Processo de exumação do corpo de Jango inicia nesta quarta-feira, em São Borja(RS)


Por Cláudia Souza*

12/11/2013


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A Comissão Nacional da Verdade(CNV) e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República dão início nesta quarta-feira, dia 13, aos procedimentos de exumação do corpo do ex-presidente da República João Goulart, com a finalidade de esclarecer as causas da morte.

Os trabalhos terão início às 7h, no cemitério de São Borja, onde o corpo do ex-presidente está enterrado. O acesso ao local será restrito aos peritos, aos membros da coordenação dos trabalhos e aos parentes de Jango. Jornalistas não terão acesso à área.

Após a exumação, os restos mortais serão transportados para a cidade de Santa Maria, e, em seguida, para Brasília (DF), com chegada prevista na Base Aérea, no dia 14, às 10h, quando o corpo será recepcionado por autoridades com honras de chefe de Estado.

A coleta de amostras para exame antropológico e de DNA será realizada no Instituto Nacional de Criminalística (INC) da Polícia Federal. As amostras para o exame toxicológico, que consiste na procura por substâncias que possam confirmar a hipótese do envenenamento, serão lacradas e enviadas para laboratórios no exterior. Os peritos vão procurar traços de medicamentos usados por Jango, como Isodril e Adelfan, além de substâncias que podem levar à morte, como cloreto de potássio, clorofórmio e escopolamina.

Não há previsão para a divulgação dos resultados, mas o retorno dos restos mortais de Jango à São Borja está agendado para o dia 6 de dezembro, data do 37º aniversário da morte do ex-presidente.

Investigações

O processo de exumação de Jango teve início em 2007, por iniciativa de parentes do ex- presidente, que solicitaram ao Ministério Público Federal a reabertura das investigações. Em 2011, o pedido foi estendido pela família à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR). Com a instalação da Comissão Nacional da Verdade (CNV), em maio de 2012, a coordenação dos trabalhos para atender a demanda passou a ser compartilhada entre os dois órgãos.

Com a análise pericial dos restos mortais de Jango, a expectativa é de que os laudos técnicos sobre a exumação, juntamente com as provas documentais e diversos depoimentos sobre o caso ajudem a esclarecer as causas da morte.

Secretário de Estado de Interior e Justiça (RS) e Ministro do Trabalho, João Goulart foi eleito duas vezes para o cargo de vice-presidente da República (1955 e 1960). Em agosto de 1961, assumiu a Presidência da República, cargo que ocupou até 31 de março de 1964, data do golpe de Estado.

Após ser deposto, o ex-presidente refugiou-se em seu estado natal, Rio Grande do Sul, e, em seguida, partiu para o exílio no Uruguai e na Argentina. Jango, até o momento, foi o único presidente brasileiro a morrer no exílio.

O corpo do ex-presidente foi sepultado em São Borja (RS), na fronteira do Brasil com a Argentina, mas não passou por autópsia. A certidão de óbito informa apenas que Jango morreu em decorrência de uma “enfermedad” (doença). Contudo, ao longo dos anos cresceram as suspeitas de que João Goulart teria sido envenenado em uma ação articulada da Operação Condor, que teria trocado os medicamentos de Jango.

Os regimes autoritários que dominaram diversos países do Cone-Sul, entre eles o Brasil, organizaram uma conexão cujo objetivo era reprimir homens e mulheres que lutavam contra a ditadura. Documentos referentes ao pacto, conhecido como Operação Condor, comprovam que o ex- presidente Jango fora monitorado no exílio.

Integrantes do Grupo de Trabalho (GT) para a exumação:  

– SDH/PR: Bruno Gomes Monteiro (chefe de gabinete) e Gilles Gomes (secretário-executivo da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos – CEMDP)

– CNV: André Martins Sabóia e Rosa Maria Cardoso da Cunha

– DPF: Amaury Allan Martins de Souza Júnior, Alexandre Raphael Deitos, Gabriele Hampeel, Jorge Marcelo de Freitas e Jeferson Evangelista Correa

– Peritos estrangeiros: Patricia Bernardi e Mariana Soledad Selva, da Argentina; Alicia Lusiardo e José Lopez Mazz, do Uruguai; e Jorge Caridad Perez Gonzalez, de Cuba

– Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV): chefe da Delegação Regional, Felipe Donoso, e o especialista forense Udo Krenzer

– Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos: Marco Antônio Rodrigues Barbosa, presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos,

– Comissão da Verdade do Rio de Janeiro: Nadine Monteiro Borges

– Ministério Público Federal: Suzete Bragagnolo e Ivan Cláudio Marx

– Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul: Lenine de Carvalho e Sami A. R. J. El Jundi

*Com informações da CNV