Olhar objetivo e, mesmo tempo, otimista


15/09/2008


Aline Sá
19/09/2008

Nascido em 16 de janeiro de 1967, em Florianópolis, Santa Catarina, Marcelo Bittencourt é extrovertido, bem-humorado, e, embora encare com responsabilidade e seriedade seu trabalho e considere qualquer pauta um compromisso impreterível, tenta sempre manter descontraído o ambiente. Também diz que aceita qualquer desafio, “buscando sempre o melhor resultado”.

Seu primeiro contato com a profissão aconteceu em 1986, num laboratório fotográfico. Mas foi quando um colega o convidou para atuar como iluminador numa sessão que ele se sentiu “contaminado pela magia da arte de fotografar”. No mesmo ano, começou a fazer fotos como freelancer para a Agência 103:
— A Olympus Trip analógica, emprestada por meu pai, está na minha memória até hoje, pois foi com ela que registrei, por exemplo, um show do Pepeu Gomes que ficou para a posteridade. Só bem mais tarde adquiri um equipamento profissional.

Contratado como laboratorista pelo Diário Catarinense em 1989, Marcelo aproveitou o contato com repórteres-fotográficos para apurar o olhar:
— Notei que a fotografia poderia transmitir muitas coisas. Aos poucos, comecei a ganhar espaço e, naquele ano mesmo, emplaquei minha primeira foto no jornal.

Como freelancer — o que não deixou de fazer, mesmo atuando mais agora no jornal Notícias do Dia —, Marcelo foi construindo um rico portfolio, com trabalhos feitos para jornais e revistas como Lance!, Folha de S.Paulo, Zero Hora, Estadão e Caras. São imagens que incluem de pessoas comuns a figuras públicas como os ex-presidentes Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e José Sarney e celebridades como o guitarrista Eric Clapton e os integrantes da banda The Cure.

Para ele, a câmera é mais que um instrumento de trabalho. Para que a imagem passe uma mensagem precisa, o profissional precisa sentir o contexto em que está inserido e analisar com olhos desprovidos de quaisquer preconceitos ou estereótipos, prontos a enxergar os sentimentos da pessoa a ser clicada. Isso sem esquecer que a foto não pode dizer mais que o texto — “eles devem se complementar” — e a cena deve transmitir a informação objetivamente, ser um reflexo do momento, sem sensacionalismo:
— Por exemplo, às vésperas do Natal de 2006, fui fotografar um incêndio em que uma família perdeu tudo que tinha. Quando cheguei lá, o filho mais novo, de 10 anos, observava sua casa e sua bicicleta destruídas pelo fogo. Levei em conta o abalo da criança e fotografei o garoto encostado na porta, desolado, olhando para a desgraça da família.

Sorte

Estar no lugar certo na hora certa é fundamental para a profissão, diz Marcelo, que não pára de fotografar nem nas horas de folga:
— Foi numa ocasião assim que registrei a explosão de um caminhão na BR-101. Senti emoções conflitantes, pois via aquele desastre e, ao mesmo, me achava com sorte por ter passado por ali naquele momento. Vendi a foto e ela me rendeu emprego no jornal O Estado.

Durante o Encontro do Mercosul em Florianópolis, teve pela primeira vez a experiência de conviver profissionalmente com profissionais de jornais e agências de todo o mundo. Pouco tempo depois, ao cobrir a Copa Davis de Tênis na cidade, viveu a emoção de ter suas fotos publicadas em jornais do país inteiro e até numa revista internacional.

“Mais lazer do que trabalho” foi a pauta que fez para a “Revista de verão” do Diário Catarinense, com imagens das mais belas praias de Santa Catarina:
— Acho que, ao conciliar relaxamento e compromisso com a profissão, a pessoa se torna mais apta a notar o que daria uma boa foto. E às vezes flagra gente como o Vice-presidente José Alencar no calçadão de Florianópolis tomando café numa lanchonete — o que acabou sendo um furo de reportagem. Sinto-me à vontade para fotografar qualquer pessoa, de um mendigo ao Presidente, em qualquer situação.

Em seu site(www.marcelobittencourt.v10.com.br), por exemplo, há fotos do Presidente Lula, ao lado da Primeira-dama, Dona Marisa, em momentos informais e serenos:
— Tive mais problemas para fotografá-lo durante a campanha presidencial. — conta Marcelo. — Era bem tumultuado, com as pessoas se acotovelando para chegar perto dele. Agora, somos credenciados e ficamos em espaço reservado.


Lições

Na fotografia, Marcelo Bittencourt diz que encontrou muito mais que uma carreira:
— Aprendi muitas lições de vida. Através das lentes, pude analisar angústias, alegrias, pesares… Acima de tudo, pude denunciar fatos, revelar fraudes e participar de momentos importantes de muita gente. A imagem une as pessoas, por ser capaz de transmitir um acontecimento ou uma emoção a todas elas, independentemente de grau de escolaridade, classe social etc. Pelas lentes, uma determinada situação pode chegar aos olhos de qualquer um.

A foto perfeita, diz ele, reúne “luz, enquadramento e informação sempre com um toque subjetivo, de sentimento, para que ela fale por si só”:
— Como sou alegre e otimista, tento, através da imagem, mostrar o fato da melhor maneira possível. Quando o tema é triste, tento retratá-lo com um toque sutil, para não chocar. 

                                          Clique nas imagens para ampliá-las:

 

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