Ícone da arquitetura moderna em cartaz na ABI


06/05/2008


O Cineclube da Casa da América Latina, com o apoio da Associação Brasileira de Imprensa, realizou na noite desta segunda-feira, dia 5, a exibição do documentário “Lembranças do futuro”, de Ana Maria Magalhães, no Auditório Oscar Guanabarino, no 9º andar do edifício-sede da ABI. De acordo com Mário Augusto Jakobskind, Conselheiro da ABI e Diretor da Casa da América Latina, o evento celebra a parceria entre as entidades na promoção de atividades audiovisuais que prestigiam os países latino-americanos.

Para o advogado João Luis Pinaud, também Diretor da Casa da América Latina e ex-Secretário de Segurança e Direitos Humanos do Rio de Janeiro, a participação da ABI neste processo é fundamental, em razão da tradição histórica da instituição em defesa da liberdade:
— A vanguarda histórica da ABI na luta contra a opressão reforça o objetivo da Casa da América Latina de estabelecer a aproximação dos povos e ampliar a discussão dos problemas da região.

 Affonso Eduardo Reidy

Expoente

Dirigido por Ana Maria Magalhães, com fotografia do arquiteto Mário Carneiro, “Lembranças do futuro” — produzido em 2005 e vencedor do Prêmio Urbanidade, do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), naquele ano — retrata a vida e a obra do arquiteto e urbanista francês naturalizado brasileiro Affonso Eduardo Reidy (1909-1964), expoente de uma geração que, influenciada por Le Corbusier, vislumbrava na arquitetura a perspectiva de construção de uma nova ordem para o mundo urbano.

Alguns dos prédios mais imponentes do Rio de Janeiro — como o Museu de Arte Moderna — e o planejamento urbano do Parque e Aterro do Flamengo foram desenhados por Reidy, vencedor da Bienal Internacional de 1953 com o conjunto habitacional do Pedregulho, em São Cristóvão, pela harmonia na relação estrutural de função e forma. Contudo, o arquiteto não ganhou a notoriedade de outros colegas de profissão, como Lucio Costa e Oscar Niemeyer — que participaram, junto com Reidy, em 1936, do famoso projeto do prédio do Ministério da Educação e Saúde, atual Palácio Gustavo Capanema, considerado o marco inicial da arquitetura moderna no Brasil.

Para lembrar a importância histórica de Reidy e traçar um painel do surgimento do modernismo arquitetônico no País, a cineasta lançou mão de fotos, desenhos e filmes de época, que revelam o estilo e a personalidade do arquiteto. Narrado pelo ator Paulo Betti, o documentário é dividido em duas partes — “Modernismo e habitação social” e “Urbanismo e arquitetura” — e apresenta entrevistas exclusivas dos arquitetos e urbanistas Lucio Costa e Carmen Portinho, que foi companheira de Reidy por mais de 30 anos e morreu em 2001.

Terceira mulher a se formar em Engenharia no País e uma das primeiras urbanistas brasileiras, Carmen participou de projetos importantes da vanguarda arquitetônica e do design no Rio de Janeiro e colaborou nas mais destacadas obras de Reidy. Sobrinha da urbanista, Ana Maria Magalhães realizou o documentário atendendo ao pedido da tia, que desejava preservar a memória do companheiro:
— Convivi com o casal até 1964, quando Reidy morreu, aos 55 anos. Desde criança eu visitava as obras dele em passeios com meu pai. Coletei os depoimentos de Lucio Costa e da minha tia em 1995 e, oito anos depois, quando Lula assumiu a Presidência do País, percebi que era o momento ideal para falar sobre os ideais de Reidy, como habitação popular, arquitetura direcionada à inclusão social, direito ao urbanismo e bem-estar das populações periféricas.

Para comemorar o centenário de nascimento de Reidy, em 2009, a cineasta está finalizando um longa-metragem com apoio do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan):
— O documentário foi feito para TV e representa uma compilação da obra de Reidy. No longa, que será lançado no ano que vem, a abordagem privilegiará a importância do trabalho dele na atualidade. Para isso, reeditei parte do material, incluí informações e entrevistei Paulo Mendes da Rocha, grande nome da arquitetura brasileira, e o francês Roland Castro, criador do Movimento Utopia Concreta (MUC), que defende uma sociedade mais habitável.