Mônica Puga – Repórter movida a paixão e adrenalina


20/12/2006


Claudio Carneiro
21/12/2006
 

Ela nunca pensou em outra profissão. O jornalismo sempre encantou Mônica Puga, que sonhava com viagens e coberturas internacionais e queria escrever. O projeto deu certo: 20 anos depois, ela traz na bagagem a participação — como repórter de vídeo — nas coberturas mais importantes da História recente do País.

Para chegar diante de uma câmera com o microfone na mão, Mônica percorreu o longo caminho dos que persistem e não desistem. Estudou na última turma do extinto Centro Unificado Profissional (CUP), em Jacarepaguá; formou-se pela Facha (Faculdades Integradas Hélio Alonso); trabalhou na Tribuna da Imprensa; esteve “do outro lado do balcão”, na assessoria de imprensa da Caixa dos Advogados do Brasil; e, depois, na TV. O começo, confessa, não foi nada fácil:
— As dificuldades são as de sempre para quem deixa a faculdade e chega ao mercado de trabalho. Não saber fazer e ter que aprender na raça é uma tarefa difícil. A prática acaba sendo a única forma de aprender a reconhecer a notícia.

Visão

Boa parte da carreira de Mônica Puga foi passada nas emissoras da Rede Globo de Televisão, começando pela TV Bahia:
— Depois fui para o interior de São Paulo, passei pela TV Globo da capital paulista e, afinal, trabalhei no Rio de Janeiro. Em seguida vieram a TV Manchete, em São Paulo e no Rio, e a volta para Sampa, na TV Record e, mais tarde, no SBT. A ponte-aérea me trouxe novamente ao berço carioca, primeiro na Record e, agora, no SBT.

Adepta do conceito de que o bom profissional tem de se virar, ela sempre foi repórter, mas, nas redações mais modestas, acabou fazendo um pouco de tudo:
— O jornalista precisa ter uma visão ampla de sua atividade. Deve conhecer o caminho das pedras. Até porque as redações estão encolhendo e o profissional do futuro terá que fazer de tudo mesmo.

Nos 20 anos de estrada, ela percebeu como a intimidade da notícia tem a ver com as transformações históricas do País:
— Eu me lembro do Luiz Inácio Lula da Silva ainda líder metalúrgico, das greves do ABC paulista. Hoje, posso vê-lo reeleito Presidente da República. Também acompanhei a escalada da violência nas grandes cidades, como o Rio e São Paulo. Participei de eventos importantes como a Rio 92 e a Cimeira. Fiz de tudo.

Mãe de uma futura jornalista que cursa o 3º período do curso de Comunicação na mesma faculdade onde se formou, Mônica manda um recado para os futuros “coleguinhas”:
— Estudem muito, aprendam línguas e escolham áreas específicas do jornalismo. Não basta mais ser da Geral. Acho que a especialização pode ser o caminho para garantir um salário digno. Minha filha, por exemplo, não sabe ainda o que vai fazer, mas no momento está interessada na área cultural. 

Sem arrependimento

Mesmo sem prêmios na bagagem, ela orgulha-se de ter chegado perto nas vezes em que concorreu. Ficou em segundo lugar no Prêmio Ethos, com o especial “Peixe-boi”, e incluiu a matéria “Lagosteiros — um mergulho para a morte” entre as dez mais da categoria TV do Prêmio Esso.

Na correria do trabalho, ela não saberia contar os fins de semana que perdeu, os feriados que desperdiçou, as festinhas na escola da filha a que não compareceu:
— Você tem de ser apaixonado pelo jornalismo para nunca se arrepender daquilo que não pode desfrutar na sua vida pessoal.

No fim das contas, porém, a profissão deve ter suas vantagens. Uma repórter respeitada e experiente como Mônica Puga, por exemplo, deve ter suas regalias e pegar somente matérias muito tranqüilas:
— Quem pensa isso está redondamente enganado. A violência no Rio já me colocou — muitas vezes — no olho do furacão. Certa vez, fiquei mais de uma hora no meio do fogo cruzado, no Morro do Cantagalo, na Zona Sul da cidade. Eu narrava as cenas de violência que via e chorava o tempo todo. Dava para ouvir o barulho das balas passando pertinho da gente, zunindo no ouvido. Um terror.

Apesar de toda essa “vida mansa”, ela não consegue se ver fazendo outra coisa:
— Não sei o que seria se não fosse jornalista. É a única coisa que sei fazer. E confesso que, até hoje, o “ao vivo” ainda me dá aquele friozinho na barriga. Sempre sobe a adrenalina. 

A repórter também vibra com os avanços tecnológicos que facilitaram a vida do jornalista — principalmente a do repórter de TV:
— A tecnologia tornou as coisas mais fáceis. Eu sou do tempo em que o cinegrafista e o operador de VT andavam juntos, ligados pelos cabos de vídeo e áudio que uniam câmera e videoteipe. Hoje, o VT está incorporado às câmeras. Estas, por sua vez, estão se tornando mais leves e compactas, graças ao registro digital das imagens.

Mesmo sendo uma das repórteres mais vibrantes da televisão brasileira, ela não vê a hora de descansar e ver os mais jovens disputando as melhores matérias. Mas esse dia ainda parece estar muito longe.