designava o mecanismo utilizado para içar sacas de produtos dos porões dos navios cargueiros. O entusiasmo com o trabalho aumentou quando ele descobriu A Sentinela da Liberdade, também feito à mão pelo jornalista Cipriano Barata na Bahia do século XVIII:
— Li sua história no livro “A história da imprensa no Brasil”, do Nelson Werneck Sodré, e o Cipriano passou a ser o patrono do meu jornal, que nada mais é do que um informal e artesanal exercício de informação e crítica. Um jornal mural não deve ter muito texto nem textos grandes. Excepcionalmente, colo a minha coluna depois de ser publicada no Correio da Lavoura. Normalmente, o leitor desse tipo de veículo lê enquanto espera o elevador.

Editado desde 1994, o Jornal Mural está a seis edições de chegar ao número 500, que, se tiver condições financeiras, Cantalice pretende comemorar comme il faut:
— Festejei a 100ª edição, a 200ª e a 300ª. Quando cheguei à 400ª, eu estava duro e não houve o coquetel, que geralmente é caprichado. Já tivemos até apresentação de um cantor com cachê pago.

Mas não é falta de festa e sim de organização que Cantalice lamenta:
— Cometi alguns erros, pois sou muito desorganizado. Não guardei o número 1, que exibi pela primeira vez lá no porto, nem os primeiros jornais que trouxe para a ABI.