Lembrar sim dos 60 anos do golpe de 1964 em memória dos 434 mortos e desaparecidos políticos


31/03/2024


Por Moacyr de Oliveira Filho, ex-preso político em 1972 e diretor de Jornalismo da ABI
Foto-montagens: Dimitri Lee

Foto: Abril Press

O fotógrafo Dimitri Lee produziu uma série de foto-montagens, projetando imagens de alguns dos mortos sob tortura no Doi-Codi do II Exército, na Rua Tutóia, em São Paulo, em ambientes de um dos prédios daquele complexo arquitetônico, que hoje está abandonado.

Esse prédio foi onde começou a funcionar a então Operação Bandeirante, em julho de 1969, e onde eram realizadas as torturas até junho de 1971, quando foram transferidas para os fundos da 36ª DP, que funciona ali até hoje.

Em setembro de 1970 passou a se chamar, oficialmente, Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI). Um órgão ilegal, embora público, financiado por empresários, com a partipação direta de militares do Exército, Marinha, Aeronáutica, policiais miltares, policiais civis e policiais federais.

Estima-se que de julho de 1969 a dezembro de 1976, 78 brasileiros foram mortos por ação direta de agentes do DOI-CODI do II Exército, sob tortura, executados em operações de rua ou assassinados em outros centros clandestinos de repressão. 60 deles no DOI-CODI, dos quais 38 morreram na tortura. E cerca de 7 mil foram ilegalmente detidos ali, quase todos torturados.

A maior parte desses assassinatos – 43 (72%) – ocorreram durante o comando do então major Carlos Alberto Brilhante Ustra, entre setembro de 1970 a janeiro de 1974.

Em 2014 foi tombado pelo CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado. Em junho de 2021, o Ministério Público de São Paulo entrou com uma Ação Civil Pública, na 14.a Vara da Fazenda Pública, que pede a transferência desses prédios da Secretaria de Segurança Pública para a Secretaria de Cultura e o início do processo de criação de um Centro de Memória. Em 9 de setembro de 2021 foi realizada uma audiência de conciliação dentro do antigo DOI-CODI, mas o governo de São Paulo pediu um prazo de 90 dias para apresentar uma contra proposta, o que até hoje não aconteceu.

Em agosto de 2023, foram realizadas ali escavações arqueológicas por pesquisadores de três universidades públicas, e são realizadas visitas guiadas mensais pelo Núcleo de Preservação da Memória Política.









Foto-Montagens: Dimitri Lee

Numa segunda fase do trabalho, Dimitri pretende fazer as foto-montagens nas salas onde funcionaram as celas e as salas de tortura nos fundos do prédio da 36ª DP, a partir de junho de 1971, hoje totalmente descaracterizadas por reformas, onde funcionam, atualmente, órgãos da Polícia Civil de São Paulo. Nessas salas estima-se que 31 pessoas foram assassinadas na tortura.

Dimitri Lee prepara uma exposição desse material e um tour virtual por esses ambientes de terror, com a colaboração dos ex-presos políticos Ivan Seixas, conselheiro da ABI, e Moacyr Oliveira Filho, diretor de Jornalismo da ABI, que passaram pelo Doi-Codi, entre 1971 e 1972. Esse tour virtual será a base de um Memorial Virtual do antigo Doi-Codi, enquanto não se conquista a transformação daquele espaço num Memorial.

Contra o Alzheimer nacional, sugerido pelo presidente Lula, é preciso Memória. Mas é preciso também, Verdade e Justiça!

É em memória dos 78 brasileiros e brasileiras que ali foram assassinados na tortura e dos cerca de 7 mil que ali foram torturados é que é preciso lembrar sim dos 60 anos do golpe de 1964.

Para que não se esqueça!
Para que nunca mais aconteça!