Ferreira Gullar conquista o Prêmio Camões


01/06/2010


Foto: Wilton Junior/Agência Estado

O poeta brasileiro Ferreira Gullar é o vencedor da edição 2010 do Prêmio Camões, considerado o mais importante da literatura lusófona. O anúncio foi feito nesta segunda-feira, dia 31, no hotel Tivoli, em Lisboa, pela Ministra da Cultura de Portugal, Gabriela Canavilhas. 

— Ferreira Gular é um grande nome da lusofonia, sublinhou a Ministra.

Associado da ABI desde 1983, reeleito para o Conselho Consultivo da Associação em 30 de abril último, Ferreira Gullar tem a carreira marcada pela luta pela liberdade de expressão e pela democracia.

O júri da 22ª edição do Prêmio Camões foi formado por Helena Buescu, professora da Universidade de Lisboa; José Carlos Seabra Pereira, professor da Universidade de Coimbra; Inocência Mata, escritora de São Tomé e Príncipe; Luís Carlos Patraquim, poeta moçambicano; e, representando o Brasil, Antonio Carlos Secchin, escritor e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e a escritora Edla van Steen.

Após duas horas de reunião, o grupo deliberou por maioria e ressaltou na ata “a alta relevância estética da obra de Ferreira Gular, em especial a poesia, incorporando com maestria tanto a nota pessoal do lirismo quanto a defesa de valores éticos universais”.

Segundo Edla Van Steen, a idade do poeta — que completa 80 anos em setembro próximo — pesou na decisão:
—Foram colocados na mesa vários nomes e, no momento da escolha final, falamos da imensa obra do Ferreira Gullar, que está com 80 anos e que esse prêmio é o coroamento do trabalho do escritor. E todos os outros candidatos ainda têm mais tempo para aumentar a obra.

O poeta brasileiro vai receber a quantia de € 100 mil, sendo a metade do valor pago pelo Governo brasileiro e quantia idêntica por Portugal.

O nome de Ferreira Gullar inscreve-se ao lado de grandes escritores brasileiros agraciados com o Prêmio Camões como João Ubaldo Ribeiro(2008), Lygia Fagundes Telles(2005), Rubem Fonseca(2003), Autran Dourado(2000), Antonio Cândido(1998), Jorge Amado(1994), Rachel de Queiroz(1993) e João Cabral de Melo Neto(1990).

Em 2009, o vencedor da premiação foi o escritor Armênio Vieira, de Cabo Verde.

Biografia

José Ribamar Ferreira nasceu na capital do Maranhão, filho de Newton Ferreira e Alzira Ribeiro Goulart.

Durante a adolescência, descobriu a poesia clássica, as obras de Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, entre outros escritores.

Seu primeiro livro, “Um pouco acima do chão” foi escrito em 1949. Um ano depois, com o poema “O galo”, venceu o concurso promovido pelo Jornal de Letras, tendo no júri Manuel Bandeira, Willy Lewin e Odylo Costa Filho.

Em 1951, Ferreira Gullar se mudou para o Rio de Janeiro, onde conheceu o crítico de arte Mário Pedrosa e o escritor Oswald de Andrade, e trabalhou como revisor na revista O Cruzeiro.

Em 1954, publicou “A luta corporal”, cujo projeto gráfico chamou a atenção de Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari. Nesta época, trabalhou na revista Manchete, no Diário Carioca e para o “Suplemento Dominical” do Jornal do Brasil.

Em 1956 participou da I Exposição Nacional de Arte Concreta no MASP. Em 1958, lançou o livro “Poemas”.

Um ano depois, redigiu o “Manifesto Neoconcreto”, publicado no “Suplemento Dominical” — também assinado por Lygia Pape, Franz Waissman, Lygia Clark, Amilcar de Castro, Reynaldo Jardim, entre outros — destaque do catálogo da I Exposição de Arte Neoconcreta, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM).

Em 1961, Gullar assumiu a direção da Fundação Cultural de Brasília, no Governo Jânio Quadros, e construiu o Museu de Arte Popular.

A partir de 1962, passou a integrar o Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes, e trabalhou na sucursal carioca de O Estado de S. Paulo. Nesse ano, publicou “João Boa-Morte, cabra marcado para morrer” e “Quem matou Aparecida”.

Em 1963, foi eleito para o cargo de Presidente do CPC. No ano seguinte, em abril, filiou-se ao Partido Comunista, e fundou o Grupo Opinião, juntamente com Oduvaldo Vianna Filho, Paulo Pontes, entre outros.

Em 1966, conquistou os prêmios Molière e Saci com a peça “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, escrita em parceria com Oduvaldo Viana Filho. No ano seguinte, o grupo Opinião encenou, também no Rio, a peça “A saída? Onde está a saída?”, escrita em parceria com Antônio Carlos Fontoura e Armando Costa.

Durante o governo militar, em 13 de dezembro de 1968, Ferreira Gullar foi preso em companhia de Paulo Francis, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Em 1969, lançou o ensaio “Vanguarda e subdesenvolvimento”, e passou a se dedicar à pintura.
Em 1971, seguiu para o exílio na Rússia, e depois no Chile, Peru e Argentina.

Durante esse período, colaborou com O Pasquim sob o pseudônimo Frederico Marques. Em 1975, publicou “Dentro da noite veloz” e escreveu, em Buenos Aires, o famoso “Poema sujo”, que chegou ao Brasil gravado em uma fita, trazida por Vinicius de Moraes, publicado no ano seguinte pela editora Civilização Brasileira. O lançamento do livro no Rio de Janeiro transformou-se em um ato pelo retorno de Gullar ao País, o que aconteceu em 10 de março de 1977.

Nesse ano lançou “Antologia Poética” e “La Lucha Corporal y Otros Incêndios”, publicado em Caracas, Venezuela. Em 1978, gravou o disco “Antologia Poética de Ferreira Gullar” e levou aos palcos a peça teatral “Um rubi no umbigo”.

Em 1980 publicou os livros “Na Vertigem do Dia”, “Toda poesia”. e lançou “Sobre Arte”, uma coletânea de artigos publicados na revista Módulo, entre 1975 e 1980.

Em 1985, Gullar recebeu o Molière por sua versão para “Cyrano de Bergerac”, de Edmond Rostand. Dois anos depois, lançou o livro de poemas “Barulhos”. Em 1989, publicou ensaios sobre cultura brasileira em “Indagações de Hoje”. Entre 1992 e 1995, dirigiu o Instituto Brasileiro de Arte e Cultura.

Em 1993, criticou as vanguardas no livro “Argumentação Contra a Morte da Arte”, criando polêmica entre artistas plásticos. No ano seguinte, morreu sua mulher, Thereza Aragão, produtora e pesquisadora de música popular brasileira, com quem teve três filhos.

Em 1997, lançou “Cidades inventadas” e passou a viver com a poeta Cláudia Ahimsa. Em 1998 é publicado “Rabo de Foguete – Os Anos de Exílio”. No ano seguinte, Gular lançou “Muitas vozes” e foi agraciado com o Prêmio Jabuti, na categoria poesia. Em 2000, recebeu o Prêmio Multicultural Estadão, de O Estado de São Paulo, pelo conjunto de sua obra.

Em 2005, recebeu o Prêmio Machado de Assis, maior honraria da Academia Brasileira de Letras, e em 2007, o Prêmio Jabuti na categoria “ficção” pelo livro “Resmungos”.