Landell de Moura: 150 anos de um heroi sem glória


21/01/2011


O Brasil celebra nesta sexta-feira, 21, o sesquicentenário de nascimento do padre Roberto Landell de Moura, inventor do rádio, nascido em Porto Alegre, em 21 de janeiro de 1861. Para homenagear a data, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos(ECT) lançou nesta sexta-feira, 21, um selo comemorativo aos 150 anos do cientista pioneiro nas telecomunicações, patrono dos radioamadores. 

Ele foi o primeiro do mundo a transmitir a voz humana à distância sem o uso de fios, utilizando equipamentos construídos por ele e patenteados em março de 1901, no Brasil, sob o número 3279, no qual descreveu “um aparelho destinado à transmissão fonética à distância, com fio ou sem fio, através da terra, do espaço e do elemento aquoso”.

 
As primeiras experiências de Landell de Moura foram feitas em 1892 e 1893, em Campinas e em São Paulo. Em 1899, o cientista transmitiu a voz humana a partir do Colégio das Irmãs de São José, no bairro Santana, zona norte da capital paulista. A primeira demonstração pública aconteceu em 3 de junho de 1900, na Avenida Paulista, em São Paulo, tendo sido noticiada pela imprensa.
 
O italiano Guglieno Marconi, que se notabilizou como o inventor do rádio, só realizou o feito no final de 1914. Marconi inventou o telégrafo sem fios, a transmissão de sinais em código Morse, e não o rádio.
 
O engenheiro e físico canadense Reginald Aubrey Fessenden conseguiu transmitir o som publicamente em dezembro de 1900, seis meses após o cientista brasileiro. Fessenden obteve patente de seu engenho em setembro de 1901, seis meses após a patente obtifda por Landell de Moura.
 
Mesmo tendo patenteado o invento no Brasil, Landell de Moura não obteve o reconhecimento. O jornal La Voz de Espana, editado em São Paulo, publicou matéria em 16 de dezembro de 1900, sobre o descaso das autoridades brasileiras em relação ao trabalho do cientista. O jornal norte-americano New York Herald noticiou em 12 de outubro de 1902, as experiências do brasileiro.
 
Com sacrifício, Landell de Moura seguiu para os Estados Unidos, onde obteve três cartas patentes (transmissor de ondas, telefone sem fio e telégrafo sem fio) sendo pioneiro ao projetar aparelhos para a transmissão de imagens (TV) e textos (teletipo), na utilização das ondas curtas para aumentar a distância das comunicações e no uso da luz para o envio de mensagens, o princípio das fibras ópticas.
 
Em 1905, três anos depois, o primeiro cientista brasileiro com registro internacional de invenção pioneira, retornou ao Brasil e enviou uma carta ao então Presidente da República Rodrigues Alves pedindo apoio para demonstrar as descobertas. Além de ter o pedido negado, foi apontado como louco. Um grupo de fiéis da igreja destruiu seus equipamentos e o acusou de feitiçaria.
 
Na trajetória religiosa, Landell de Moura foi Cônego do Cabido Metropolitano de Porto Alegre, elevado em 17 de setembro de 1927, pelo Vaticano, a Monsenhor, e nomeado Arcediago, seis meses antes de falecer aos 67 anos, em 30 de junho de 1928, com quadro de tuberculose, no Hospital da Beneficência Portuguesa de Porto Alegre, no mais completo anonimato científico.

O jornalista Hamilton Almeida é autor das obras “O outro lado das telecomunicações: a saga do Padre Landell”(1983); “Landell de Moura”(1984); “Pater und Wissenschaftler:Die Geschichte dês Paters Roberto Landell de Moura”(2004); “Padre Landell de Moura: um herói sem glória”(2006).

Para marcar a relevância de Landell de Moura para o Brasil e o mundo, foi criado o Movimento Landell de Moura, que reúne pessoas de diferentes áreas. As atividades do grupo são divulgadas no site www.mlm.landelldemoura.qsl.br. O objetivo é coletar 1 milhão de assinaturas para que o padre seja reconhecido pelo Governo brasileiro como o precursor das telecomunicações.
 
*Com Agência Brasil, e O Estado de S. Paulo.