Orkut: ferramenta a serviço do jornalista


19/04/2006


Claudio Carneiro 

Com quase 15 milhões de integrantes em todo o mundo — 80% deles brasileiros — o site Orkut, de comunidades e relacionamentos, tornou-se um fenômeno de comunicação que nem mesmo o Google — proprietário da marca — nem seu criador — o turco Orkut Büyükkokten — conseguem explicar. Esta rede social entrou no ar em 22 de janeiro de 2004, com o objetivo de ajudar seus membros a buscar novas e velhas amizades e manter relacionamentos, de ordem pessoal ou profissional.

Além do lado brincalhão e absolutamente sem compromisso da maioria de seus integrantes e comunidades, o Orkut oferece uma série de negócios e oportunidades, como produtos raros, artigos de colecionador, discos de vinil e milhares de propostas — para todos os gostos. De imediato, algumas categorias profissionais perceberam a força desta ferramenta e sua utilidade na oferta e busca de oportunidades, serviços e até mesmo empregos. Não foi diferente com os jornalistas. Uma simples navegação pelo Orkut revela que os profissionais de imprensa do País não dormiram no ponto e o utilizam como ferramenta de trabalho.

       Alessandro Mendes

Uma dessas comunidades é “Trabalho para jornalistas”, que foi criada pelo colega de Brasília Alessandro Mendes e que na segunda-feira, 24 de abril, contava com 12.927 integrantes. Uma das regras do grupo é que não vale pedir emprego ou perguntar sobre vagas. É permitido somente oferecer ou indicar o nome de empresas que tenham oportunidades de estágio para estudantes ou trabalho para profissionais formados. Quem postar tópicos desrespeitando esses princípios, ou veicular conteúdo de cunho comercial ou publicitário, acaba expulso.

Alexandre Sena

Alexandre Sena — que em seu perfil se define como “polêmico, atrevido, descompromissado e desconcertante” — abriu um tópico na comunidade denunciando empresas que não pagam os serviços prestados pelos jornalistas. Mais de cem colegas aproveitaram o caminho aberto e também se queixaram dos caloteiros. Diz ele:
— Apenas aproveitei o espaço e criei o tópico. Já havia algumas denúncias em tópicos isolados, então decidi abrir outro para aglutinar as informações. O calote é muito comum, pelo menos aqui em Brasília.

        José Adaberon Silva

Já a comunidade criada por José Adaberon Silva, “Jornalistas e assessores” — com 10.901 membros —, discute as relações nem sempre pacíficas entre os que exercem as duas funções. Um dos últimos tópicos postados discute a polêmica questão se o assessor é jornalista. Alguns integrantes criticam os colegas “do outro lado do balcão”, mas a maioria considera que o trabalho de assessoria de imprensa é igual a outro qualquer, pelo qual muitos passam ao longo da vida profissional. 

Bruno Cardoso

Frilas e pautas

Quem é freelancer e está procurando trabalho pode dar uma passadinha em “Freelas”, comunidade — 6.792 integrantes — criada pelo jornalista Bruno Cardoso.

Já a comunidade “Pautas online” — com 3.449 integrantes — descreve seus serviços da seguinte forma: “Se você é assessor de imprensa e quer uma ‘ajudinha a mais’ para divulgar as suas pautas, basta registrá-las aqui! Jornalistas de redação, usem e abusem!”

Sócia da ABC Comunicação, de Belo Horizonte, a assessora de imprensa Clarissa Lotti sempre busca essa ‘ajudinha a mais’ para melhor atender seus clientes:
— Na verdade, esta não é a primeira vez que o Orkut me socorre na profissão. Sempre entrei nos grupos relacionados a jornalismo e comunicação. Da primeira vez, buscava uma colocação profissional; recentemente, usei para divulgar um cliente de Curitiba. Acho que comunidades como esta são de grande ajuda. 

