“Sinos dobram pela Tribuna e por todos”


26/01/2009


Em artigo especial para o site da ABI, o jornalista Pinheiro Júnior lamenta a interrupção provisória da circulação da Tribuna da Imprensa e procura responder à pergunta: por que foram fechados tantos jornais no Brasil?

Repórter nos anos 50 a Última Hora de Samuel Wainer, para a qual fez uma série de reportagens que ficou famosa por abordar um problema que então surgia, o da chamada “juventude transviada”, termo popularizado por ele, Pinheiro foi Chefe de Reportagem de UH, e depois, editor de O Globo.

É o seguinte o texto de seu trabalho, mantidos o título, subtítulo e os intertítulos de seu original:

Sinos dobram pela Tribuna da Imprensa. E por todos nós

Da chantagem nacional do papel subsidiado à planetária crise econômica: por que foram fechados tantos jornais no Brasil?

Pinheiro Júnior*

Com o fechamento da Tribuna da Imprensa — ou sua redução à internet e a um claudicante e heróico semanário — acentuou-se mais a concentração de jornais impressos nas mãos (e nos bolsos) de uns poucos magnatas da mídia.

O fenômeno não é novo. Minuciosamente, esta concentração foi estudada como monopólio pelo historiador Nelson Werneck Sodré. Que o registrou na sempre atual “História da Imprensa no Brasil” (1977/Graal). Segundo o que ali está escrito (página 471), o monopólio da comunicação seria no mínimo uma distorção democrática. Distorção — ou degradação? — pela primeira vez trazida a público em forma de denúncia há 54 anos durante um congresso de jornalistas em Belo Horizonte. Monopólio, no sentido de açambarcamento e domínio de mercadoria, era então um termo relativamente novo. Ou pouco empregado com relação à imprensa caracterizada no Brasil pela diversidade empresarial.

Só então se acordavam as consciências para o problema que acentuaria a pobreza cultural do século XX no Brasil humilhando notadamente a imprensa regional. Indigência que desafia ainda hoje o já distante fim da sempre culpada ditadura, toldando, mesmo que parcialmente, o retorno à eleição de presidentes e congressistas com representatividade democrática. E tanto mais se acentua o vácuo cultural quanto mais fica evidente que a cultura e o saber dependem da informação escrita, destacando o jornal como sua ponta mais popular e imediata.

É verdade, porém, que ocorreram na combalida República pelo menos dois mandatos presidenciais de completa trégua para a imprensa. Selaram-se nestes períodos a liberdade editorial e um conseqüente estímulo às informações confiáveis e independentes. Graças aos Governos de Juscelino Kubitschek e de João Goulart, de personalidades marcadas pelo respeito e tolerância para com idéias e opiniões contrárias. Entre um Presidente e outro, o reduzido Governo de Jânio Quadros também não foi de intolerância. Mas JQ assumiu deblaterando contra o volume de papel comprado a dólar subsidiado para a grande imprensa, mostrando como exemplo/escândalo a alfarrábica edição dominical do Estado de S.Paulo. Uma exibição em horário nobre da TV que funcionou como argumento final para a revogação, sem maiores protestos, do controvertido privilégio do papel sob subsídio oficial.

Ao contrário de muitos outros, JK e Jango foram presidentes que deram realmente garantias totais aos jornais. Asseguraram inclusive o livre acesso aos insumos e acessórios jornalísticos nunca arranhando direitos de dizer e de interpretar mesmo de críticos declaradamente inimigos. Caracterizando os ataques quase sempre como injustos e absurdos, esses críticos tinham a construção de Brasília e novas conquistas sociais (a maioria apenas prometida) como temas centrais de um denuncismo duvidoso e reacionário. E que partiam exatamente de onde? E principalmente de quem? Desta aguerrida Tribuna da Imprensa e da implacável verve de seu fundador e principal articulista — o tribuno Carlos Lacerda. É verdade que outros jornais do Rio, São Paulo e Minas se incorporavam às campanhas. Como se houvesse na mídia uma articulação orquestrada com fins golpistas. 

