Wikileaks: novos documentos nesta terça


07/12/2010


A ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF) encaminhou nesta terça-feira, dia 7, um documento ao Secretário de Estado de Justiça do Reino Unido, Kenneth Clarke, no qual solicita que os direitos de defesa do jornalista australiano Julian Assange Assange, fundador do site WikiLeaks, sejam amplamente garantidos, e que as investigações das autoridades se limitem ao caráter privado das acusações:
—Não deverá se tratar, de nenhuma forma, de um processo sobre as publicações de Wikileaks. A ONG Repórteres sem Fronteiras condenou, em várias ocasiões, os bloqueios, ciber-ataques e as pressões políticas contra o site Wikileaks. É a primeira vez que constatamos uma tentativa de censura em escala internacional de um site cuja vocação fundamental é a transparência. A Justiça deve estar isenta de qualquer pressão governamental exterior em defesa da liberdade de informação, afirmou Jean-François Julliard, Secretário-Geral da ONG Repórteres sem Fronteiras.
 
Julian Assange foi preso na manhã desta terça-feira, dia 7, em Londres, na Grã-Bretanha, acusado  pela polícia sueca de coerção ilegal, assédio sexual e estupro, todas supostamente cometidas em 20 de agosto último.

A Suíça repassou a ordem de prisão à Interpol, que divulgou alerta mundial para a detenção do jornalista. De acordo com a Scotland Yard, Assange se apresentou em uma delegacia londrina com horário marcado (9h30 no horário local, 7h30 em Brasília), e foi encaminhado à Corte de Magistrados de Westminster para responder formalmente às acusações. Segundo o jornal “The Guardian”, o jornalista John Pilger, o cinegrafista Ken Loach e a socialite Jemima Khan ofereceram até 20 mil libras para pagar a fiança, mas o Juiz Howard Riddle rejeitou a proposta, alegando a “gravidade do caso” e por acreditar que Assange não compareceria às próximas audiências.

O WikiLeaks vem provocando polêmica em escala global desde a recente divulgação de dezenas de milhares de documentos sigilosos da diplomacia norte-americana e outros países. O fundador do WikiLeaks vem recebendo severas criticas dos países envolvidos no vazamento das informações, que, de acordo as autoridades estrangeiras, podem colocar a segurança em risco. 

Pouco minutos após o anúncio da prisão de Assange, o porta-voz do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, informou à agência de notícias Reuters que a prisão de Assange significa um ataque à liberdade de imprensa e que não impedirá os planos do site de divulgar documentos secretos. No Twitter, o WikiLeaks reiterou que divulgará mais documentos secretos da diplomacia dos EUA, já na noite desta terça-feira, dia 7.

Criado em dezembro de 2006, por Assange, ex-hacker, e PhD em Física, o site WikiLeaks vem provocando polêmica entre governos, autoridades e empresas de vários países por revelar informações secretas sobre a diplomacia norte-americana.

 

Eu gosto de criar sistemas grandiosos e gosto de ajudar pessoas vulneráveis. E gosto também de esmagar os cretinos. É um trabalho adorável, afirmou o jornalista em entrevista à revista alemã Der Spiegel.

 

O site oferece a qualquer usuário a oportunidade de postar, anonimamente, através de uma conexão cifrada, textos, áudios ou vídeos confidenciais, cuja autenticidade o site se encarrega de verificar. A equipe é formada por cinco voluntários em tempo integral e entre 800 e mil colaboradores, entre técnicos de informática, advogados e jornalistas.

 

Em 2008, o WikiLeaks recebeu o prêmio de meio de comunicação do ano pela revista Economist. Em 2009, o portal e seu fundador venceram o Prêmio da Anistia Internacional na categoria de Novas Mídias por relatos sobre matanças no Quênia.

O site também causou polêmica ao colocar à disposição, em novembro de 2009, meio

milhão de telefonemas, emails e SMS emitidos e recebidos pelo FBI e pela Polícia

de Nova York no 11 de setembro.

 

Um dos casos de maior repercussão foi a divulgação de um vídeo no qual um helicóptero Apache americano abate, em 2007, uma dezena de civis em Bagdá. O vídeo teve mais de quatro milhões de acessos em 72 horas no YouTube. As imagens mostravam entre os mortos o cinegrafista da Reuters Namir Noor e seu motorista Saeed Chmagh. O vídeo foi denunciado por organizações de jornalistas, obrigando o Pentágono a abrir uma nova investigação sobre o ataque.

Em novembro último o Wikileaks divulgou 250 mil documentos secretos da diplomacia norte-americana. O vazamento das informações sigilosas deixou os Estados Unidos em uma situação desconfortável com o resto do mundo. A Justiça dos Estados Unidos abriu investigação criminal contra o Wikileaks.

 

Entre os segredos da diplomacia americana estão: ordens da secretária americana de estado Hillary Clinton para que autoridades da ONU fossem espionadas e pedidos da Arábia Saudita para os Estados Unidos atacarem o Irã.

Foram divulgados ainda relatórios em que o presidente venezuelano Hugo Chavez é comparado a um louco. E a Rússia seria um estado mafioso dirigido por “Batman e Robin”.

 

Nos documentos, o embaixador Clifford Sobel informa a Washington que suspeitos de financiar o terrorismo foram presos no Brasil sob outras acusações. O motivo seria não chamar a atenção da mídia e evitar a comparação das ações das autoridades brasileiras à política antiterror dos EUA e a perseguição a muçulmanos.

O governo brasileiro negou que houvesse atividades terroristas na região de tríplice fronteira com a Argentina e o Paraguai. O Itamaraty e a Polícia Federal não comentaram o caso.