Perdemos o jornalista Dermeval Pinheiro Netto


06/09/2021


por Sergio Caldieri*

O jornalista Dermeval Pinheiro Netto faleceu de câncer neste domingo. Na última semana, perdemos os jornalistas Humberto Moreira Rangel, Adalberto Diniz, Victor Passos e Nilson Lage.

Dermeval nasceu em 10 de junho de 1950, no Rio de Janeiro. Estudou Direito na UFF, em Niterói, em 1972, e fez mestrado de Comunicação Social na Universidade Nacional de Brasília em 1977, no auge da repressão, época do reitor capitão José Carlos Azevedo. O jornalista, professor, diretor de cinema e TV estava presente diariamente do Facebook com sua pena afiadíssima nas críticas ao sistema atual, na política, noticiário geral, nacional e internacional.

Dermeval teve uma brilhante carreira dirigindo diferentes documentários, séries de TV e vídeos. O Dicionário Ricardo Cravo Albin da MBP fez um excelente relato das suas atuações em várias emissoras de televisão. Em 1976, publicou, em co-autoria com Delfim Afonso Jr., o artigo “Cultura Popular na TV ou a Voz do Dono”, no jornal Movimento, um dos mais combativos na ditadura militar. Nesse ano, atuou como professor de “Cultura Brasileira” na Faculdade de Comunicação da Universidade Católica de Minas Gerais.

Entre 1978 e 1980, participou de projeto de pesquisa sobre os efeitos da programação de TV junto ao público infantil, pela TV Educativa e INEP – MEC. Em 1978, participou do projeto Pesquisa Nacional sobre Televisão, realizado pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa da Comunicação. Em 1980, escreveu a orelha para o livro “Ismael Silva: Samba e Resistência”, de Luiz Fernando Medeiros de Carvalho.

De 1984 a 1988, dirigiu o “Evento Carnaval”, série de programas especiais no período pré-carnavalesco na TV Manchete e cobertura do Carnaval com transmissão de Bailes e Desfiles das Escolas de Samba na mesma emissora. Entre 1985 e 1986, dirigiu, na TV Educativa, o projeto “Eu Sou o Show”, uma série musical em capítulos semanais, dedicada a vida e obra de diferentes músicos, entre os quais Ivan Lins, Nana Caymmi, Blitz, João Nogueira, Jair Rodrigues, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Sérgio Ricardo, João Bosco, Golden Boys, Marcos Valle, Carlos Lyra e Paulinho da Viola. Em 1985, dirigiu o documentário “Depende de nós – Ivan Lins”, que integrou a mostra competitiva do FEST Rio daquele ano. Em 1986, dirigiu o documentário “Poema de Pássaro – Alceu Valença”, que fez parte da mostra competitiva do FEST Rio do mesmo ano.

Entre 1987 e 1991, atuou como professor das disciplinas “Televisão Educativa” e “Comunicação e Educação”, no Mestrado em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Em 1989, ano em que se comemorou o centenário da Abolição da Escravidão, dirigiu o documentário “Manoel Congo”, sobre a História da insurreição negra e formação do quilombo de Paty do Alferes, no século XIX, e seu líder Manoel Congo. No mesmo ano, dirigiu, na TV E, o especial “Cantoras da Noite”, uma crônica da boemia carioca, através das canções e das cantoras da noite.

Suas produções, como diretor de projetos, ainda somam outros títulos: Em 1990, o documentário “Salgueiro no Parque”, apresentado na TV E, sobre a criação estética do carnaval pela artista plástica e carnavalesca Rosa Magalhães. Em 1991, o documentário “Alvorada de Carlos Cachaça”, apresentado na TV E, sobre compositor da Mangueira, focalizando seu mundo, suas memórias e sua obra. Em 1993, “Aliás, Grande Othelo”, homenagem ao ator Grande Othelo. Em 1994, na TV E, as séries “Batacotô e Amigos”, sobre a cultura popular afro-brasileira. No mesmo ano, o documentário “Especial Tom Jobim – sua música, seus parceiros, amigos e intérpretes”, apresentado na TV E. Em 1997, a série especial de música instrumental “Pixinguinha 100 anos”, em homenagem ao compositor.

Dermeval atuou ainda na Gestão de Área de Produção e Desenvolvimento de Projetos. Entre 1994 e 1996, participou da implantação e gestão da Superintendência de Entretenimento Cultural na TV E, com a criação e desenvolvimento da grade de programas culturais e documentários nas áreas de música popular, música instrumental, jazz, cinema e artes cênicas. Participou da implantação e gestão da TV Estácio, na Universidade Estácio de Sá, entre 2003 e 2007.

Como jornalista, atuou, entre 2002 e 2003, na equipe das entrevistas do jornal Pasquim 21. Entre 2005 e 2006, integrou a equipe de jornalistas das entrevistas do Caderno B, do Jornal do Brasil. Em 2007, dirigiu a produção do documentário “Darcy Ribeiro, o Guerreiro Sonhador”. Entre 2009 e 2011, dirigiu a série de programas de TV “ABZ do Ziraldo”.

No último debate sobre o filme “Barravento”, de Glauber Rocha, de 1962, no Cine ABI, o cineasta Vladimir Carvalho, a crítica de cinema Maria do Rosário Caetano e Dermeval Netto relembraram a época da repressão na UnB durante a ditadura militar.

Apaixonado desde sempre por cinema, Dermeval criou há quatro anos um blog destinado a suas críticas de filmes, trabalho que vinha mantendo com regularidade e entusiasmo no endereço http://dermevalnetto.blogspot.com/. O último texto ali publicado dizia respeito ao filme “Alvorada”, de Anna Muylaert e Lô Politi, sobre o período em que a ex-presidenta Dilma Rousseff aguardou o resultado do golpe que a tirou do poder em 2016.

Nas redes sociais, Dermeval nunca se cansou de se posicionar contra o crescimento recente do fascismo no Brasil e em defesa de uma imprensa digna, comprometida com a verdade e com as causas populares.

Fonte: Dicionário Ricardo Cravo Albin da MPB.
Com pequena colaboração do crítico e pesquisador Carlos Alberto Mattos.

* Sergio Caldieri é jornalista, escritor, membro do Conselho Deliberativo da ABI e Vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro-SJPERJ.