O nascimento do fotojornalismo – Marc Ferrez


10/07/2015


Marcferrez

Marc Ferrez

Em comemoração ao Dia do Repórter-Fotográfico, 2 de setembro, a seção Em foco fez sua primeira homenagem póstuma, mostrando a obra de Marc Ferrez, importante fotógrafo brasileiro do século XIX, cujo trabalho pode ser considerado precursor do fotojornalismo no País.

A obra completa de Ferrez — incluindo um conjunto de mais de 4 mil negativos originais de vidro — foi adquirida em 1998 pelo Instituto Moreira Sales, que organizou uma exposição com cerca de 300 imagens do fotógrafo, entre retratos, paisagens do Rio de Janeiro e registros de suas peregrinações Brasil afora.

Sérgio Burgi, Coordenador do Setor de Fotografia do Instituto Moreira Salles diz que Ferrez é sem dúvida o principal fotógrafo brasileiro do século XIX. Para ele, a fotografia daquela época deve ser entendida diferentemente da produção contemporânea:
— O Ferrez tem uma forte característica de elaborar muito bem visual e formalmente suas imagens. Não sabemos ao certo,mas tudo indica que sua produção fotográfica foi feita apenas no Brasil. Em 1875 ele já fazia um trabalho muito marcante do ponto de vista autoral.

Nascido no Brasil, Marc Ferrez mudou-se para a França — onde viveu dos oito aos 20 anos — após a morte dos pais. De volta ao País, começou a fotografar paisagens,quando o principal sustento dos fotógrafos da época era ainda o re trato. Mais tarde, especializou-se ainda mais em registros da natureza e de paisagens urbanas como fotógrafo da Marinha Imperial e integrante da Comissão Geográfica e Geológica do Império.

SergioBurgi

Sérgio Burgi

Salienta Sérgio Burgi que Ferrez detinha habilidades peculiares:
— A fotografia do século XIX exigia do fotógrafo certa capacidade de abstração, de pré-visualização e de tomada de decisões que eram menos empíricas. Quando se olhava a imagem através de vidro despolido, a visualização era de um tipo diferente do que aquele que a câmera contemporânea oferece.

Sérgio lembra que Ferrez levou a elaboração formal da fotografia a um patamar muito elevado:
— Ele solucionava muito bem a associação entre as paisagens e as pessoas.

Para a época, é um trabalho muito significativo,com uma nova linguagem e um novo tipo de informação visual.
Além disso,ele acompanhava as inovações tecnológicas e fazia pesquisas que posteriormente o levaram a se interessar pelo cinema. Investiu muito no desenvolvimento técnico e no formato panorâmico da foto de varredura, em que a chapa do negativo girava sincronizadamente, fazendo um escaneamento do horizonte. Esses aspectos são os mais marcantes do trabalho dele.

Em seus mais de 50 anos de trabalho, Marc Ferrez dedicou praticamente metade de sua obra ao Rio de Janeiro. Embora ele tenha corrido o Brasil registrando obras de desenvolvimento,entre outras coisas, Sérgio diz que seu trabalho de documentação não tinha ainda o sentido do jornalismo contemporâneo:
— Não se podia pensar nisso, na medida em que também não existia uma forma de circulação da imagem através da impressão fotomecânica. No século XIX ainda não se integrava a imagem ao jornal, a não ser através de uma xilogravura ou uma litografia.

O trabalho de Marc Ferrez — que naquele momento era documental e cumpria uma finalidade extremamente importante — é considerado jornalístico quando olhado em retrospectiva.

Ferrez registrou a construção das principais estradas de ferro brasileiras e retratou as atividades em fazendas de café e de cana-de-açúcar, em minas de ouro de Minas Gerais e nos serviços de captação de água no Rio de Janeiro.

Sua última grande obra foi a documentação da construção da Avenida Central, quando fotografou as fachadas dos prédios para fazer uma comparação entre os projetos e a obra realizada. A exposição permanente de seu trabalho fica no Instituto Moreira Salles (Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea — Rio de Janeiro-RJ).