A “amadora” construção do olhar


09/07/2008


Cláudia Souza 
11/07/2008

A fotógrafa Kriz Knack, 40 anos, nasceu em São José dos Campos, no interior de São Paulo, e se formou em 1990 no curso de Publicidade da Faculdade Armando Alvarez Penteado, na capital. Dois anos depois, iniciou a especialização em Cinema, em função do crescente apego à imagem:
— Meu interesse por cinema sempre esteve vinculado a este aspecto, em especial ao registro de pessoas. Desde a faculdade, a documentação da emoção e dos fatos já era o meu foco.

No oito anos em que trabalhou em agências de publicidade, no Marketing e outros setores, Kriz, paralelamente, fotografava como amadora. Os estudos específicos só tiveram início em 1992, na paulistana Escola de Fotografia Imagem e Ação. Em 95, um curso de História da Fotografia mudou o rumo de sua carreira:
— As aulas de Carlos Moreira, fotógrafo com 40 anos de profissão, contribuíram para que eu me dedicasse integralmente ao registro do cotidiano. Tive a oportunidade de conhecer o trabalho de fotógrafos importantes, ter acesso a discussões riquíssimas sobre imagem, enquadramento e pintura e trocar experiências com o grupo de alunos. Carlos Moreira costuma dizer que é um “amador”, pois, de fato, ama a fotografia. Este contato possibilitou a entrada no mundo da imagem a partir de minuciosa construção do olhar. Tornei-me uma “amadora” também.

Outro forte impulso à carreira veio a seguir, quando Kriz participou de um curso com o fotógrafo Gal Oppido:
— Foi no estúdio dele que uma amiga me incentivou a procurar trabalho em 99, quando fui dispensada de uma agência. Comecei fazendo a organização dos arquivos e outras pequenas atividades administrativas; me encantava trabalhar no ambiente da fotografia, ao lado de um profissional experiente. Porém, como o salário era baixo, continuei procurando emprego e consegui oportunidade em outra agência publicitária. Liguei aos prantos para o Gal, anunciando a minha saída. Em resposta, ele enalteceu meu talento para a fotografia e cobriu a oferta salarial da agência, em estimulo à minha carreira.

Comportamento

Durante quatro anos ela foi assistente do fotógrafo, acumulando experiência e conhecimento em diversos níveis da profissão. E adquiriu seu primeiro equipamento:
— Desde então, venho atuando como frila em diversas publicações das editoras Leitura & Arte, Abril e Símbolo, cobrindo, em especial, matérias de comportamento. Também faço trabalhos para empresas na área de eventos e campanhas publicitárias, entre outros. Eu me especializei em coberturas em que o foco está nas pessoas. Minha trajetória sempre apontou para este tipo de registro, dentro de um contexto que pode ser especificado como documentação.

No momento do clique, Kriz concentra-se nos mínimos detalhes:
— Fico ligada em tudo, do gestual ao entorno. Muitas vezes, bons retratos surgem de uma atitude não prevista: um ajeitar de cabelo… e lá está o momento ideal! Certa vez, fotografei um ator de teatro e as melhores imagens aconteceram após a sessão, quando ele relaxou e acendeu o cigarro. Sua personalidade aflorou naquele instante.

Para conseguir captar estes momentos decisivos, é preciso ter muita dedicação e perseverança, lembra Kriz:
— Um bom fotógrafo não pode ter preguiça! Tem que ser uma pessoa antenada, que percebe uma situação e vai atrás; que, embora acreditando que o trabalho já esteja bom, insiste em algo mais; que, em busca do melhor ângulo, não pensa duas vezes em subir em algum lugar, explorar os espaços. Para construir este olhar, é preciso também empenhar-se no estudo da História da Arte e da Fotografia.

No campo tecnológico, Kriz considera as câmeras digitais importantes aliadas:
— No meu caso — que optei pela fotografia documental — a tecnologia permite que eu analise a imagem e, imediatamente, faça alterações na iluminação, no enquadramento, na profundidade… O equipamento digital atende ainda ao desejo da maior parte dos fotógrafos, que é clicar sem limites, tarefa mais complicada quando utilizamos o filme. Para os novatos, a tecnologia oferece infinitas facilidades.

Entretanto, há o outro lado da moeda:
— O preço do equipamento digital é alto. É preciso acompanhar os avanços não só em termos de câmera, mas de softwares e outras coisas. Acho um absurdo nós, por aqui, pagarmos elevadas taxas de importação, enquanto lá fora é tudo mais barato. Para dar uma idéia, recentemente investi cerca de R$ 30 mil em equipamento, sem contar os computadores.

Reconhecimento

A baixa remuneração, somada à desvalorização da atividade, representa outro desafio para os iniciantes, na opinião da fotógrafa:
— Para quem está se projetando, a grana é curta no mercado editorial e no fotojornalismo, onde há grandes talentos sem reconhecimento. A publicidade remunera melhor e dá visibilidade.

O reconhecimento da fotografia como arte é uma das bandeiras de Kriz Knack, que vislumbra avanços nesse sentido:
— Há pouco tempo fui ao evento Arte SP, que reuniu diversas galerias de arte num único espaço. Fiquei feliz ao ver a fotografia ganhar mercado nesta cena. Há muito a ser feito para que ela seja reconhecida como arte, mas estamos no caminho.

Entre os planos profissionais, ela quer seguir se dedicando a atividades que reforcem a relação intimista com o fotografado:
— Tenho um projeto chamado “Intimidade”, em que vou retratar pessoas em seus espaços, ao lado do filho, do animal de estimação… Mesmo sendo um tema bastante explorado, acredito que cada “captação” tem sua alma, seu encanto. Valorizo a relação com o fotografado, a cumplicidade, a troca de olhar, a emoção. Foi por tudo isso que cheguei à fotografia. 

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