          Clarissa Lotti

Para Clarissa, além de divulgar vagas interessantes, as comunidades jornalísticas facilitam o trabalho:
— Entre outras coisas, elas proporcionam caminhos mais fáceis, principalmente no meu campo de atuação, em que o mercado é ainda muito fechado. No caso específico do cliente de Curitiba, as pessoas a quem pedi ajuda através do Orkut foram muito solícitas, receberam minha sugestão de pauta e tentaram ajudar da melhor forma possível. Quanto às vagas de emprego para as quais enviei meu currículo, sempre obtive respostas, mesmo não sendo positivas. O Orkut é uma ferramenta muito útil para auxiliar o dia-a-dia do trabalho e também para estreitar laços entre os profissionais.

Outra comunidade muito freqüentada — são 16.621 integrantes — é a “Profissionais de comunicação”, que pretende discutir o mercado e as melhores práticas e ser um espaço para o compartilhamento de experiências e opiniões.

Entrevistas

Bem menor — são 2.230 integrantes —, a “Profissionais de televisão” é dedicada aos profissionais de videoprodução, TV e jornalismo para a troca de informações sobre equipamentos, softwares, idéias, dicas, críticas e eventos.

Já a “Jornalismo online” é formado por 7.278 pessoas que participam de grupos de discussão e respondem a entrevistas na própria comunidade. Bom, há exceções. A integrante que usa o apelido “Lobinha” ficou a ver navios: sua entrevista era um questionário com 20 perguntas. Resultado: ninguém respondeu — afinal, paciência tem limites.

A comunidade — como diversas outras — não aceita qualquer tipo de mensagem de cunho publicitário. Temas como o documentário “Falcão — Meninos do tráfico”, exibido no “Fantástico”, e o inesquecível caso da Escola Base de São Paulo, bem como “micos” e “barrigas” da imprensa brasileira estão na pauta do dia do grupo, que também aceita os que dele se socorrem na busca de personagens para suas matérias.

Geovana Ferreira

A fim de defender a formação universitária dos colegas que ingressam no mercado de trabalho e discutir mais profundamente a atividade jornalística, a paulista Geovana Ferreira criou a comunidade “Abaixo os jornalistas sem diploma”, que chegou a 546 membros:
— Foi-se o tempo em que o diploma era simples balela. Hoje ele é exigido para o exercício legal da profissão. A legislação profissional permanece válida e, segundo o Vice-presidente da Fenaj e Presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Fred Ghedini, os registros precários não têm mais valor — diz Geovana.

Formada em 2000, ela lembra que há muitos exemplos de profissionais com mais de 30 anos de carreira sem diploma:
— Essas pessoas têm a prática da profissão e merecem todo nosso respeito. Meu objetivo era reunir aqueles que são contra o exercício ilegal da profissão. Pude constatar que a irregularidade está no País inteiro e os órgãos competentes ainda não se manifestaram. Exercer o jornalismo sem curso superior é crime e há quem concorde comigo. Nas pequenas cidades, por exemplo, é comum alguém, depois de ficar desempregado, vender uns anúncios, escrever algumas linhas com erros grotescos de Português e sair falando que é jornalista.

Crítica e discussão

            Luiz Moraes

Algumas comunidades preferem discutir em seus tópicos o desempenho de determinada mídia. Não faltam críticas a jornais e emissoras de rádio e televisão. No tema comunicação, uma das mais concorridas é “Eu tenho medo do Plantão”, com 410.930 integrantes que sentem arrepios quando toca aquela musiquinha do “Plantão da Globo” e a programação normal da emissora é interrompida. São cerca de mil adesões diárias e 60 visitas por hora.

