Aplausos, e não apupos


10/02/2009


Colaboração de Bernardino Capell Ferreira, sócio da ABI, é jornalista, administrador e escritor.

EM>Algum tempo antes, diziam que tínhamos saldo positivo, reservas em dólares no Tesouro, estabilidade financeira, reconhecimento de potências do Primiro Mundo, créditos internacionais em aberto, controle inflacionário que nos aproximava dos 7,5 do PIB! 

Que maravilha! A primeira visão de um quadro que normalmente distinguiria como condições excepcionais qualquer país que o possuísse. Em tese, face aos estudos econômico-financeiros de bem pouco tempo, o Brasil retratava esse quadro, tanto é que o Governo, ao perder a arrecadação de R$ 40 bilhões de reais da CPMF, nos pareceu, na época, fazer pouco caso dessa derrota, que lhe foi infligida sem qualquer contemplação pela oposição no Congresso. 

As possíveis condições desse equilíbrio, gerado em suas mais profundas razões por motivações ou acidentes econômico-financeiros internacionais, que nem o Fórum de Davos, na Suíça, conseguiu diagnosticar, não deveriam ser suficientes para que um otimismo inconseqüente nos levasse a tecer loas ao Governo mesmo porque o manto dessa momentânea prosperidade não daria para cobrir investimentos garantidores de retornos compensadores nas obras do PAC nas áreas do transporte, energia, trabalho, saúde, educação e segurança. Por outro lado, nos pesam os valores orçamentários para cobrir despesas do nosso Poder Executivo, composto de ministérios e secretarias e, mais ainda, órgãos com status de ministérios, somando 37, cada um com sua área especifica. 

Na presente conjuntura, torna-se fácil acompanhar os fatos que se desenrolam no mundo, tal a velocidade com que os mesmos são transmitidos pelos meios eletrônicos, cada vez mais sofisticados, o que vai desvalorizando o trabalho dos jornalistas em criar imagens pela elaboração de suas matérias redacionais, as quais se obrigam a ter uma rápida publicação, nem sempre possível; daí não produzirem, quando levadas aos leitores, o impacto desejável. 

O momento que atravessamos, se não gravíssimo, nos traz grandes preocupações. Davos, pelo que soubemos, não logrou defender um mundo globalizado, nem apontar os verdadeiros culpados pela crise e o Fórum Social de Belém concluiu que “os ricos terão que pagar pela crise”. 

Em termos Brasil, se olhado para dentro é claro que consideramos grandes possibilidades de atravessarmos essa crise que as instituições responsáveis pelo sistema econômico internacional (FMI, Banco Mundial, OMC) não crêem possa ser debelada em pouco tempo. Está na hora de usarmos, ao que acreditamos, um tour de force composto por todos os setores responsáveis pela administração do sistema econômico-financeiro do País. 

Trata-se, evidentemente, da participação empresarial nas ações governamentais, assunto debatido na Eco 92, aqui no Rio de Janeiro, mas jamais deslanchado na medida que esperávamos. 

Só após algum tempo surgiu a possibilidade de que as empresas viessem a ser aglutinadas em torno e em favor dos projetos governamentais, como parceiras desses investimentos nas obras que exigiriam grandes capitais. Até o presente momento não creio ter havido boa aceitação por parte das PPPs (Parcerias Público Privadas). 

Evidentemente teria o Estado de dar aos empresários e industriais que poderiam vir a se interessar pelo assunto algum favor ou atrativo e o melhor deles seria, a nosso ver, a redução tributária. O assunto é polêmico, mesmo porque as indústrias-empresas, ao sediarem-se nesta vastidão territorial Brasil, teriam que ter amplas e vitais informações que lhes afirmassem o que poderia advir de suas participações (matéria-prima, mão-de-obra, água, eletricidade, transporte e mercado) em torno de lucros futuros. 

Tais informações não nos parecem existir de forma convincente, porém um novo Projeto Rondon, em termos de levantamento das nossas riquezas, poderia, se o Estado o quisesse, ser estruturado, com a participação de técnicos e estudantes habilitados de todos os Estados da Federação. 

A verdade é que temos de tirar das pranchetas (se é que ali estão!) os projetos que poderão salvaguardar a nossa segurança. Que os industriais e empresários brasileiros norteiem seus planos no sentido de participar da evolução do Brasil, ajudando-o a crescer. 

Que os brasileiros acreditem que possuem como pátria o melhor e o mais belo pais do mundo. 

Que os políticos congressistas se revistam de uma personalidade impar no trato dos assuntos nacionais, para merecer, então, os aplausos do povo que ali os colocou como seus representantes, e não os seus apupos.