Sustentabilidade: é preciso fazer a pergunta certa


10/07/2020


Todas as cores da sustentabilidade – um guia pro jornalista chamar de seu

Por Matheus Zanon, da Comissão Mulher & Diversidade da ABI

“(…) acho que falta alertar aos jornalistas e aos profissionais de comunicação sobre a necessidade de fazer as perguntas certas, de usar as palavras certas, sem aforismos. Usar as expressões corretas ajuda a sociedade a refletir sobre os temas. Muitas vezes as perguntas relacionadas à Sustentabilidade nem são feitas.”

A frase acima, da jornalista Flavia Oliveira, é um dos relatos dos quase 40 jornalistas em atuação em veículos de comunicação que participaram da pesquisa do novo Guia de Comunicação e Sustentabilidade. A publicação é uma bússola para jornalistas – e porque não, para leigos – que querem navegar as águas da sustentabilidade.

O Guia de Comunicação e Sustentabilidade apresenta desde conceitos que ajudam a compreender melhor o tema até falhas cometidas por assessorias de imprensa na hora de comunicar o tema. É um despertar para quais perguntas precisam ser feitas. Questionamentos que, como mágica, abrem os olhos para toda uma gama de problemas sociais e ambientais que afligem a sociedade. Problemas que, encarados sob a ótima da sustentabilidade, só podem ser solucionados se trabalhados conjuntamente.

Na pesquisa, quase 90% dos entrevistados respondeu concordar totalmente com as frases “o jornalista é também responsável pela educação da população para temas relacionados ao desenvolvimento sustentável” e “a divulgação de boas práticas relacionadas à sustentabilidade contribui para a melhoria da sociedade”. Do outro lado da bancada, as assessorias de comunicação das empresas, cerca de 80% dos respondentes acreditam que comunicar de forma constante e eficiente suas ações em sustentabilidade tem o potencial de transformar a sociedade.

E aí reside a importância do jornalismo entender e dialogar com a sustentabilidade. Como aponta o jornalista Emmanuel Alencar, em depoimento à publicação, “A cobertura da imprensa hoje está ‘nichada’ em editorias de sustentabilidade ou ciências e acaba se descolando da agenda urbana, que é uma agenda importantíssima ligada aos ODS da ONU. Como que a gente vai discutir oceano se a gente não discutir a Baía de Guanabara e se a gente não discutir saneamento? Impossível. Essa cobertura deveria estar em todas as editorias de forma transversal.”

Entender que sustentabilidade significa suprir as necessidades do presente sem afetar as gerações futuras faz com que essa agenda se torne transversal a vida humana. Adicionar as palavras sustentável ou sustentabilidade a uma outra palavra faz com que, imediatamente, esse verbete assuma um significado de igualdade, consciência e respeito aos limites. Para citar alguns, agricultura sustentável – em oposição ao entendimento da monocultura, das queimadas para abertura de pastos -; sustentabilidade social – distribuição de renda com redução das diferenças sociais e melhoria da qualidade de vida; e desenvolvimento sustentável – a capacidade de atender as necessidades do presente sem comprometer a habilidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades.

Todas as cores da sustentabilidade

Quase que em complemento a primeira edição, lançada em 2009, e que deu maior ênfase ao aspecto ambiental, o Guia de Comunicação e Sustentabilidade amplia o entendimento sobre o tema, destacando os aspectos sociais e de governança. Nesse sentido, deixa claro que o conceito de sustentabilidade engloba diversidade, inclusão, equidade e erradicação da pobreza, para citar alguns. Para Tássia di Carvalho, CEO da Agência IS, especializada em ações de impacto social, “Espera-se da comunicação que ela tenha papel fundamental e estratégico junto ao RH para que as empresas sejam um agente de inclusão de negros, pessoas com deficiências e populações LGBTQ+.” Opinião corroborada por Tulio Zanini, consultor empresarial que acredita que “Um indicador forte de que a empresa realmente acredita na sustentabilidade é quando ela está inserida nas políticas de RH. Uma empresa não pode declarar sustentabilidade se permitir práticas de recursos humanos incoerentes, inconsistentes e percebidas como não justas”.

O Guia mostra que a comunicação está no cerne dos temas da sustentabilidade e é ela quem seduz o público para a temática. Cabe ao jornalista, como defendeu Tiago Lobo em artigo para o Observatório da Imprensa, “(…) interpretá-la (a informação), atribuindo-lhe sentido e precisão na produção de um bem intelectual que dê ao receptor a possibilidade de refletir e, também, de interpretar.” Para ele, é a partir desse exercício que o jornalismo difunde conhecimento.

E nesse contexto, o Guia de Comunicação e Sustentabilidade é uma ferramenta indispensável para que jornalistas e estudantes de jornalismo. Ele apresenta todas as cores da sustentabilidade – inspirado nas cores dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e deixa claro que, como acredita a editora da Revista Plurale, Sônia  Araripe, “Sustentabilidade não pode ser visto como termo de um gueto, como algo restrito aos abraçadores de árvores. É preciso ter visão holística de que a sustentabilidade está inserida em tudo”.