Fabulosos e inéditos registros da família Ferrez


13/03/2008


Cláudia Souza
14/03/2008

Júlio Ferrez no jardim de sua residência 
em Laranjeiras, no Rio de Janeiro, em 1922

Apuro estético, sensibilidade, obstinação e rigor técnico. Este foi o legado de Marc Ferrez para os filhos Júlio (1881-1946) e Luciano (1884-1955) e o neto Gilberto (1908-2000). A arte e o talento dos herdeiros do mestre da fotografia estão registrados na exposição “Família Ferrez: novas revelações”, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio, até 27 de abril. São 396 imagens inéditas de Júlio, Luciano e Gilberto, selecionadas entre oito mil negativos que faziam parte do arquivo dos Ferrez.

O primoroso acervo foi localizado em 2005, por Helena, neta de Gilberto Ferrez, quando, juntamente com a pesquisadora Júlia Peregrino, organizava documentos da família para doar ao Arquivo Nacional.
— A beleza das imagens reveladas entre os milhares de negativos foram uma surpresa, já que ninguém conhecia o talento deles, nem os parentes — diz Helena, que, a partir da descoberta, redirecionou com Júlia Peregrino o plano inicial de trabalho.

Júlia, que é curadora e produtora da mostra, complementa:
— Tivemos que fazer outro projeto para a organização de um catálogo e digitalização das imagens, e assim surgiu a idéia da exposição.

O escritor, jornalista e fotógrafo Pedro Karp Vasquez, que também assina a curadoria, foi escolhido para esta função por ter convivido com Gilberto Ferrez:
— No início da década de 80, participei de um projeto da Funarte para reeditar “A fotografia no Brasil”, escrito por Gilberto em 1946 e considerado o primeiro livro sobre o tema no País. A idéia era ampliar e atualizar as informações, revelando detalhes sobre o talento, o cuidadoso método de trabalho e o pioneirismo do autor. Conversei com ele diversas vezes até a conclusão do trabalho. Em 1995, também no CCBB, fui curador da exposição “Mestres da fotografia no Brasil: coleção Gilberto Ferrez”. Foi uma honra resgatar a trajetória do pai da fotografia e da iconografia no Brasil. Gilberto escreveu mais de 30 títulos sobre o assunto — lembra o curador.

Pedro Vasquez explica que o diferencial desta mostra é a revelação de três novos autores para a história da fotografia nacional:
— Eles fotografavam como jornalistas, não o faziam apenas como um hobby. Tinham uma produção intensa, pautavam os assuntos e despendiam tempo e cuidado em cada registro. Quem trabalha no mercado da fotografia sabe que por trás daquelas imagens existiu a preocupação com o documental. As fotos de Júlio, Luciano e Gilberto representam detalhado registro histórico do País.

Contraste

              Marc Ferrez na Suiça, em julho de 1915

Marc Ferrez revelava os segredos da fotografia para os filhos e o neto durante os passeios da família. Manuseio de equipamentos, técnicas de iluminação, enquadramento, profundidade de campo e outros aspectos fundamentais da arte fotográfica eram observados nesses momentos:
— Aos 8 anos, Gilberto já o acompanhava. Ele contava que, quando o avô decidiu fotografar a construção da Avenida Niemeyer, esperou chover para que a paisagem adquirisse um contraste interessante das nuvens no céu azul límpido — diz Pedro.

A disciplina e o esmero do patriarca da família qualificaram o olhar dos herdeiros inclusive na busca dos objetos de interesse:
— Luciano, o filho mais velho, gostava de fotografia de arquitetura e urbanismo; Júlio, o caçula, era o retratista da família e dominava a técnica da iluminação em fotos de interior. Foi também um dos primeiros diretores de cinema do Brasil e autor de “O amador photographo”, manual técnico de fotografia pioneiro no País, editado em 1905. Gilberto, filho de Júlio, tinha o perfil de fotojornalista e aventureiro e retratou diversas regiões do Brasil e de outros países — conta Pedro, sublinhando que as imagens da exposição representam “uma amostra dos costumes e do comportamento da sociedade na primeira metade do século XX, captadas pelo interesse etnográfico dos Ferrez”. É Pedro também quem comenta as fotos selecionadas aqui.

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