O controle dos jornais pelo Estado

Foi em 1955 que se reuniu em Belo Horizonte o marcante VI Congresso Nacional de Jornalistas. Presentes representantes da decana ABI, da recém-fundada Fenaj e de incipientes entidades sindicais de alguns Estados. Levantou-se então o problema que se apresentava aflitivo para profissionais do jornalismo distanciados das benesses do Poder. Tratava-se de um resíduo realmente sólido/insólito da ditadura Vargas derrubada há dez anos. Um lixo que se acentuava com inesperado assédio governamental ao noticiário e, principalmente, aos editoriais. Materializava-se assim, novamente, a tentativa de domínio dos jornais pelo Estado. Controle que se pretendia e se manifestava através do processo discriminatório de importação e exigências para o fornecimento de papel apenas a jornais de circulação comprovadamente diária. Essas imposições instrumentavam, na verdade, uma pressão que descambava para a chantagem oficial. Ou oficiosa. Sob critério duvidoso, jornal sem bom comportamento não poderia usar papel linha dágua, que era a marca indelével do papel importado sob generoso câmbio oficial.

O representante do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro — Orlando Bonfim Júnior — tinha pronta em Belo Horizonte uma pesquisa demonstrando que, nos últimos cinco anos, o recurso cambial de limitação à liberdade de imprensa apresentava uma face, não absolutamente nova, mas de características políticas e econômicas ainda mais perversas. Porque, afinal, desde 1945, com a derrocada do fascismo na Europa e o conseqüente fim do Estado Novo no Brasil, a expectativa da sociedade apontava para o mais amplo direito à opinião e ao ato de noticiar de forma multiplicada ao alcance de todos. Em tese, o papel subsidiado deveria funcionar como o agente mais importante do pretendido salto cultural. Era uma esperança que deveria atingir também, de forma diferente, a expansão do rádio e, muitos anos mais tarde, as televisões cujos canais foram concedidos pelo Governo a particulares com prestígio e, vamos dizer, com comprovada capacidade empresarial. As tevês promoveram logo uma revolução na imprensa. E haveriam de crescer dominadoras da consciência e do comportamento populares por conseguirem impor suas imagens com a onipresença que o jornalismo escrito jamais alcançaria. Porém, para solidificar o futuro promissor, contribuiria não apenas o aumento vegetativo da população. Seria importante também o barateamento de apetrechos e insumos destinados à mídia impressa. Mas, importante mesmo, seria o crescimento do índice de escolaridade da população. Reduzir o analfabetismo, ampliar a escola pública e botar o brasileiro para ficar em sala de aula o maior número de anos possíveis até que conseguisse estar pronto para galgar cursos técnicos e universitários. E pronto, portanto, para saber ler, entender e até julgar o que publicam jornais e revistas. 

A vulnerabilidade dos mais pobres

No entanto estava ali, posta à execração jornalística naquele encontro de Belo Horizonte, o sistema de quotas de papel estabelecidas com generoso e discriminatório câmbio, rotulado popularmente de dólar-jornal.

Mesmo com o desenvolvimento da indústria nacional de celulose e papel a partir da era JK, que reduziu a níveis menos alarmantes a dependência de importações canadenses e finlandesas, a denúncia de Bonfim Júnior em 1955 pode parecer bem atual se nos abstrairmos das mudanças globais intrínseca e especificamente tecnológicas.. Em síntese, dizia ele o seguinte:
— Há uma tendência no sentido de tornar inaccessível aos jornais mais pobres esse elemento essencial que é o papel de imprensa.

