Repórter da Gazeta do Povo deixa o País


08/01/2013


Mauri König, diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e repórter da Gazeta do Povo, do Paraná, exilado com a família após receber ameaça anônima de que teria a casa metralhada por policiais militares, disse que as ameaças “não o silenciarão”. O jornalista confessou o desejo de retornar logo ao Brasil.
 
Exilado por questões de segurança pessoal desde os últimos dias de 2012, König explica que imediatamente após as ameaças, no dia 17 de dezembro, o jornal contratou quatro seguranças. Naquele mesmo dia ele já dormiu, com a mulher e o filho de três anos, em diferentes hotéis de Curitiba.
 
“No dia 22 de dezembro, deixei o País, com apoio da Gazeta, do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), sediado nos EUA, e do Instituto Prensa y Sociedad, do Peru. A Abraji, da qual sou diretor, também está me dando um apoio incondicional. Mas eu continuo fora do País, por tempo indeterminado”, disse.
 
O jornalista disse que sabe de quem são as ameaças, mas não tem como provar. “Tenho certeza de que são policiais civis. Em maio, quando fui ameaçado, eles me chamaram de inimigo número 1 da Polícia Civil, num blog assinado por policiais. Pelo linguajar, dá para saber que são eles que escrevem”, comentou.
 
Questionado sobre o que espera das autoridades, König fez cobranças e disse que não é somente ele que está em risco, mas a sociedade brasileira. “Espero que o Ministério Público e a Polícia Civil do Paraná consigam enxergar os autores dessas ameaças. Não sou eu apenas que estou em risco. É a sociedade brasileira, que tem direito à informação e direito de saber como a corrupção afeta seus direitos elementares”, disse.
 
“Se a Polícia Civil não levar adiante as investigações, teremos para sempre esse risco de ameaça sob nossas cabeças. Se não forem encontradas, essas pessoas se sentirão autorizadas a continuar a fazer ameaças. Em maio, o governo do Estado foi condescendente quando não levou adiante as investigações. É corresponsável pelas ameaças que sofremos agora”, completou.
 
Apesar dos riscos, ele é categórico ao afirmar que “não podemos ceder às ameaças”. “Se cedermos, os agressores vão notar que venceram e se sentirão autorizados a repetir. Talvez precise encontrar apenas uma maneira alternativa de fazer essa cobertura. Ceder, jamais”, ressaltou.
 
Esperando retornar ao País, o jornalista diz que vai continuar seu trabalho. “Depois que você percebe que o jornalismo de profundidade dá resultado, incomoda a parte denunciada e faz diferença na vida das pessoas, não consegue mais fazer outra coisa”, afirmou.
 
“Esse é o meu caminho, quero esgotar os assuntos. E não tenho como abrir mão dessa estrada trilhada há tanto tempo. Não vou ceder a ameaças”, finalizou.
 
 
*Com informações do Portal Imprensa e Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.