Antônio Nery: Caminhar, pesquisar e clicar


13/07/2015


AntônioNery“A expressão dos rostos e o movimento perdido das mãos que desfilaram, outra vez,no laboratório, diante dos seus olhos,enquanto a água corria sobre as fotos, deram a Antônio Nery, naquele momento, a exata dimensão do
papel da fotografia: a força daquelas imagens dificilmente conseguiria ser reproduzida por um texto com a mesma intensidade de emoções.”

Este texto, publicado no Jornal da ABI nos anos 80,foi escrito pelo jornalista Domingos Meirelles e refere-se a fotos de Antônio Nery que registraram, para o jornal Última Hora, os estragos causados pelas enchentes de 1956 no Rio de Janeiro. Naquela época, Meirelles já enaltecia a sensibilidade de Nery para documentar as emoções humanas com riqueza de detalhes.

Ministrando um módulo dos Cursos Livres da ABI,intitulado Fatos e fotos, Nery teve como ouvinte na primeira aula o seu ilustre foca Domingos Meirelles.Quem participou dessa aula teve a oportunidade de encontrar também outros ases da fotografia: Erno Schneider, Luís Pinto e Iarli Goulart. Para Meirelles,uma rara oportunidade de reunir tantos talentos:
— Uma aula magistral. Os quatro acabaram compartilhando seus conhecimentos,suas experiências e histórias.
Já havia trabalhado com todos eles no início da carreira e fui ao encontro do passado. Eles são grandes estudiosos do
fotojornalismo e discutiram sobre técnicas de produção da fotografia, como velocidade, abertura do diafragma, sensibilidade do filme.Hoje,com o advento da digital,já não há preocupação com esses detalhes.

O entusiasmo com a apresentação de Antônio Nery acabou pautando a matéria de estréia de uma nova seção no ABI Online, onde a cada semana um repórter fotográfico foi convidado a editar aquelas que considera suas melhores fotos, contando um pouco da história de cada uma — o contexto em que foi feita,sua técnica, sua história. Antônio Nery, que em 2004 completou 50 anos de profissão, é o repórter fotográfico que abre a seção Em Foco do Site da ABI.

Muitas das fotos de Nery falam por si, quase que dispensando a legenda. Em flagrantes do cotidiano, o leitor poderá viajar em imagens dos anos 60,70 e 90, passando por temas que vão dos contrastes sociais ao movimento para o impeachment de Fernando Collor,sempre tendo a palavra como integrante da imagem.

Nery já passou por veículos importantes. Trabalhou em revistas como MancheteFatos e Fotos e Jóia e nos jornais Última Hora, O Dia, Folha da Tarde e Folha de S.Paulo, até se aposentar em O Globo. Suas fotos também já foram publicadas em livros como Antonio Carlos Jobim, de Sérgio Cabral, e Chega de saudade, de Rui Castro.

Em uma antiga entrevista, Nery contou que costumava fazer longas caminhadas como parte do seu trabalho:
— Os grandes fotógrafos (…) são verdadeiros andarilhos. Só é possível fazer um bom trabalho caminhando, lentamente, pesquisando o ambiente que vai ser reportado, explorando os contrastes que o assunto oferece.

Algumas fotos de Nery foram expostas em exposição na França no dia 16 de março.Imagens de seu extenso arquivo sobre a bossa nova foram selecionadas por uma curadora francesa para integrar o acervo da Cité de la Musique, em Paris, até 23 de junho. Será a primeira vez que suas fotos participarão de uma exposição internacional. Para ele, o importante é a divulgação de seu trabalho num evento tão grandioso:as homenagens prestadas este ano ao Brasil pelos franceses.
— Não importa o quanto vou ganhar pelas fotos,mas a visibilidade que elas terão.

Antônio Nery é mineiro de Muzambinho, radicado no Rio de Janeiro desde 1950. Começou a trabalhar como laboratorista do jornal Última Hora, em 1957, nele permaneceu por um ano; depois voltou como fotógrafo em 1966.

Durante dois anos de 1960 à 1962, foi fotógrafo do Copacabana Palace, retornando em 1963 ao fotojornalismo, nas revistas Manchete, Fatos & Fotos e Jóia. Em 1964 e 1965, trabalhou nos jornais O Dia e A Notícia. De 1967 a 1969, fotografou para a Folha da Tarde e Folha de S.Paulo. Já em 1970, foi convidado pelo editor de fotografia Erno Schneider para compor a equipe de O Globo, onde se aposentou em 1994. Nery participou de diversas exposições e tem trabalhos publicados em livros como Bienal de fotojornalismo de São Paulo.