Violência marca protestos em pelo menos 10 cidades


21/06/2013


Maior parte das manifestações foi pacífica. Na foto, manifestantes caminham pela Avenida Presidente Vargas. (Crédito: Alcyr Cavalcanti)

Maior parte dos protestos foi pacífica. Na foto, manifestantes caminham pela Avenida Presidente Vargas. (Crédito:
Alcyr Cavalcanti)

Conflitos entre manifestantes e forças policiais marcaram os protestos em pelo menos 10 cidades, nesta quinta-feira, 20 de junho. A violência deixou duas vítimas: a gari Cleonice Vieira de Moraes, de 54 anos, morreu em Belém após ter inalado gás lacrimogêneo lançado pela polícia contra manifestantes; e o estudante Marcos Delefrate, de 18 anos, foi atropelado por um veículo que tentou furar um bloqueio na avenida João Fiusa, em Ribeirão Preto. A estimativa é que ao todo 1 milhão de pessoas tenha ido às ruas em 80 cidades, a maioria em atos pacíficos.

A maior concentração de manifestantes aconteceu no Rio de Janeiro, onde cerca de 300 mil pessoas tomaram a Avenida Presidente Vargas de ponta a ponta. O número foi superior ao de outras cidades, como São Paulo (110 mil), Recife (50 mil), Brasília (25 mil), Salvador (20 mil), Cuiabá (20 mil), Aracaju (20 mil), Belo Horizonte (15 mil) e Porto Alegre (15 mil).

Em todo o País foram registrados centenas de feridos. No Rio de Janeiro, 62 pessoas feridas ou intoxicadas deram entrada em hospitais e pelo menos sete foram detidas. Três pessoas permanecem internadas no Hospital Souza Aguiar, nenhuma em estado grave.

Em Manaus, um adolescente de 16 anos, identificado como Joseias Santos, desentendeu-se com outro grupo de adolescentes e foi esfaqueado no ombro por um outro jovem. Ele foi levado para o Serviço de Pronto Atendimento (SPA), e não corre risco de morte.

Em Campinas alguns manifestantes passaram mal por conta do spray de pimenta lançado pelos militares, que também jogaram bombas de gás lacrimogêneo.

Dois homens foram baleados durante os protestos realizados na quinta-feira (20), em Salvador, segundo informações da Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab). Segundo a Sesab, os dois feridos foram alvejados por projéteis disparados de arma de fogo e deram entrada no Hospital Geral do Estado (HGE). A identidade e a idade deles não foram informadas. Em coletiva realizada na manhã desta sexta-feira (21), o Governo do Estado infomou que dois PMs foram feridos durante a manifestação.

A manifestação desta quinta-feira (20) em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, resultou em três prisões e 127 pessoas atendidas pelos bombeiros e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). O balanço foi divulgado às 23h30 pela cúpula da Polícia Militar e a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.

Rio de Janeiro

Com o número de pessoas nas ruas, a cidade do Rio de Janeiro registrou a maior parte das agressões. Após o confronto entre a Tropa de Choque da Polícia Militar e manifestantes que tentavam invadir o prédio da prefeitura, os conflitos se alastraram para outras áreas do Centro. Policiais teriam lançado bombas de gás lacrimogênio contra pessoas que estavam em bares da Lapa e da Cinelândia e contra feridos que aguardavam atendimento no Hospital Souza Aguiar. Tiros e violência contra manifestantes também foram registrados na Glória e em Laranjeiras, na Zona Sul, e na Tijuca, Zona Norte.

Cerca de 400 estudantes universitários buscaram abrigo nos prédios da Faculdade Nacional de Direito, na Praça da República, e do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, na Praça Tiradentes, ambas ligadas à Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, alegando que a polícia estava fazendo prisões arbitrárias na região do Centro. Os prédios foram cercados pela Tropa de Choque. As pessoas só começaram a sair na madrugada, acompanhadas por representantes da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB.

Em coletiva na tarde desta sexta-feira, 21 de junho, o governador Sérgio Cabral afirmou que os atos de vandalismo não devem ser tolerados. Segundo o governador, os debates são positivos desde que sejam pacíficos.

“Eu não fui eleito por unanimidade. Viva a democracia. Isso faz parte da democracia. Os atos devem ser discutidos dentro dos limites da tolerância. Mas os atos de vandalismo estão prejudicando os debates democráticos e saudáveis”, disse.

Segundo o governador, as denúncias de excessos da PM serão avaliadas. “Eu não estou aqui protegendo a polícia, mas também não vou proteger vândalo. Numa situação dessa de excesso todo mundo sai perdendo”, disse.

