Muitos dribles para chegar à Fotografia


03/01/2007


Claudio Carneiro
05/01/2007 

Luís Claudio Alvarenga não tinha pretensão de ser fotógrafo. Jogava futebol e só pensava em correr atrás da bola. “Um belo dia”, no ano de 1991, foi parar na redação do jornal O Fluminense, em Niterói. O contínuo, de 18 anos, logo driblou as dificuldades iniciais, fez muitos amigos e tornou-se aluno do fotógrafo Pauty Araújo. Ele foi o mestre quem deu as primeiras dicas e emprestou os primeiros livros sobre a nova arte. O dinheiro que o boy ganhava não dava para pagar um curso de Fotografia. O jeito foi “aprender fazendo” com a máquina que conseguiu comprar. “Fominha” por imagens — assim como pela bola — acabou dominando a técnica pela insistência.

Ainda trabalhando como o leva-e-traz da redação, Alvarenga estava convicto de que havia descoberto na fotografia a profissão certa. Chegava no jornal às oito da manhã e saía às dez da noite. Com o tempo, dominava seu equipamento — uma Yashica, lentes 28mm, 50mm e 70-200mm e um flash Mirage AT-42 — e entendia a dinâmica da redação. No ano seguinte, já era um dos fotógrafos do diário dirigido, na época, por Alberto Torres.

Hoje, aos 34 anos, Alvarenga estaria, certamente, pendurando as chuteiras no futebol. Mas ainda tem muito o que correr no jornalismo. Já passou pelo JB e o Estadão, trabalha no Extra há oito anos e acha que o mercado está em constante desenvolvimento:
— Todos os dias, as faculdades e os cursos de Fotografia despejam muita gente no mercado. Mas o nível de exigência é muito grande e só consegue ficar quem tem talento e procura sempre se renovar. Há 14 anos ouço essa história de que o mercado está cheio e tudo é muito difícil. 

Superação

O fotógrafo tem na bagagem as coberturas de diversos carnavais, de visitas de Presidentes e outras autoridades, do Príncipe Rainier III e de Michael Jackson ao Brasil, de shows do Rock in Rio e do Hollywood Rock e, claro, de diversos jogos dos campeonatos Brasileiro e Estadual de Futebol. E considera a foto que batizou de “Jaula do INSS” uma das mais importantes que já fez. BR>— Fotografar, para mim, é um estado de espírito. Não fotografo para ser melhor do que ninguém, mas para me superar a cada dia.

Se no início da carreira as pautas policiais o atraíam, com a maturidade profissional Alvarenga foi percebendo que a fotografia é muito mais que algumas pautas “movimentadas”:
— Hoje, acho que a fotografia precisa documentar, registrar socialmente os fatos e relatar — de verdade — a vida do brasileiro.

Adepto da tecnologia que tornou possível a digitalização de fotos e o envio de arquivos — facilitando a vida de todo mundo, inclusive dos fotógrafos — Alvarenga escreve num site (www.fotoeimagem.com) e comemora a modernidade:
— Assim como a chegada do filme colorido no mercado deixou o P&B de lado, acho que as máquinas analógicas terão a função que os filmes em preto e branco têm hoje. Serão trabalhos diferenciados, que vão requerer técnica e sensibilidade do profissional ou do amador. Mas falando do presente e do futuro, acho as inovações maravilhosas. Criar uma imagem e vê-la no instante seguinte é maravilhoso. É um ganho excepcional para a fotografia. 

Militância

Ganho maior ainda, para Alvarenga, é fazer pelos jovens de São Gonçalo e adjacências o que o mestre Pauty fez por ele. Morando na cidade há 22 anos, há nove é sócio-fundador da Sociedade Gonçalense de Fotografia e há quatro criou um curso, de baixo custo, no Sesc de lá:
— Milito na cultura da cidade. Minha intenção é incentivar a garotada, dar chance ao pessoal da região e popularizar a fotografia. Também com este objetivo, criei com o produtor cultural Alex Nery o Movimento in Foco, que tem o apoio da Fundação de Artes de São Gonçalo (Fasg). A cada última quinta-feira do mês, reunimos no Centro Cultural Joaquim Lavoura fotógrafos da Baixada, de Niterói, de São Gonçalo e do Rio, sempre com um convidado especial. Já estiveram lá, por exemplo, Marcelo Carnaval, Márcia Foletto, Custodio Coimbra, e na volta, em março, teremos Evandro Teixeira.

Outro projeto que o anima é o livro sobre Folia de Reis:
— Vai se chamar “São Gonçalo e os Santos Reis” e terá a maior parte da renda destinada à sociedade que promove esses eventos na cidade, não deixando o nosso folclore morrer — comemora.