“Projeto de Vargas deu lugar a discursos vazios”, diz Carlos Lessa


Por Igor Waltz

26/08/2014


Geraldo Pereira, Orpheu Santos Salles, Carlos Lessa, Jesus Chediak e Loris Baena (foto: Di Paola)

Geraldo Pereira, Orpheu Santos Salles, Carlos Lessa, Jesus Chediak e Loris Baena (foto: Di Paola)

Um projeto nacional baseado no desenvolvimento econômico e na defesa dos interesses do País. Assim o legado de Getúlio Vargas, que presidiu o Brasil entre 1930 e 1945, e entre 1951 e 1954, foi descrito pelo economista Carlos Lessa durante o seminário “Odiado pelos inimigos, amado pelo povo, um homem muito além do seu tempo”, na última segunda-feira, 25 de agosto, na sede da ABI. O evento rememorou os 60 anos na morte de Vargas, que se matou com um tiro no peito no Palácio do Catete, no Rio, após ameaça de golpe por seus opositores.

A abertura do evento ficou a cargo do jornalista Orpheu Santos Salles, último colaborador de Vargas ainda vivo. Ele releu um discurso de Vargas em 1946, em defesa dos ideais democráticos.

“Apenas duas vezes em minha vida tive que quebrar a harmonia entre o Legislativo e o Executivo. A primeira, quando dissolvi o Congresso com chefe da Revolução de 1930. Usei o direito de uma vitória da Revolução Nacional. A segunda vez, quando assumi a chefia brasileira em defesa da pátria e fechei o Parlamento em 1937. Não pratiquei esse ato em defesa da minha vontade, pratiquei porque era indispensável unir o País e neutralizar as forças que ameaçavam o início de uma guerra civil”, diz o discurso, em referência a ascensão de forças como o Integralismo, que pretendia instaurar no país um governo nos moldes do nacional-socialismo europeu.

Seminário relembrou a trajetória política do Presidente, morto há 60 anos (foto: Di Paola)

Seminário relembrou a trajetória política do Presidente, morto há 60 anos (foto: Di Paola)

Para Carlos Lessa, é indispensável entendermos suas raízes políticas. Ele remonta a uma tradição republicana do Rio Grande do Sul no fim do século XIX, que se opunha aos republicanos paulistas por defender a abolição radical da escravidão. Essa vanguarda gaúcha, fortemente influenciada pela doutrina do positivismo, ajudou a moldar a visão do jovem Getúlio de defesa do fortalecimento nacional com base no desenvolvimento industrial e do mercado interno.

“Não à toa, uma das primeiras medidas de Vargas ao chegar ao poder foi a estatização do subsolo e dos recursos hídricos. Isso garantiu que eles estivessem a salvo de interesses estrangeiros”, explicou o economista.

Lessa destacou ainda que o governo Vargas foi pautado por um projeto de integridade nacional, industrialização e urbanização, que foi continuado por meio século depois de sua morte por muitos de seus opositores.

“Entre 1930 e 1980, o Brasil criou o sétimo maior sistema industrial do mundo, com uma taxa de crescimento superada apenas pelo Japão no mesmo período. A Era Vargas foi a mais fecunda na institucionalização do nosso desenvolvimento, com o crescimento urbano e a conquista de um embrião acadêmico na área de ciência e tecnologia”, analisou o acadêmico, que criticou os governos atuais que deixaram de lado essa tradição desenvolvimentista.

“Hoje, somos apenas o 14º maior parque industrial. Não há mais um projeto nacional, apenas discursos vagos sobre nos inserimos no processo de globalização, mas sem apontar os caminhos para isso”, completou.

Missa

Durante a manhã, a ABI celebrou também uma Missa de Ação de Graças em memória de Getúlio Vargas, na Paróquia de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, no Centro do Rio.

O Presidente ocupa uma posição destacada na história da Associação Brasileira de Imprensa. Graças a seu apoio financeiro, por intermédio do Banco do Brasil, a entidade construiu sua atual sede, o edifício Herbert Moses, no Rio de Janeiro. O prédio foi inaugurado em julho de 1938. Na ocasião, Vargas recebeu o título de sócio-benemérito e Presidente de Honra da Casa do Jornalista.