América, o vingador


18/07/2008


Aproximava-se o mês de julho de 1951 e era natural que o primeiro aniversário da maior conquista da história do futebol uruguaio fosse comemorado com toda a pompa.

Desde o começo do mês a imprensa uruguaia destinava amplos espaços às notícias referentes aos festejos da comemoração do aniversário daquele inesquecível título. Conquista conseguida no campo do adversário, fazendo calar perto de 200 mil torcedores brasileiros, em pleno Maracanã. Vitória de virada diante da seleção brasileira favorita e jogando pelo empate. O 16 de julho de 1950 era agora uma data nacional.

Ghiggia festeja gol na Copa de 50, no Maracanã

No dia 14 de julho de 1951, iniciando as festividades, houve um grande baile, organizado pela Associação Futebolística de Montevidéu, com a presença do Presidente da República, de altas autoridades e da maioria dos campeões mundiais.

No dia 16 de julho, uma segunda-feira, os jornais publicaram edições especiais comemorativas à grande data. As ruas amanheceram embandeiradas e as efígies dos jogadores campeões eram vendidas a dez centavos aos entusiasmados torcedores. As emissoras de rádio retransmitiam as gravações da partida do Maracanã.

No dia seguinte, o jornal El Día recepcionou os campeões, inaugurando uma placa comemorativa na Associação Uruguaia de Futebol. Era enorme a afluência de pessoas ao cinema Victory, que desde o dia anterior reprisava o filme “Nascidos para campeões”, cujo protagonista era Ghiggia, autor do gol da vitória de 2 a 1.

Para o dia 18 de julho, feriado nacional, estava programado o lançamento da pedra fundamental do monumento aos campeões que teria lugar em frente ao Estádio Centenário. Antes, se realizaria uma partida amistosa de futebol, entre o Peñarol, com nove campeões do mundo, e uma equipe brasileira especialmente convidada para a festa. O representante do Brasil e ilustre convidado foi o América Futebol Clube, vice-campeão carioca de 50, dirigido por Délio Neves. 

Vitória certa

A vitória era tida e havida como certa pela crônica esportiva uruguaia. Assim, o triunfo contribuiria para o maior brilhantismo da solenidade programada para depois do jogo. Obdúlio Varela, o grande capitão, Ghiggia e os outros homenageados iriam após a partida assistir à própria glorificação.

Começa o jogo e logo nos primeiros minutos os anfitriões e o público sentem que os convidados também tinham preparado o seu baile. Obdúlio não pegava na bola. Ghiggia, o herói do Maracanã, não passava por Ivan. O ritmo em campo era ditado pelos comandados de Délio Neves. O goleiro Osni relembra alguns momentos da memorável vitória:

O estádio estava lotado e eles não acreditavam no time do América. Nosso toque de bola, no entanto, era espetacular. Fizemos o primeiro gol por intermédio de Nivaldino. Vencemos por 3 a 1 e o gol deles foi marcado por Miguez, de pênalti. Os torcedores, devido à rapidez do nosso toque de bola, começaram a aplaudir o América. Essa grande vitória foi contra o Peñarol, que tinha nove jogadores da seleção campeã do mundo.”

A festa do primeiro aniversário da conquista do mundial de 1950 não teve o sabor que os uruguaios imaginavam. Naquele 18 de julho de 1951, no Estádio Centenário, cada torcedor brasileiro sentiu um gostinho de vingança.

O América venceu com Joel, Osni, Osmar, Rubens, Osvaldinho e Ivan; Walter, Maneco, Dimas, Ranulfo e Nivaldino. Os gols foram de Nivaldino, Ivan (pênalti) e Maneco; Miguez de pênalti marcou para os uruguaios.