Mantendo-se nesta batalha que mais se politizaria com seu ingresso na Imprensa Popular, a vida deste jornalista desafiador de interesses poderosos ficou em perigo após o golpe de 1964. Os empastelamentos promovidos pela direita paramilitar, não se abateram apenas sobre as edições de Última Hora do Rio a Recife. Os jornais orientados pelo PCB foram simplesmente exterminados pela polícia. E só não o foram completamente porque se refugiaram na clandestinidade ganhando os subterrâneos da mídia. Mas Bonfim Júnior acabaria por ser assassinado. Como era notória sua militância comunista, foi preso em 1975. Mesmo ano do mais rumoroso dos assassinatos de jornalistas — o de Vladimir Herzog, da TV Cultura de São Paulo. Os carrascos do DOI — Codi tentaram fazer crer que ocorrera um suicídio no caso Herzog. Descobriu-se mais tarde que tanto ele como Bonfim Júnior, haviam sido torturados até a morte, segundo confissão de “fontes militares”, assim identificadas pelo Estadão e a Folha de S. Paulo, que tentavam romper o silêncio imposto pela censura, Bonfim Júnior foi sepultado em segredo. Onde, a família não sabe ainda. E reclama seu corpo mobilizando permanentemente a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.

Mas, se na metade do século passado a discriminação cambial e a chantagem do papel podiam provocar o fechamento de muitos jornais País afora, o advento da ditadura militar em 1964 ressuscitou estas ferramentas econômico-financeiras em forma de atrocidade sem qualquer sutileza oficial. Durante os anos de chumbo foram a aberta censura, o explícito boicote econômico e a perseguição policial direta nas redações os responsáveis pelo fechamento dos mais importantes jornais da época. Finaram seus dias de luta pelo direito do povo à notícia e à liberdade de opinar, pelo menos quatro grandes jornais com circulação nacional: Diário Carioca, Diário de Notícias, Correio da Manhã e Última Hora. Milhares de profissionais foram lançados ao desemprego, de 1965 (fechamento do Diário Carioca sob a direção de Danton Jobim) até 1972 (fim da Última Hora de Samuel Wainer). Quando não ficavam pura e eventualmente sem emprego, jornalistas eram aprisionados ou empurrados para o exílio sob acusação de delitos que encerravam, por vezes, apenas e incautas discordâncias ideológicas. Desta situação de penúria ou tortura declarada, a luta clandestina ficava a um passo, podendo significar para muitos, inclusive, opção única de sobrevivência imediata.

Foram mais de 20 anos de repressão político-militar que nem o Estado Novo de Vargas ousou impor ao País com tal ferocidade. Estabeleceram-se inéditas perseguições que acentuaram ainda mais a castração ao direito da propriedade de empresa jornalística. Restringia-se o privilégio a uns poucos órgãos que apoiavam o regime militar e estavam aptos, segundo a lógica da ditadura, a gozar de benesses econômicas e confiança irrestrita por parte de anunciantes poderosos, mas vulneráveis, também eles — os anunciantes — às sanções militares. Assim, jornais marcados por veleidades libertárias foram se esfacelando um a um. E eis que agora, como numa volta ao passado de terror, o fim das edições diárias da Tribuna da Imprensa dirigida por Hélio Fernandes — célebre pelo inconformismo e a irreverência — parece reforçar a convicção de que a ditadura não acabou. Sobrevive em sanções econômicas. Está viva na proverbial lentidão e na sempiterna apatia da Justiça e de outros poderes decisórios de uma República que não cuida de salvar sua débil democracia. Enquanto isso, a sonhada liberdade e a diversidade empresarial, ainda que sob a tutela de insuspeitadas circunstâncias que escapam à compreensão do leitor comum, são cada vez mais reféns de forças econômicas que se impõem com descaramento multinacional. Ou, como se diz eufemisticamente, com globalizada desenvoltura. E, como se sabe, se a economia conduz a política, é obvio que determina também a perenidade ou não dos jornais. 

A franqueza de David Nasser

Não seria despropósito lembrar, ante tantas adversidades e descontentamentos profissionais, um velho e insuspeito depoimento. Deu-o o repórter David Nasser, cronista da revista O Cruzeiro, morta em 1975. Foi a maior e mais prestigiosa revista que o País já conheceu. Mas aderiu à ditadura com tais ímpetos e transações que acabou ligada tragicamente ao seqüestro e assassinato de seu último dono, Alexandre von Baumgarten, que tentava o relançamento da revista sob secretos auspícios de próceres da ditadura.

