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“Para Bolsonaro, as
duras penas da lei”


10/07/2020


Torcer pela morte de um doente é mergulhar na lama do bolsonarismo

Rogério Marques é jornalista e conselheiro da ABI

Existem pensamentos, desejos, preconceitos que estão enraizados no ser humano desde que ele existe. Como o desejo de vingança. Talvez o maior exemplo disso, aqui no Brasil, seja o nosso sistema penitenciário. Não é apenas por causa dos governantes que ele é medieval, mas porque grande parte da população quer a vingança, acredita que preso merece a tortura, não a punição, tendo em vista a ressocialização.

Digo isso diante da reação de muita gente com o anúncio de que Jair Bolsonaro foi contaminado pelo vírus que ele tanto subestimou e ajudou, com sua boçalidade e seu desgoverno, a propagar Brasil afora.Muitos que desejam a morte de Bolsonaro dirão que estou sendo “politicamente correto”, expressão que tem servido de bengala para preconceitos e atitudes simplesmente incorretas. Ou dirão que estou apelando para um cristianismo ingênuo, quando sempre busquei praticar o ateísmo humanista, embora, admito, nem sempre tenha conseguido transformar teoria em prática.

Desejar a morte de Bolsonaro é mergulhar na lama pútrida do bolsonarismo, é beber do veneno que ele distribui em altas doses a seus seguidores. É repetir a atitude dele ao desejar um infarto ou um câncer para a então presidente Dilma Rousseff, em 2015.

Foi essa mentalidade de ódio e vingança, entre outros motivos, que levou Bolsonaro a ser eleito. Não desejo a morte de Bolsonaro, mas que ele pague por seus crimes. Bolsonaro é um criminoso por vários motivos já sabidos, que nem convém repetir. Seu último crime foi ter levado muitos seguidores a propagar seu mau exemplo, a não tomar os cuidados para evitar a própria contaminação e a do próximo, na pandemia que já matou quase 70 mil brasileiros.

Com relação ao artigo do jornalista Hélio Schwartszman publicado na  Folha de São Paulo, em que ele afirma torcer pela morte de Bolsonaro, devo dizer que discordo radicalmente de sua posição. Da mesma forma, repudio a decisão do ministro da Justiça André Mendonça de pedir à Polícia Federal que abra inquérito, com base na Lei de Segurança  Nacional, para investigar o texto do jornalista. Cacoetes do tempo da ditadura, jamais!

Na minha avaliação, a morte de Jair Bolsonaro não mudaria nada, porque a mentalidade que o levou ao poder sobreviverá, infelizmente. Sobreviverão a ignorância política, a omissão de tantos na hora de votar, o egoísmo, o desejo de vingança, o ódio, o machismo que levaram 57 milhões de brasileiros a eleger um desqualificado. Precisamos, sim, matar tudo isso para fazer este país voltar a sorrir.

Para Bolsonaro, o impeachment, o ostracismo, as duras penas da lei.