De olho na alma brasileira


07/03/2007


José Reinaldo Marques 
02/03/2007

O fotógrafo carioca Márcio RM tem se especializado em registrar as festas populares que acontecem em diversas regiões do Brasil, e do resultado deste trabalho criou o projeto Recorte Popular, com a proposta de que cada festa se torne um projeto específico, com imagens exclusivas reunidas em projeções e exposições. Uma delas é a mostra “É o Bola”, com 15 fotos sobre o Cordão da Bola Preta no carnaval de 2005, que está em exibição no Sesc Teresópolis (RJ) e fez parte da programação oficial do FotoRio 2005 (Encontro Internacional de Fotografia do Rio de Janeiro). Márcio também organizou a exposição “Quem tem fé”, sobre a Lavagem do Bonfim, em Salvador (BA), entre ouras.

Chico Caruso — amigo pessoal de Márcio — diz na apresentação do livro do fotógrafo Rua, que ainda será lançado, que o veterano repórter-fotográfico Luiz Humberto tem razão quando compara Márcio RM a um caçador de imagens. O que atraiu Caruso para a fotografia de Márcio foi a capacidade do fotógrafo de fazer com que as pessoas olhem suas fotografias e consigam enxergar além da mensagem visual que elas transmitem: “Ele descobre na imagem ainda em movimento, viva, na sua frente, o que é verbo, o que é substantivo, o que é predicado”, afirma Caruso.

A repercussão que Márcio RM vem alcançando com o seu trabalho, em todo o País, pode ser avaliada pelo sucesso conquistado com a exibição de suas fotos no Nordeste, ano passado. Depois de uma bela e elogiadíssima exposição em Sergipe, intitulada Cruzeiros, foi convidado a voltar a Aracaju para uma nova exposição, só que desta vez com fotos da cidade feitas durante a primeira temporada. Simultaneamente à exposição Cruzeiros, Márcio RM mostrava suas fotos em outra cidade nordestina: São Félix, na Bahia. No Centro Cultural Dannemann, Márcio promoveu uma mostra individual intitulada Divino, com registros da festa religiosa que acontece em Paraty, no Rio de Janeiro. 


Descobrindo o Brasil

O interesse pela fotografia surgiu na adolescência, quando morava na Califórnia com a família.
— Meu pai teve uma certa influência, pois mesmo não sendo um fotógrafo ele sempre gostou muito de artes, pintando bastante e fotografando eventualmente — conta o fotojornalista.

Em 1982, Márcio RM iniciou a carreira profissional como repórter-fotográfico no jornal alternativo Ipanemagora. Três anos depois foi contratado pela revista IstoÉ. Trabalhou também na Veja e nos jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e Correio Braziliense. RM diz que adora fotografar gente, porque por trás de cada personagem existem muitas histórias para serem contadas. Cita Darcy Ribeiro que dizia que o Brasil é um País ainda a ser descoberto, e que na sua opinião ainda tem muita coisa para ser fotografada.

A maior parte do tempo, o fotógrafo atua como um documentarista, registrando o presente para ser mostrado no futuro, e vê a fotografia brasileira num grande estágio de desenvolvimento e, alcançando o reconhecimento por causa da qualidade:
— A fotografia nacional vem se destacando apesar das diversas dificuldades que enfrenta, como a falta de um bom mercado profissional, no sentido mais amplo desta palavra.

Ele costuma dizer que o melhor da fotografia em sua vida é a possibilidade de poder olhar o cotidiano de maneira mais humanizada. De acordo com ele, um grande impulso para se tornar fotógrafo é poder ser um veículo para mostrar o povo e os costumes do País para um grande número de pessoas. Na sua opinião, só consegue ser um bom fotojornalista aquele que gosta do que faz. É por esse motivo que, com o seu trabalho, se dedica a ajudar outras pessoas, na tentativa de melhorar o mundo. 


Prêmios

Aos 45 anos Márcio RM tem uma considerável lista de premiações. Em 1984, ganhou o prêmio de aquisição Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco, no XII Salão de Novos em Olinda (PE), com uma foto do Forte São José, localizado dentro do Forte São João, no Rio. O trabalho passou a fazer parte do acervo do museu. Em 1996 recebeu dois prêmios no Concurso de Fotografia da revista norte-americana Popular Photografy. Ficou em 3º lugar na Categoria Glamour com uma foto da atriz Bety Schumacher e recebeu Menção Honrosa na Categoria Creative com a imagem de um espetáculo de dança.

Em 2000 participou do projeto editorial M.I.L.K, Nova Zelândia, foi selecionado entre 14 mil profissionais, de 164 países. Ficou entre os 300 fotógrafos incluídos na edição de três livros, com trabalhos de 100 deles em cada exemplar. A foto de um casal se beijando durante o desfile da Banda de Ipanema no Rio, foi a escolhida. As publicações foram lançadas na estação Grand Terminal (Nova York) e depois no Museu de História Natural de Londres:
— Acredito que, se atualmente trabalhasse na imprensa diária, teria a possibilidade de ganhar mais prêmios, já que a maioria dos prêmios nacionais é dedicada a fotografias publicadas em veículos de comunicação.

Desde 1981 o fotógrafo tem participado de exposições e mostras no Brasil e no exterior, como os Encontros da Imagem em Braga, Portugal (1989) e a exposição “Um Momento no tempo”, no Museu Metropolitano de Fotografia de Tóquio, em 2002.
— Foram mais de 60 exposições e no dia 15 deste mês de fevereiro inaugurei a minha 28ª individual, que acontece no SESC Teresópolis (RJ). A minha primeira exposição individual foi realizada na galeria de arte do Centro Cultural Cândido Mendes, no bairro de Ipanema, em 1994.
Em abril deste ano ele vai abrir uma exposição individual no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (Juiz de Fora, MG).

Quanto à sua realização profissional, diz que uma das suas satisfações é ajudar, sempre que possível, tanto colegas de profissão como outras pessoas. RM planeja produzir e mostrar o seu trabalho por mais algumas décadas:
— Há quatro anos eu estava fotografando em uma loja no centro histórico de Paraty e comentei com a vendedora que havia feito uma exposição sobre os caiçaras na antiga cadeia da cidade (atual Instituto Histórico e Artístico de Paraty). Ela me perguntou se a foto do convite era horizontal, em preto e branco, de um menino deitado dentro de uma canoa. Eu disse que sim. Ela então me falou que tinha esta foto na parede da casa dela e sempre que estava triste, olhava para a foto e via que a vida pode ser simples e bela. Esta é uma das razões por que sou fotógrafo.

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