A entrevista de Nasser está também registrada por Nelson Werneck Sodré (página 479 da “História da Imprensa no Brasil”). Com sarcástica clareza, Nasser falou o que foi interpretado na época como simplória visão do panorama e do movimento jornalístico. Uma atividade — quem ignora? — que não se moveria nunca de outra forma numa sociedade desejadamente capitalista. Falando, porém, como não se deve falar “de corda em casa de enforcado”, disse Nasser o que não se dizia abertamente e com toda franqueza a outra revista de prestígio — a Manchete — que fazia dobradinha com a novel TV do mesmo nome. Ambas haveriam de se desintegrar empresarialmente, arrastando-se a revista, penosa e heroicamente, com esporádicas edições carnavalescas, até os dias de hoje. Era uma publicação que sobreviveria, portanto — e Adolpho Bloch sabia sob que condições — às agruras impostas por uma submissão humilhante aos militares.

Manchete estampou as declarações de Nasser na edição de 15 de outubro de 1965. Dizia ele:
— No Brasil nunca houve, na realidade, liberdade de imprensa. O que existe e sempre existiu é a opinião do dono do jornal.

Abancava-se o entrevistado na experiência dos (quase também extintos) Diários Associados fundados pelo lendário Assis Chateaubriand e herdados por um complicado condomínio nacional, sob o qual o Jornal do Commercio do Rio de Janeiro se mantém ainda hoje como a jóia remanescente da coroa. Nasser disse então mais o seguinte:
— No jornalismo, como vocês sabem, só se faz fortuna sendo picareta ou então alugando a opinião.

Nasser era rico. Como não se imaginava que um repórter pudesse ser. Menos, certamente, do que o fôra seu patrão e mestre Chateaubriand. Mas dispunha até de guarda-costas que integravam o Esquadrão da Morte — a organização policial-criminosa apaniguada pelo chefe de Polícia Amauri Kruel, o comandante do Segundo Exército em São Paulo cujo apoio, na madrugada de 1º de abril de 1964, decidiu a derrubada de Jango, que o julgava um confiável aliado. 

O corollarium de Roberto Marinho

Um dos mais importantes editores de Última Hora Rio e Recife, da também extinta revista Realidade e do vitorioso diário O Globo — o jornalista Milton Coelho da Graça — falando sobre o pretenso sacramento da liberdade de imprensa em recente reunião do Conselho Deliberativo da ABI, lembrou que quem sabia das coisas era Roberto Marinho. E citou famosa frase do incontestável empresário construtor da organização hoje galvanizada em cadeia de jornais, redes de rádio e TV, produções cinematográficas e fonográficas, além de insuspeitados negócios comerciais, industriais e bancários. Quem não tomou conhecimento ainda desse oligopólio apresentado como símbolo do triunfo do mercado aliado ao jornalismo e da acertada gestão administrativa? Ao contrário do Jornal do Brasil, que se consome e se definha sitiado por turbulências financeiras atribuídas a gestores distantes da realidade, vamos dizer, do jornalismo empresarial.

Eis o corollarium de Roberto Marinho citado por Milton Coelho:
— Sagrado em jornal, meu filho, só existe o anunciante.

“Uma verdadeira proposição empresarial” — concordam mesmo os céticos e apáticos. Quanto ao apoio dos declaradamente antiéticos, não consideram eles o drama pessoal e coletivo da profissão. A robotização das redações. O aviltamento dos salários. A apuração dos fatos manipulados e virtualmente cafetinizados por imposições e veiculações através de agências e órgãos de comunicação afiliados à matriz das notícias sem a correspondente remuneração por direito de propriedade intelectual. Para emergir desses escombros, escapar do fantasma das demissões e manter alguma fidelidade a ideais aprendidos em boas escolas de jornalismo, ao profissional consciente só restaria uma limitada ascensão de carreira em busca de notória capacidade e poder para influir empresarialmente.

