Reflexões sobre os Jogos Olímpicos 2008


25/08/2008


Colaboração de Ilma Martins, jornalista e sócia da ABI

Com o encerramento dos Jogos Olímpicos de Pequim, constatamos com um misto de tristeza e desânimo o pífio desempenho da nossa delegação, composta de 277 atletas de várias modalidades esportivas. O que ocorreu de 2004 até agora? Será que os nossos atletas não foram prévia e devidamente preparados para competir em pé de igualdade com os outros países?

Essas indagações têm sentido se levarmos em conta o decantado Programa Bolsa-Atleta, os 2% da arrecadação de todas as loterias federais do País que são repassados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e ao Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) pelo Governo. Segundo informações do Ministro dos Esportes, Orlando Silva, à imprensa, foram investidos cerca de R$ 40 milhões na preparação da nossa delegação para os Jogos Olímpicos de Pequim, mas, pelo fraco desempenho dos principais atletas, isso parece insuficiente se compararmos com os nossos vizinhos mais próximos.

Durante a abertura dos Jogos, dia 8 de agosto, o próprio Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, fez corpo-a-corpo junto aos ilustres convidados e dirigentes do COI presentes ao evento para convencê-los de que o Brasil está apto para preparar a Olimpíada 2016. Será?

O desejo de sediar uma Olimpíada é legítimo e até louvável. Tal evento, além de dar grande visibilidade ao país sede, traz polpudos dividendos econômicos, políticos e culturais, repassando ao mundo os nobres ideais de paz e fraternidade. Verificamos isso com a celebração aqui dos Jogos Pan-Americanos, apesar de reconhecermos que muitas das promessas feitas em relação principalmente à infra-estrutura, como o metrô, não saíram do papel, além da bela piscina que não está sendo devidamente utilizada e em litígio com os Poderes estadual e municipal.

O que mais me preocupa é o fato de que os nossos dirigentes do desporto dão mais ênfase à parte estrutural do que ao fator humano quando falam da preparação dos Jogos Olímpicos de 2016. Já devíamos, há muito tempo, ter iniciado o mutirão em todos os cantos do País para descobrir, atrair e assistir os possíveis talentos esportivos, elaborando quadros de técnicos, professores de ginástica, psicólogos, massagistas, médicos e todos aqueles ligados à nobre causa esportiva. Nota-se a falta de vigor físico dos nossos atletas, com algumas poucas exceções. A boa nutrição das nossas crianças lhes dará ânimo para cultivar naturalmente as lides esportivas. O futebol não é e nunca será o bastante. Precisamos do esporte de massa, nas escolas, nos clubes, nas comunidades urbanas e rurais e, também, nas universidades.

Se não se colocar a mão na massa desde agora, corremos o risco de gastarmos bilhões preparando a festa e não correspondermos à altura na aquisição das medalhas olímpicas que estarão à disposição dos mais capazes, lamentando depois por cada medalha de ouro perdida para os outros concorrentes.