Lapa vira cenário de documentário


22/08/2008


Já está nos sites www.sistemalapadesamba.com.br (ou www.lapasambasystem.com) e www.sobremusica.com.br uma prévia do novo documentário do jornalista Bruno Maia, que retrata as principais atividades econômicas e sociais da Lapa e mostra que sua importância vai além dos Arcos — verdadeiro patrimônio histórico — e do folclore que atrai turistas. Personagens importantes do samba, como Teresa Cristina e Moysés Marques, despontaram ali e deram vida ao local, que há dez anos vem cativando as pessoas do Rio e de fora e angariando o status de point cultural e de lazer.

                                                Bruno Maia

“Sistema Lapa de samba”, que está em fase de finalização na Produtora 14, do próprio jornalista e cineasta, valoriza o progresso vivido pelo bairro que hoje é considerado por muitos um “paradoxo da sociedade”, pelo contraste do antigo com o novo, por ser, ao mesmo tempo, recôndito da boemia e da malandragem e centro de valorização da cultura nacional:
— O filme foi pensado a partir de uma percepção de que a Lapa tinha se tornado algo muito maior do que as pessoas se davam conta — diz Bruno. — O que havia de registro jornalístico sobre este momento era muito raso, as pautas eram todas parecidas, e isso me dava a sensação de que essa história, que já durava dez anos, precisava ser mais bem contada, mais aprofundada. A Lapa tornou-se palco da manifestação de diversos estilos que rompem com os preconceitos do cotidiano e tiram da utopia o conceito de liberdade de expressão.

Mais entrevistas

As gravações começaram em dezembro e as entrevistas, com 30 personagens do bairro, renderam mais de 90 horas. Bruno, porém, acha que ainda há muita gente relevante que deve ser entrevistada:
— Meu objetivo principal é registrar a relação das pessoas de um determinado período — de meados da década de 90 até hoje — na Lapa. É desse encontro que quero falar. Todas as riquezas históricas e contradições surgem naturalmente dessa pesquisa. 

 Tia Surica, Bruno e Teresa Cristina

O jornalista ressalta também que o lugar oferece tantas opções de imagens e situações que, em certo ponto, a equipe ficava em dúvida de como iniciar as filmagens:
— Na verdade, a gente parte de uma idéia geral e o documentário se apresenta no momento em que ligamos as câmeras. Houve muitas coisas surpreendentes para nós, durante o trabalho, e imagino que quem for ver o filme também terá surpresas. Mas, se eu contar agora, estraga, né?

Bruno buscou a espontaneidade durante as entrevistas, filmadas de primeira e sem planejamento prévio:
— Acho que essa postura faz com que equipe e espectador descubram determinado detalhe simultaneamente, dando a quem assiste ao filme uma sensação de estar presente no momento em que a conversa se desenrolava.

Além de economizar tempo e dinheiro, o método, enfatiza o cineasta, deu um mais dinamismo às filmagens:
— Optei por uma linguagem diferente. Em vez de ir simplesmente conversar com todo mundo, para depois planejar as cenas e registrá-las, resolvi apostar no frescor do primeiro encontro. Marcávamos as entrevistas de pesquisa, mas já dizíamos ao entrevistado que ela seria à vera, que filmaríamos com toda a estrutura e que o material seria aproveitado no produto final do filme.

Bom acabamento

É para este produto final que Bruno busca o melhor acabamento, apesar de seu caráter independente. Tanto que o projeto já foi traduzido para quatro idiomas: alemão, espanhol, francês e inglês.
— A investigação sobre a música brasileira e a Lapa são temas que vão além do Brasil e acredito que vamos alcançar um bom público lá fora. Pelo menos, nós queremos isso. Já houve até quem me chamasse a atenção para a falta de legendas em japonês… (risos)

Para Bruno, que também é autor do site Sobremusica, o trabalho em equipe e o tema escolhido são ambos muito gratificantes e envolventes:
— É muito clara a sensação de estarmos vivendo um período histórico da cultura da cidade, daqueles que as pessoas vão relembrar, saudosas, daqui a alguns anos. Tenho certeza de que vão falar da “Lapa do início do século” e poder viver este momento tendo essa dimensão histórica é uma experiência muito rica. Fazer e produzir um documentário no Brasil é uma aula de sobrevivência artística e intelectual que eu não supunha ter que enfrentar um dia. Mas ainda estou tão envolvido com o processo, que já considero uma grande conquista pessoal, que não sei exatamente o que vai ser disso tudo no fim. Sei que estou muito orgulhoso e envaidecido do trabalho que fizemos até aqui e agradecido profundamente a todos os que têm acreditado no meu trabalho e investido nele seu tempo e sua atenção. A equipe de profissionais que se formou e continua se formando em torno de mim e do projeto é, sem dúvida, um privilégio que não sei se terei muitas vezes mais.