“Amarildo, nem vivo nem morto: Desaparecido”


03/08/2013


Elizabeth Gomes (à direita), mulher de Amarildo, em protesto na Rocinha (Foto: Alcyr Cavalcanti)

Elizabeth Gomes (à direita), mulher de Amarildo, em protesto na Rocinha

“O auxiliar de pedreiro Amarildo de Souza Lima é mais um número de uma triste estatística de mais de 35 mil pessoas desaparecidas nos últimos seis anos no Rio de Janeiro. O número impressiona e tem colocado em xeque a propalada eficiência das Unidades de Policia Pacificadora-UPPs, que ao contrário da intensa publicidade dos marqueteiros de plantão vem trazer à tona uma política de segurança que como resultado veio trazer mais medo e insegurança a mais de dois milhões de despossuídos, que residem nas centenas de favelas cariocas.

O caso Amarildo veio em seguida a mais uma das invasões que teriam como resultado trazer a paz. A invasão da Rocinha, favela promovida a bairro por decreto tinha o nome sugestivo de Operação Paz Armada efetuada poucos dias antes da chegada do Sumo Pontífice ao Brasil.

Amarildo dia 14 de julho, um domingo havia saído para seu lazer preferido, pescar no costão da Avenida Niemeyer, que além de gratuito ainda garantiria o almoço da família. Ao voltar para casa foi preso por policias militares e conduzido à sede da UPP da Rocinha na área denominada Portão Vermelho. Sua entrada foi gravada pelas câmeras instaladas, sua saída, no entanto não foi registrada, as câmeras estariam sem funcionar. Foi a última vez que o auxiliar de pedreiro foi visto, depois disso desapareceu, ninguém sabe, ninguém viu, a lei do silêncio prevalece.

Amarildo morava com a mulher Elisabeth Gomes e seis filhos na Rua Dois, um dos 18 sub-bairros da Rocinha, favela promovida a bairro por decreto na década de oitenta. A rua ficou famosa na época por ser o maior ponto de venda de drogas da cidade do Rio de Janeiro.

No final de 1988 a localidade foi invadida pela PM, e no mesmo local onde os narcotraficantes faziam seu QG, um fliperama foi instalado um posto policial, após serem eliminados todos os “chefes do trafico” em uma série de confrontos, segundo a versão oficial.

Muitos anos se passaram e o tráfico continua pujante, embora sem o brilho de outrora. Segundo afirmação de policiais que participaram da recente invasão de julho ainda havia mais de uma centena de pontos de venda de drogas a varejo, o que é surpreendente, a Rocinha tem uma UPP desde o ano passado, que contaria com pelo menos 800 policias em seu efetivo.

A Rua Dois seria um dos pontos fortes de venda, embora o narcotráfico use a tática de pontos móveis, daí o nome de “movimento”, os pontos estão sempre em constante mudança. Uma das versões entre as várias hipóteses possíveis é que Amarildo era um arquivo precioso, viu muita coisa que não deveria ter visto. Teria sido uma “queima de arquivo” e seu corpo levado por uma usina de lixo no Caju.

Sua família segundo declarações de sua esposa tinha sofrido varias ameaças por parte de policias da UPP, mesmo antes do desaparecimento. O inquérito estava sendo conduzido pelo delegado Orlando Zaccone da 15ª DP na Gávea e passou para o delegado Rivaldo Barbosa da Divisão de Homicídios.

Os moradores da Rocinha estão revoltados, tem feito vários protestos exigindo solução para o caso. A maior parte culpa os policiais da Unidade Pacificadora que em vez de trazer a paz tem trazido medo e insegurança para a imensa população da “maior favela da América do Sul”.

Sua esposa Elisabeth não aceitou ser incluída no Programa de Proteção a Testemunhas oferecida pelo governador Sergio Cabral em um encontro no palácio com Elisabeth. Ela se recusa a sair do morro, teme ser executada, e diz que prefere ter a proteção dos moradores da comunidade.

Quinta feira dia 01/08 Elisabeth foi ao encontro do procurador geral de justiça Marfan Vieira pedindo ajuda para o esclarecimento do caso. No final da tarde o morro desceu e interditou as duas pistas de saída do Túnel Zuzu Angel principal ligação entre a Zona Sul e a Barra da Tijuca. O engarrafamento se estendeu até Ipanema dando um nó no trânsito.

A maioria dos moradores não acredita que Amarildo esteja vivo, sua família teme represálias, mas continuará a protestar até que seu corpo seja encontrado. Entre as pessoas que protestavam estavam mães que tiveram seus filhos executados por policias. Deise de Carvalho do Conselho de Direitos Humanos Estadual afirmou que seu filho André Luiz foi morto por agentes do DEGASE depois de sofrer espancamento.

O ato terminou com a presença de Elisabeth e seus filhos, preces foram feitas, velas foram acesas e ao final os manifestantes gritavam frases como: “O povo quer justiça, mas quem manda é a policia” e “Queremos saber, onde está Amarildo”?”

*Texto e Fotos de Alcyr Cavalcanti