Paulo Egydio presta depoimento na Comissão da Verdade-SP


Por Cláudia Souza*

26/11/2013


Paulo Egydio em depoimento à Comissão da Verdade-SP (Foto: Michel Filho/O Globo)

Paulo Egydio em depoimento à Comissão da Verdade-SP (Foto: Michel Filho/O Globo)

O ex-governador paulista Paulo Egydio Martins, 85 anos, prestou depoimento nesta terça-feira, dia 26 de novembro, à Comissão Municipal da Verdade, na Câmara Municipal de São Paulo. Entre outras questões, Egydio detalhou como eram feitas as doações ao II Exército antes do início da ditadura.

– É muito difícil encontrar alguém que não tenha financiado o Exército para derrubar o presidente João Goulart, em 1964. As doações eram feitas em dinheiro pelas pessoas físicas, especialmente empresários paulistanos, aos comandantes da região. O II Exército estava no chão. Era uma piada. Essas doações foram fundamentais. Mas não sei informar se as doações continuaram após a queda de João Goulart.

Paulo Egydio, que foi ministro da Indústria e Comércio no governo Castelo Branco(1966/1967), afirmou ainda que as mortes de Vladmir Herzog, em outubro de 1975, e de Manuel Fiel Filho, em janeiro de 1976, teriam feito parte de um plano para desestabilizar o governo Geisel

— Eu era um homem de confiança do Geisel em São Paulo. Militares linha-dura como o ex-ministro do Exército Sylvio Frota não queriam que o Geisel desse continuidade à abertura política que ele estava implementando. Acredito que essas mortes estejam relacionadas com isso.

Egydio relatou que teria presenciado uma reunião entre Geisel e militares após a morte de Herzog, na qual Geisel teria dito que não toleraria mais esse tipo de crime nas dependências do Exército.

— Meses depois, quando o metalúrgico Manuel Fiel Filho foi morto, Geisel cumpriu o prometido exonerando Ednardo D’Ávila Mello, então comandante do II Exército. Um caso inédito na história do Brasil de um militar de alta patente.

Questionado porque não denunciou as mortes, o ex-governador de São Paulo disse que optou por não denunciar porque corria mais risco de “dar um tombo no Geisel, apesar de sempre ter defendido a volta da democracia.”

Assassinato

O governo de Paulo Egydio foi marcado pelo assassinato do jornalista Vladimir Herzog, que à época ocupava o cargo de diretor de jornalismo da TV Cultura, vinculada à Fundação Padre Anchieta e ao governo de São Paulo. O então secretário de Cultura, José Mindlin, afastou-se do governo paulista logo após o episódio.

A violenta repressão policial a uma manifestação estudantil na PUC-SP, em 22 de setembro de 1977, foi outro episódio que definiu o caráter autoritário da gestão de Paulo Egydio. Contudo, o confronto entre estudantes e as forças do regime militar, comandadas pelo coronel Erasmo Dias, representou um marco no processo de redemocratização do Brasil. A investida da PM foi a última grande operação da ditadura militar contra o movimento estudantil.

*Com informações de O Globo.