Morte de radialista gera revolta na Colômbia


10/10/2017


A jornalista María Efigenia Vásquez Astudillo

A jornalista María Efigenia Vásquez Astudillo morreu no domingo (8), após ser baleada durante uma ação policial do Esquadrão Antidistúrbios (ESMAD) na Colômbia. A operação tinha como objetivo desmobilizar uma comunidade indígena de um terreno ocupado na região de Puracé.

Maria Efigenia era locutora da rádio Renacer Kokonuko e, por nota, a Organização Nacional Indígena da Colômbia (ONIC) manifestou a indignação com o assassinato da jornalista. “Dói muito e dá raiva, essa raiva que nos perturba e nos levanta com mais força”.

Durante a confusão que vitimou Maria Efigenia, outras três pessoas ficaram feridas. Segundo o jornal “El Espectador” o incidente aconteceu após a entrada do ESMAD na propriedade “Água Tibia”.

“Na tarde de hoje, a ESMAD, ignorante, covarde e servil daqueles que defendem e promovem a exploração e morte da mãe terra, invadiram a comunidade de Kokonuko e atiraram indiscriminadamente contra a comunidade indefesa. A ação matou a companheira Efigenia, do povo Kokonuko, mãe, comunicadora, mulher indígena que dava vida, transmitindo força e sabedoria ao seu povo”, disse o ONIC em seu site.

A manifestação de domingo foi organizada pelos nativos do povo Kokonuko, que exigem do governo a compra do terreno da empresa turística Termales Agua Tibia. Alberto Yace, líder Kokonuko, disse à agência AFP que a comunidade ocupa o terreno há seis meses, e que reclamam o espaço como território ancestral, que vem sendo utilizado para atividades turísticas por empresas privadas. Desde o sábado (7) os indígenas bloquearam a entrada dos turistas.

De acordo com o relatório da polícia, os homens de ESMAD foram “atacados com elementos não convencionais lançados pelos indígenas” quando tentaram “limpar” as rotas de acesso bloqueadas pelos manifestantes. Maria Efigenia, que foi baleada duas vezes no peito e na perna, morreu durante a transferência para o Hospital San José, na capital do Cauca. Os outros dois feridos também foram levados ao hospital em Popayan. Um deles identificado como John Yace Maca, filho do líder Kokonuko.

Na declaração, a Polícia Nacional lamentou a morte da jornalista e anunciou seu desejo de colaborar para esclarecer os fatos. Além disso, o relatório disse ainda, que os soldados chegaram à área, em conformidade com uma ordem judicial “por causa de atos sistemáticos de violência contra a propriedade, os visitantes e o proprietário”.

O Conselho Regional Indígena do Cauca (CRIC) lamentou a morte da jornalista. “Deixou uma grande marca no espaço comunicativo, contando a realidade de sua comunidade, levando a mensagem do que estava acontecendo na propriedade Aguas Tibias”, disse.

Os alunos do Programa de Comunicação do CRIC também se manifestaram. “Uma mulher dinâmica e muito capaz de contar as realidades de sua comunidade. Que treinou os jovens em comunicação para a defesa da vida, da cultura e da sabedoria de seu povo”.

A Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP) exigiu providências da Polícia na investigação do caso. “Efigenia Vásquez era uma comunicadora reconhecida por seu amplo trabalho na mídia indígena do Cauca. É preciso processar e punir aqueles que ordenaram o disparo da arma de fogo que a matou”.