Noel, uma história: há 110 anos nascia o sambista


11/12/2020


Uma história de Noel

 Hoje, dia 11, Noel de Medeiros Rosa, o Noel Rosa, faria 110 anos. Mas, em 1929, já fazia sucesso no Rio com o samba Com que roupa? Tinha apenas 18 anos e era sua terceira gravação como cantor. Boêmio, frequentador de bares, quatro anos depois entrou numa briga musical com o sambista Wilson Batista por causa de uma dançarina do Dancing Apollo que os dois disputavam. O Poeta da Vila já notara o músico de Campos dos Goytacazes quando ele gravou Desacato no lado B de seu compacto com Feitio de oração, mas a concorrência cresceu quando Noel cutucou o rival, lançando Rapaz Folgado em que criticava a letra da primeira música de Wilson, Lenço no Pescoço, falando de malandros. Os versos detonavam o rival: “E tira do pescoço o lenço branco… joga fora essa navalha, que te atrapalha”.

Wilson Baptista respondeu com Mocinho da Vila, bairro de Noel, aconselhando o compositor carioca a deixar os malandros em paz e, ao final, afirmava “modéstia à parte, eu sou rapaz” (folgado?). A resposta de Noel veio em Feitiço da Vila, parceria com Vadico, respondendo ao campista com “modéstia parte, eu sou da Vila”. E Wilson disparou o Conversa Afiada, debochando da imagem superior do bairro no samba de Noel e Vadico. Em 1935, Noel não pestanejou e atacou com o clássico Palpite infeliz, lançado por Aracy de Almeida, como resposta. Os compositores amigos incentivavam a briga e Noel foi o vencedor porque Palpite infeliz estourou no carnaval de 1936. A disputa foi perdendo o pique mesmo Wilson Batista fazendo sambas em que debochava do queixo defeituoso de Noel. Nem por isso, o compositor da Vila recusou-o como parceiro e até criou nova letra para uma música de Wilson, batizando-a  como Deixa de ser convencida em que um trecho dizia “todos sabem qual é o teu modo de vida”, recado para a moça do Dancing Apollo que acabou se dando mal. Mas a amizade acabou por aí.

Noel Rosa, nasceu em Vila Isabel, no Rio, no dia 11 de dezembro de 1910, tornando-se mais tarde dos mais importantes artistas da história da música popular brasileira. Nos 26 anos de vida, compôs mais de 300 músicas, entre sambas, marchinhas e canções. E entre suas músicas destacam-se ainda Conversa de Botequim e Fita Amarela. Filho do comerciante Manuel Medeiros Rosa e da professora Marta de Medeiros Rosa, ele nasceu marcado pelo fórceps que lhe fraturou e afundou o maxilar inferior, provocando também paralisia parcial no lado direito do seu rosto. Com 13 anos, ingressou no tradicional Colégio São Bento, recebendo o apelido de “queixinho” e amargava a tristeza que o defeito lhe causava. Muito cedo aprendeu a tocar bandolim. Do bandolim passou para o violão que seu pai tocava. Aos 15 anos, já dominava o instrumento. Seu irmão também tocava e ganharam o fama de “músicos da Vila Isabel”.Em 1930 ingressou na Faculdade Nacional de Medicina, mas depois de dois anos abandonou o curso. Já estava envolvido com a música e a boemia.

Carreira musical

Em 1929, junto com os músicos Almirante, Braguinha, Alvinho, Henrique Brito e Henrique Domingos formou o conjunto Bando de Tangarás. No mesmo ano, gravaram o primeiro disco, inicialmente influenciado pela música sertaneja. O conjunto fez grande sucesso apresentando-se em rádios, cinemas e teatros. Em 1931, Noel entrou para a faculdade de medicina, mas no ano seguinte já não frequentava mais as aulas. Ainda estudante, gravou mais de vinte músicas.

A partir de “Com Que Roupa?” Noel já não pertencia mais ao grupo. A música foi o primeiro sucesso de Noel. Escrito em 1930 e gravado no mesmo ano, o samba estourou no carnaval de 1931. Era o primeiro samba, mas já estavam presentes as características de toda a obra: o humor, a ironia, as rimas surpreendentes, a música brejeira.

Em 1932, Noel trabalhou como contra regra no programa de Ademar Casé, na Rádio Philips. Ele também cantava, apesar de sua voz fraca, no tempo dos vozeirões de Francisco Alves e Vicente Celestino. Em 1935, passou a trabalhar na Rádio Clube do Brasil, fazendo o programa humorístico Conversa de Esquina. Fez também revistas radiofônicas, sempre parodiando composições populares, inclusive de sua autoria. Noel era requisitado para parcerias e convidado para participar dos mais diversos conjuntos.

O samba O Orvalho Vem Caindo feito em parceria com Kid Pepe, em 1933, e se tornou grande sucesso no carnaval de 1934.

Casamento e morte

Em 1934, Noel casa-se com Lindaura, uma moça sergipana, mas tinha várias amantes e passava noites pelos cabarés do bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, cantando, bebendo e fumando.Um dia, Lindaura declarou independência e resolveu trabalhar fora. Noel ficou uma fera e respondeu com um samba Você Vai se Quiser, como era de seu feitio “…não vá dizer depois/que você não tem vestido/e o jantar não dá para dois…” Com tuberculose, em 1935, foi para Belo Horizonte para tratamento de saúde. Na volta para o Rio de Janeiro, achando-se curado, retornou à boemia.

Surgiram os primeiro filmes musicais brasileiros. Em Alô, Alô, Carnaval, lançado em fevereiro de 1936, estavam incluídas dias músicas de Noel: Não Resta a Menor Dúvida e Palpite Infeliz. Em busca de ares de serra, viajou para Nova Friburgo, mas sua saúde piorava sensivelmente. Morreu em sua casa na Rua Teodoro da Silva, n.º 392, em Vila Isabel. Noel Rosa faleceu no Rio de Janeiro, no dia 4 de maio de 1937.

Em 2010, a Escola de Samba Unidos da Vila Isabel, apresentou o enredo do carnaval com o samba Noel: A presença do Poeta da Vila, de autoria de Martinho da Vila.

Sozinho ou com vários parceiros, Noel escreveu diversas músicas de sucesso, entre elas: Com Que Roupa?, Fita Amarela, Último Desejo, Dama do Cabaré, Palpite Infeliz, Quem Ri Melhor, Conversa de Botequim (Noel – Vadico), Feitio de Oração (Noel – Vadico), Feitiço da Vila (Noel – Vadico), Só Pode Ser Você (Noel – Vadico), Pra Que Mentir (Noel – Vadico), O Orvalho Vem Caindo (Noel – Kid Pepe),Tenho Raiva de Quem Sabe (Noel – Kid Pepe), Pierrô Apaixonado (Noel – Heitor dos Prazeres).