História, ciência e mistério


20/08/2022


Por Marcelo Moraes Teles, músico, produtor musical e escritor, membro da Comissão de Igualdade Ético-Racial da ABI

Normalmente dizemos que Arte é a habilidade ou disposição dirigida para a execução de uma finalidade prática ou teórica, realizada de forma consciente, controlada e racional.

Mas Arte pode ser entendida como a atividade humana ligada às manifestações de ordem estética ou comunicativa, realizada por meio de uma grande variedade de linguagens.

Mas arte é também fonte de conhecimento. Foi através da arte que o conhecimento se proliferou entre os povos. Certamente que a literatura é a principal forma de transmitir conhecimento. Mas a oralidade também. Foi através da oralidade que o conhecimento ultrapassou milhares de anos cruzando gerações. Foram os costumes, os ritos e tradições que perpetuaram o conhecimento através dos séculos.

Mas a arte também tem essa função.

Uma coisa é certa, existe diferença entre História e historiografia.

História é o que aconteceu e historiografia é uma das formas de contar o que aconteceu.

E a historiografia tem contado a História de maneira conveniente para alguns grupos.

Existe uma necessidade, por exemplo, de apagar a extraordinária História da ÁFRICA.

Se você procurar nos buscadores da internet qual a Universidade mais antiga do mundo, certamente ele lhe dirá que é a universidade de Bolonha que surgiu por volta de 1088.

Mas é fato que a universidade mais antiga do mundo, Al-Qarawiyyin, que está no Guiness Book e é considerada também pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como a mais antiga do mundo, foi criada em 859 D.C no Marrocos.

Se você não procurar corretamente, a primeira resposta oferecida não é a verdadeira.

Alguns estudiosos dizem o mesmo sobre a Egiptologia.

Há quem diga que é um embuste para “separar” o Egito do continente africano.

Em muitas enciclopédias não se fala nada sobre a vigésima quinta dinastia egípcia 657 A.C.

A XXV dinastia egípcia, também conhecida como dinastia núbia, Império Cuxita ou Faraós Negros, foi a última dinastia do Terceiro Período Intermediário do Egito que ocorreu após a invasão núbia. Era uma linha de faraós que se originaram no Reino de Cuxe, localizado no atual norte do Sudão e no Alto Egito. E esse fenômeno de apagamento ocorre em diversas áreas e disciplinas quando o assunto é a historia do continente africano. Não acredito que aconteça por acaso.

Podemos citar literalmente milhares de exemplos como Os Dogon que são um grupo étnico que vive na região do planalto central de Mali, na África Ocidental. As tribos Dogon são conhecidas por suas tradições religiosas, danças de máscara, esculturas de madeira e a sua arquitetura. Alguns pesquisadores descobriram seus conhecimentos astronômicos avançados. Segundo eles, os Dogon parecem saber da existência dos anéis de Saturno e das luas de Júpiter, objetos que só podem ser vistos com a ajuda de telescópios. Mas o mais intrigante são suas crenças e conhecimentos sobre a estrela mais brilhante vista da Terra, Sirius.

Eles têm uma crença tradicional em um sistema heliocêntrico e em órbitas elípticas de fenômenos astronômicos. Em 1976, Robert Temple escreveu um livro chamado “O Mistério Sirius”, argumentando que os Dogons possuem conhecimento preciso dos fatos cosmológicos conhecidos apenas pelo desenvolvimento da astronomia moderna, uma vez que eles parecem saber que Sirius faz parte de um sistema estelar binário, cuja segunda estrela, Sirius B, uma anã branca é completamente invisível para o olho humano. Essa estrela leva 50 anos para completar sua órbita e na cultura Dogon existe uma celebração que ocorre justamente a cada 50 anos, a qual seria em honra à estrela.

A existência de Sirius B só pôde ser verificada de fato através de cálculos matemáticos realizados por Friedrich Bessel em 1844.

Os Dogons sabem disso por milhares de anos. Graças às tradições podemos saber e guardar cultos, ritos e rituais. Graças à arte podemos preservar esse conhecimento.

E as tradições do continente africano são milenares assim como a música e as danças de África.

Ao contrario do que se pensa a escrita também é milenar em África onde também se desenvolveram a matemática, a geometria, a engenharia, astronomia e medicina.

Por tanto, O SAMBA batido na palma da mão tem muito mais mistérios que você imagina.