Tudo isso implica com clareza na redução do poder dos jornais. Ao tempo em que se capitalizam podem estar perdendo leitores. Muitos se convertendo em vistosos catálogos de anúncios com ou sem sinal de matéria paga. Parecendo apontar essa sobrepujança da informação publicitária — paradoxalmente aliada à debilidade da missão primeira dos jornais — para uma total e revolucionária mudança na mídia que se contorce buscando caminhos ao longo deste terceiro milênio de irremediável e imprevisível informatização. Mesmo sob alta credibilidade documentada por ibopes, o jornal diário, o rádio e a TV estão visivelmente desprestigiados. Estão deixando de ser o tão badalado “quarto poder”. E têm circulação e audiência reduzidas a cada dia, a cada novo impacto econômico ou tecnológico. Culpar a concorrência da internet — como há meio século os jornais culparam a TV — acreditar na penetração de infindáveis sites e desarvorados blogs para explicar esta nova vertigem é no mínimo reducionismo jornalístico. 

Um admirável mundo novo?

Algo mais magnificente, por assim dizer, há de surgir para a mídia-jornal sobreviver. Pelo menos é o que se espera. E se for o caso, ganhar vida nova dentro de um processo de reciclagem sem a tradicional dependência da prensa, da tinta e do papel. Inserindo-se no contexto desencadeado pela era digital que coloca tudo na palma da sua, da nossa, na mão de todos. Na ponta dos dedos, melhor dizendo, para facilitar a leitura ao alcance dos mais variados nichos de interesse. Como parece ocorrer com a magia da sempre polêmica internet.

Fundada em pleno ano do Ato-5 (1968), a pragmática revista Veja debate-se agora — exemplarmente! — para antecipar o que seria esse admirável mundo novo (Aldous Huxley que nos desculpe pela apropriação). Garante a publicação – menina dos olhos da família Civita, da Editora Abril – que já tem à disposição de leitores e internáutas uma estrutura digitalizada idêntica às páginas impressas da Veja, cuja instrumentação simula o manuseio do papel com o usuário podendo navegar “como se estivesse com uma revista nas mãos”. Outras publicações, como o Jornal do Brasil, desenvolvem também o recurso. Mesmo porém sensorialmente confortáveis, são recursos ainda pífios que, por enquanto, só fortalecem o insubstituível conceito de permanência/imanência que as publicações impressas em papel gozam por poderem ser tocadas, transportadas e estocadas em hemerotecas públicas ou caseiras. Ter um jornal nas mãos, dobrar uma revista, marcar ou recortar detalhes de notícias e artigos: quando o ser letrado se submeterá a tais renúncias?

Mas como nada acontece por acaso, jornais do mundo inteiro tremem e gemem com sombrias (e mais concretas) manchetes sobre a atual crise econômica que irrompeu através das fronteiras dos EUA. A depressão se instalou no mundo inteiro e se acentua dia a dia. É um drama em escala coletiva tão inédita quanto também pessoal. E que conduziu a jornalista britânica Lucy Kellaway a investigar, para o Financial Times, o que vai pela alma de milhares, talvez milhões, de vítimas das demissões em massa. Considerou ela (Valor Econômico, 26 a 28/12/2008, página D8) que tanto para demitidos como para não demitido há “uma orgia de medo”. E é fácil compreender por que quem ainda tem emprego sofre tanto quanto. Ou mais.

O drama da Tribuna da Imprensa não se relaciona diretamente com a crise global advinda do chamado subprime americano. Mas seu desfecho a 2 de dezembro último, com repórteres, redatores e editores sem receber pagamentos há pelo menos quatro meses, é no mínimo uma sincronicidade jungueana. Que enlutou e colocou em alerta toda a família jornalística. O que nos leva a concluir como o poeta inglês John Donne, inscrito com seu lírico saber no pórtico do romance de Ernest Hemingway – Por Quem os Sinos Dobram (1956, tradução de Monteiro Lobato, Companhia Editora Nacional). Porque, se a liberdade e a própria vida humana não são uma ilha isolada, são um arquipélago, nenhum jornal morre sozinho:
—… E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por Ti. 

José Alves Pinheiro Júnior é Conselheiro da ABI e escreve
novelas não-ficção baseadas em notícias e reportagens