Um texto visual com muito significado


17/10/2006


José Reinaldo Marques
20/10/2006

Nascida em São Paulo, em janeiro de 1978, Andréia Mayumi diz que desenvolveu o gosto pela fotografia pela via cinematográfica:
— Adorava cinema, mas, para falar a verdade, não me prendia muito ao aspecto técnico da fotografia nos filmes.

Porém, já no 2º período da faculdade de Comunicação, quando a disciplina Fotojornalismo entrou no currículo, começou a ficar horas no laboratório, “enchendo a paciência do professor”:
— Como na minha turma só eu me interessei pelo assunto, ele arranjou uma discípula e me incentivou muito a entrar nesse mercado. Entre mim e o último fotojornalista que a Universidade Federal do Amazonas tinha formado, existia um período de quase 15 anos de distância.

A certeza de que a função que gostaria de exercer no Jornalismo seria a de fotógrafa veio no dia em que revelou sua primeira foto:
— Tinha entrado na faculdade pelo romantismo da coisa, de buscar o que ninguém via, tentar dar furo, conseguir o melhor ângulo da notícia. Tudo isso eu percebi que estava materializado na fotografia. Mas o fundamental foi a possibilidade de fazer arte.

Antes de se tornar repórter-fotográfica, Mayumi já havia tentado dança, música (piano e flauta) e artes plásticas:
— Mas era sempre uma aspirante frustrada, pois nunca tinha conseguido dar sentido a algumas coisas que me inquietavam. Vislumbrei na fotografia essa capacidade de poder emocionar, fustigar, informar, surpreender, agradar e tudo o mais que uma imagem é capaz de fazer.

Primeiro emprego

Quando estava no 4º período, o jornal A Crítica selecionou dez estagiários para trabalhar num novo projeto editorial, o Jornal dos Bairros, de circulação semanal. No início, Mayumi fez textos e imagens. Aos poucos, aproximou-se mais dos fotógrafos, em busca de dicas, e o chefe do setor começou a lhe passar pautas do jornal diário:
— Isso só fez aumentar meu interesse pela fotografia. Ao fim de dez meses, o jornal escolheu quatro pessoas para serem contratadas e eu tive que escolher entre texto e foto, pois precisava ficar vinculada a uma editoria. Optei pela Fotografia.

No Amazonas é pouco comum encontrar mulheres trabalhando como fotojornalistas. Na época em que Andréia Mayumi foi contratada pela Crítica, era a única mulher trabalhando nessa função em todo o estado:
— Antes de mim, teve a Ana Cláudia Jatahy, a pioneira, que ficou pouco tempo na função. Depois ela resolveu abrir um estúdio e passou a se dedicar à fotografia social. Atualmente, além de mim, há a Ruth Jucá, do Amazonas em Tempo.

Nas faculdades de Comunicação de seu estado, ela observa que o perfil de quem escolhe Jornalismo “não é compatível com o exigido para ser um bom repórter-fotográfico”:
— Ainda há muito da fantasia do glamour de sair da faculdade e ir trabalhar em televisão ou praticar jornalismo de gabinete, onde não é preciso desfazer a chapinha ou a escova do cabelo. 

Para Mayumi, ser repórter-fotográfico implica numa série de desafios — e no Amazonas as dificuldades não escolhem gênero:
— Elas são compartilhadas por ambos os sexos, como os baixos salários, a falta de uma escola especializada, de uma galeria ou um espaço que abrigue os trabalhos dos profissionais locais, de uma pós-graduação na área e até mesmo da qualificação básica. Apesar disso tudo, com base nos resultados de concursos e premiações recentes, é possível colocar o Amazonas no mesmo nível qualitativo da produção fotográfica do resto do País. Precisamos é ter acesso a outros tipos de vitrine. 

Repertório

O Amazonas, diz ela, oferece um vasto e rico repertório de imagens aos repórteres-fotográficos:
— Tem a floresta, com sua fauna e sua flora, os rios e lagos vastíssimos, e muita beleza na vida quase monástica das populações ribeirinhas.

A fotografia, para Mayumi, é uma ferramenta de aquisição de conhecimento:
— E funciona como um texto visual repleto de significados subliminares, intenções e discursos valorativos. Se um dia a imagem foi avaliada como apoio para as matérias jornalísticas, hoje pode ser considerada um outro canal de informação, caminhando junto com o texto e por vezes superando-o pelo poder de síntese, a qualidade estética, a contextualização e a capacidade de suscitar emoções.

Embora não costume se inscrever em concursos, Mayumi ficou entre os finalistas da 5ª edição do Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo (2001/2002) — com o ensaio fotográfico “Retrato em preto e branco” —, foi selecionada para a mostra Agfa-Leica 2005 e ganhou o 1º lugar na premiação do Amazonas em Tempo (1999) na categoria Reportagem Fotográfica — com a cobertura do vazamento de óleo no bairro de Mauazinho, em Manaus. Já as exposições, considera importantes para divulgar o trabalho de quem está longe do eixo das grandes mostras e dos maiores jornais do País:
— Elas dão feedback ao profissional. Costumo circular quieta nos lugares onde exponho para ouvir os comentários sobre minhas fotos. Reflito sobre as críticas boas e ruins sob a perspectiva da valorização do olhar do outro. Valorizo esse momento, porque a fotografia de jornal às vezes é uma atividade muito solitária e a repercussão de uma imagem nem sempre chega ao autor.

Clique nas imagens para ampliá-las: 

“Fiz esta fotografia 
no ano…”

“Foto da sombra 
de uma…”

“Na procissão de São Pedro…”

“As crianças na foto pertencem…”

“Flagrante 
de uma
menina…”

“Alunos 
da rede 
pública de…”

“Jovens e adultos participam…”

“Este é o guitarrista
do grupo…”

“Nesta família, 
as oito…”

“Visão da balsa que atravessa…”