Mais casos de violência

As cenas de violência também se repetiram em Brasília. Após a polícia reprimir um grupo de manifestantes que tentavam invadir o Congresso Nacional, o confronto foi transferido para a sede do Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, cujas rampas de acesso foram ocupadas por um pequeno grupo. Antes de serem retirados das imediações do Itamaraty, os manifestantes quebraram várias vidraçarias e botaram fogo em alguns objetos dentro do prédio, mas as chamas foram rapidamente controladas.

Também houve violência e forte repressão policial em cidades como Salvador, Porto Alegre, Manaus, Vitória, Natal, Belém, Boa Vista, Campinas e Ribeirão Preto. Na capital gaúcha, sob chuva e com temperatura de 12ºC, manifestantes e policiais iniciaram confronto em frente à prefeitura. A polícia lançou mão de bombas de efeito moral e balas de borracha contra as pessoas, que revidaram com pedras. Apesar disso, não foram registrados feridos. Lojas da região foram saqueadas.

Em Belém, o prédio da prefeitura chegou a ser apedrejado e em Goiânia manifestantes tentaram invadir a Assembleia Legislativa.

Ataques à imprensa

Repórter Pedro Vêdova fez um relato em vídeo à GloboNews relatando o ocorrido. (Crédito: Reprodução/GloboNews)

Repórter Pedro Vêdova fez um relato em vídeo à GloboNews relatando o ocorrido. (Crédito: Reprodução/GloboNews)

Durante a cobertura dos confrontos no Rio, o repórter Pedro Vedova, da GloboNews, foi atingido por uma bala de borracha. O jornalista, que foi encaminhado para o hospital, disse que a passeata seguia tranquila até que um grupo mais exaltado chegou à Prefeitura, onde se deu o confronto.

“A gente tentou pegar um posicionamento mais distante, eu me escondi atrás de um coqueiro. Os policiais começaram a atirar e um dos tiros acertou a minha testa. No momento, eu caí atordoado, dali eu fui socorrido pela equipe de segurança, que me acompanhava, e daqui eu sigo para o hospital, onde vou ser atendido”, contou o repórter em vídeo exibido pelo canal logo após o incidente.

Ainda na noite de quinta, um carro do SBT, estacionado próximo à região da prefeitura da cidade, foi depredado e incendiado por manifestantes. De acordo com informações da emissora, equipamentos foram roubados e um jornalista ficou ferido. O SBT, contudo, não revelou o nome do profissional.

Na cidade de Natal (RN), um carro da Band também foi incendiado, mas não houve profissionais feridos. Em João Pessoa (PB), uma repórter da afiliada da TV Globo foi expulsa das manifestações e xingada por cerca de mil manifestantes.

Em Brasília, jornalistas também foram hostilizados por manifestantes e policiais. Foram poucos os repórteres de TV que conseguiram fazer entradas ao vivo e um furgão da Band foi vandalizado próximo ao prédio do Ministério das Relações Exteriores. No Comitê de Imprensa da Câmara, cujas janelas dão para a área do conflito, as luzes foram apagadas para não atrair a atenção de manifestantes.

Um jornalista da Folha de S. Paulo, Filipe Coutinho, foi empurrado por um sargento da Polícia Militar, que o impediu de se aproximar do Congresso. O repórter torceu o pé sem gravidade.

Em Porto Alegre (RS), houve conflito entre manifestantes e a Brigada Militar diante da sede do jornal Zero Hora.

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão – Abert emitiu uma nota em que manifesta extrema preocupação com o acirramento da violência durante as manifestações. O comunicado, assinado por Daniel Pimentel Slaviero, presidente da entidade, diz que ”agressões a profissionais de imprensa e atos de vandalismo com a intenção de impedir a cobertura dos fatos devem ser rechaçados por atentarem contra a liberdade de imprensa e o direito à informação”.

Outras manifestações

O grupo intitulado “Dia do Basta” organiza pelas redes sociais protestos para este sábado, dia 22, em várias cidades do país, incluindo Belo Horizonte(MG), onde nesta sexta-feira, 21, manifestantes voltaram a fechar a Praça Sete, no Centro.

Para este domingo, dia 23, o grupo convoca os internautas para um protesto contra a aprovação da PEC37, aser realizado a partir das 16h, na Praia de Copacabana, Rio de Janeiro.

Atos de apoio e vigília também estão sendo organizados para os dias 25 e 26 de junho, quando poderá ocorrer a votação da PEC 37 no Congresso.

Para a segunda-feira, 1º de julho, movimentos sociais convocam os manifestantes para uma greve geral.

*Com informações da GloboNews, G1, O Globo, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil, Portal Terra e EBC.