ABI adere à campanha contra privatização da EBC


20/07/2020


Edifício A Noite, na Praça Mauá

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) aderiu à campanha em defesa da comunicação pública, contra a privatização da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e da venda de seus ativos, entre eles o Edifício A Noite, localizado na Praça Mauá, no centro do Rio.  A EBC foi incluída no plano de privatizações do governo federal, e o edifício está na lista de mais de 3mil imóveis da União que devem ser transferidos à iniciativa privada.  Patrimônio histórico e arquitetônico, o Edifício A Noite, construído em 1922, foi o primeiro arranha-céu da América Latina. Abrigou a Rádio Nacional e o jornal A Noite (que deu nome ao prédio), o primeiro vespertino do Rio de Janeiro, fundado em 1911.

Além de sindicatos e associações ligadas à comunicação e cultura, estão entre os apoiadores da frente em defesa do patrimônio nacional, a jornalista Teresa Cruvinel, ex-presidente da EBC (2007-2011); e a Associação de Funcionários do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). O Edifício A Noite foi sede do INPI desde sua criação em 1970.

Abaixo, a íntegra do manifesto:

Em Tempo de Pandemia a Boiada vai passando…

 

Mais um capítulo da privatização da EBC: A venda do Edifício A Noite, histórico prédio da Rádio Nacional na Praça Mauá, RJ – Marco arquitetônico e Urbanístico do País.

A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) foi incluída no plano de privatizações do governo federal, assim como outras estatais importantes. Partindo do conteúdo de declarações da área econômica do governo federal, tal privatização deve se dar, no caso da EBC, essencialmente por meio da venda de imóveis, que provavelmente será feita a preço de banana em meio à maior pandemia do século.

Este cenário muito nos preocupa, particularmente, o andamento já avançado da venda, através de leilão marcado para agosto, do edifício A Noite, patrimônio histórico-cultural não apenas da EBC, mas da imprensa nacional. Trata-se do primeiro arranha-céu da América Latina, construído em concreto armado com 22 andares, em estilo art déco, inaugurado em 1929, com vista privilegiada para a Baía da Guanabara, localizado na Praça Mauá, recentemente revitalizada, e que virou um polo turístico em nossa cidade, contando com o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio (MAR)

Por muitos anos o prédio  abrigou os históricos estúdios da Rádio Nacional – desde a sua inauguração em 1936, reformados em 2004, em parceria com a Petrobras, que investiu R$ 1,7 milhão na estrutura. Nos estúdios da Nacional, apenas para citar alguns exemplos, Dalva de Oliveira, Cauby Peixoto, Emilinha Borba e outras estrelas da Era de Ouro do Rádio se apresentaram diversas vezes;  foi pioneira no rádio jornalismo com a criação do Repórter Esso em 1941; onde Getúlio Vargas fez discursos históricos e o maestro Villa Lobos mostrou suas composições para todo o país.

O Edifício A Noite foi sede do Instituto Nacional da Propriedade Industrial- INPI, desde a sua criação em 1970,  Já no início desse século, os servidores do INPI vêm defendendo a reforma do prédio junto a seus dirigentes. No entanto, apesar das promessas, a partir de 2006, iniciou-se a evasão do prédio, optando-se pela locação de imóveis, pela qual já se gastou até este mês o valor de R$ 165 milhões, sendo que o Instituto atualmente paga  pela locação de um prédio o valor de R$ 9 milhões anuais.

Este mês, a Presidência do INPI devolveu o prédio à União para a realização de leilão. Em 2016 o prédio estava avaliado em R$135 milhões, segundo matérias da mídia . Agora, surpreendentemente, a Superintendência do Patrimônio da União – SPU o  avalia em R$ 90 milhões para o leilão. Os servidores do INPI são contrários à venda do prédio e defendem a sua reforma e retomada como sede do Instituto, o que seria economicamente justificável.

Além disso, recentemente, a região da Praça Mauá passou por considerável valorização imobiliária. Em um país sério, esse espaço, no mínimo, mesmo que utilizado para outros fins, abrigaria um museu, como parte fundamental da história da imprensa brasileira. No entanto, neste país sem memória, infelizmente tal plano sequer foi cogitado pelas cabeças privatistas à frente do governo. Outros países democráticos o fizeram, como é o caso da britânica BBC. Lá, a visita aos estúdios históricos da emissora virou, há anos, uma atração turística, inclusive autossustentável, gerando recursos à empresa.

A venda do patrimônio histórico da comunicação pública no país, representada pelo leilão do edifício A Noite, é mais um passo para o fim da Empresa Brasil de Comunicação. Reforçamos, assim, a campanha em defesa da EBC, e contra a venda do Edifício A Noite, que claramente segue os planos de Bolsonaro para a extinção ou privatização do patrimônio público.

Você que é ouvinte da Rádio Nacional e viveu histórias bacanas no Edifício A Noite, nos mande relatos dessas histórias, em vídeo, áudio ou por escrito. Elas vão ajudar a engrossar nossa campanha, mostrando toda a memória afetiva que aquele prédio tem para tanta gente.