Adeus a Gutemberg Monteiro


12/12/2012


Um dos maiores desenhistas brasileiros, com mais de 60 anos de aplaudida carreira no Brasil e no exterior, Gutemberg Monteiro, o Gut, morreu aos 96 anos, nesta segunda-feira, dia 10, às 13h30, em decorrência de uma isquemia cerebral. O corpo foi enterrado em Saquarema, na Região dos Lagos. A missa de 7º dia será celebrada na próxima segunda-feira, dia 17, na Igreja do Amparo, em Cascadura, Zona Norte do Rio.
De acordo com Gutemberg Monteiro Filho, o quadro de saúde do ilustrador se agravou na última sexta-feira, dia 7.
—Ele começou a passar mal e tivemos de levá-lo para a UPA de Madureira. Como não havia atendimento de emergência nem vaga nos hospitais públicos, o médico, que sugeriu que o levássemos para casa, recomendou uma medicação e repouso absoluto. O diagnóstico foi isquemia cerebral. Como moro em Saquarema, levei meu pai para a minha casa.
 
A família seguiu o tratamento indicado, mas o estado de saúde de Gut se complicou pouco tempo depois.
—Meu pai estava se alimentando com dificuldade, mas começou a reagir. Fiquei feliz em vê-lo se recuperando aos poucos, apesar de estar debilitado. Então ocorreu outro episódio de isquemia e ele já não conseguia se comunicar. Vi tristeza nos olhos dele. Tentamos reanimá-lo, mas não foi suficiente. Ele costumava dizer que gostaria de terminar os seus dias em Saquarema, cidade da qual ele gostava muito.
 
Outro desejo de Gut era retornar aos Estados Unidos, onde atuou profissionalmente ao longo de quatro décadas desenhando personagens lendários como Tom e Jerry, Batman, Fantasma, Capitão América.
—A viagem estava marcada para maio, mas como minha mãe foi submetida a uma cirurgia na vesícula, a ida foi adiada para o mês de novembro. A chegada da tempestade Sandy interrompeu os planos de meu pai mais uma vez. A situação ficou séria na região do Brooklin, onde fica a casa de meu irmão, que nos receberia. Para se ter uma ideia, a energia elétrica no local só foi restabelecida há pouco tempo, disse Gutemberg Filho.
 
Além de voltar aos Estados Unidos, Gut pretendia publicar a sua autobiografia.
—Darei continuidade ao sonho de meu pai. Ele queria que o livro fosse ricamente ilustrado com o seu trabalho. Vou pedir ajuda aos amigos e a todos aqueles que reconhecem o talento dele para editar “O Chute do Gut”, um legado que jamais terá fim.
 
Um dos mais antigos associados da ABI, Gutemberg Monteiro estabeleceu forte ligação com a Casa ao longo de sua trajetória. No dia 6 de junho último, o artista foi homenageado com uma exposição de seus trabalhos na sede da entidade. Prestigiaram o evento familiares, amigos e colegas de profissão, como os desenhistas Benício, Nilton Ramalho, José Menezes e Walmir Amaral, e o fotógrafo Iarle Goulart.
 
—Deus fez de mim tudo o que ele quis, eu é que acho que não fui suficientemente inteligente para ir além do ponto que eu cheguei. Mas me dei muito bem e me sinto realizado profissionalmente e artisticamente. É maravilhoso! Eu não esperava que isso acontecesse na minha vida, disse Gut ao final do evento.
 
Os mais de 60 anos de carreira e as experiências de vida também foram retratados em uma entrevista concedida pelo artista ao Jornal da ABI, edição de número 379, de junho de 2012.