Com 6.862 integrantes, “Jornal nacional — JN” atua como um fórum de discussão sobre os temas abordados pelo jornal de maior audiência da TV. Entre outras coisas, seus integrantes sugerem que o programa abandone — literalmente — o terno e a gravata. Há os que antecipam informações sobre mudanças no cenário virtual do informativo e os que questionam por que William Bonner faz comentários sobre as notícias e sua mulher, Fátima Bernardes, não. O fórum foi criado pelo carioca Luiz Moraes:
— Minha intenção foi permitir que as pessoas conhecessem um pouco mais sobre este que é o mais influente telejornal do Brasil. Existe muito folclore sobre o “JN”, fato que me deixou interessado em esclarecer coisas às pessoas. O “Jornal nacional” é campeão de audiência por ser bem-feito, só isso.

Fubex Leandro

Em contrapartida, a comunidade “Eu odeio o Jornal Nacional” — que tem 3.229 membros e foi criada por Fubex Leandro, de Ribeirão Preto — critica o que chama de excesso de formalidade, parcialidade e manipulação do programa informativo e classifica como chato o casal de apresentadores.

        Gabriela Godoi

Com 904 membros, o grupo “Jornal do Brasil”, da jornalista Gabriela Godoi, é usado para que atuais e ex-funcionários do JB contém “causos”, avaliem a atual situação da empresa, comuniquem falecimentos de colegas e, para descontrair, elejam o fotógrafo mais simpático e o motorista mais louco da casa:
— Criei a comunidade logo que a febre do Orkut começou. No início, o objetivo era reunir o pessoal que trabalhou junto no JB Online. Durante o período de venda do jornal para o (Nelson) Tanure, anônimos publicaram mensagens defendendo ou atacando a transação. Como administradora do espaço, deletei os mais agressivos. Estou até querendo passar a moderação para outra pessoa, pois não me sinto mais parte daquele grupo. Tenho saudades da Avenida Brasil, 500 (antigo endereço do JB). 

Uma novíssima na área é a do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro — “SJPMRJ – Jornalistas cariocas”. Criada em abril, tem, por enquanto, apenas 56 membros.

Orkut Büyükkokten

O que é o Orkut

O Orkut se autodenomina uma rede social e foi desenvolvida pelo projetista-chefe do Google, o engenheiro de software Orkut Büyükkokten. Nascido na Turquia, ele desenvolveu o projeto quando estudava na Universidade de Stanford, nos EUA. Inaugurado em 22 de janeiro de 2004, com o objetivo de ajudar seus membros a criar novas amizades e manter relacionamentos, o site tem hoje cerca de 15 milhões de integrantes em todo o mundo, espalhados em milhares de grupos — ou comunidades — criados livremente por seus usuários.

Desenhado para reforçar laços de amizade e identificação entre seus integrantes, o Orkut baseia-se na Teoria dos Seis Graus de Separação, segundo a qual qualquer pessoa do planeta pode ser conectada a outra por uma rede de no máximo cinco intermediários — alguns estudiosos da teoria dizem que o Orkut serve apenas para provar que ela é verdadeira. Para eles, George Bush, por exemplo, precisaria de apenas cinco contatos para chegar a Osama Bin Laden — mas antes teria de ser convidado para participar da rede social, única forma de ingressar no Orkut, que quer se manter uma comunidade fechada para amigos.

As comunidades são abrigadas em diferentes categorias, como Romances e Relacionamentos, Negócios, Culturas, Viagens, Culinária, Bebidas, Animais, Esporte e Lazer. Cada usuário tem um grupo de amigos e pertence a uma série de grupos. Quem gosta de futebol, por exemplo, pode entrar em um dos milhares dedicados ao tema — “Zico: Presidente do Flamengo”, “Gaviões da Fiel”, “Sou motense fiel”, “Cruzeiro Esporte Clube” etc. etc. etc.

Os grupos de discussão que participam de cada uma das comunidades abrem diversos temas para a troca de idéias. A ferramenta, no entanto, passa ao usuário a falsa impressão de anonimato e impunidade. Isto suscita a criação de comunidades que fazem a apologia de crimes como racismo, homofobia e tráfico de drogas, o que levou, em meados de 2005, à prisão de uma quadrilha formada por seis jovens fluminenses que vendia ecstasy e cocaína em uma das comunidades.