ABI repudia ataque a jornalista e pede celeridade na investigação


Por Cláudia Souza

03/12/2014


O coronel Ricardo de Jesus, ao centro, prometeu empenho  pessoal no caso (Foto: Matheus Tagé/DL)

Coronel Ricardo de Jesus, ao centro, em reunião com Carlos Ratton (Foto: Matheus Tagé/DL)

A Associação Brasileira de Imprensa condenou a ação truculenta de policiais militares de São Paulo contra o repórter Bruno Cassucci, do jornal Lance!, ocorrida no último domingo, dia 30, nos arredores do estádio da Vila Belmiro, em Santos(SP). Bruno foi agredido no momento em que fazia a cobertura do confronto entre torcedores após o jogo Santos X Botafogo.

Em matéria publicada no Lance!net, o jornalista relatou que torcedores e policiais militares protagonizaram “cenas de guerra” nos arredores do estádio da Vila Belmiro. Santistas e botafoguenses se enfrentaram lançando pedaços de paus e pedras. A Polícia Militar utilizou bombas de efeito moral para conter o tumulto.

— Eu me aproximei do local para registrar o incidente e apurar se havia feridos e pessoas sendo detidas. Neste momento fui abordado por policiais de forma truculenta. Sob a mira de uma arma, fui detido, revistado e agredido. Eu disse que era jornalista, mas isso parece não ter ajudado, pelo contrário, pois um dos policiais apagou todas as imagens que eu havia feito no meu telefone celular. Em seguida outro PM me ameaçou colocando uma bomba de efeito moral dentro da minha calça. Outro policial disse que eu seria liberado sob a promessa de jamais retornar ao local.

Investigação

O Diretor Regional do Sindicato dos Jornalistas de Santos e da Baixada Santista, Carlos Ratton, que encaminhou ofício à PM pedindo providências contra os policiais envolvidos, reuniu-se nesta terça-feira, dia 12, com o coronel Ricardo Ferreira de Jesus, Comandante do 6º Batalhão da Polícia Militar do Interior (6º BPMI/I), em Santos (SP),  garantiu rigor na investigação:

— É importante que o jornalista agredido venha ao nosso batalhão depor sobre o ataque. A Polícia Militar não compactua com as atitudes narradas pelo repórter, que deve passar pelo exame do corpo de delito. s enviaremos o celular dele para a perícia, recuperaremos as imagens apagadas e solicitaremos a escala de serviço dos policiais para um possível reconhecimento fotográfico e pessoal. Vamos apurar este fato com rigor para concluirmos o inquérito militar num prazo de 40 dias. Os policiais supostamente envolvidos responderão por seus atos nas instâncias administrativa, civil e penal, afirmou o coronel.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) abriu inquérito nesta segunda-feira, dia 1º, para investigar o caso. A SSP-SP informou que, caso o relato do jornalista seja confirmado, os policiais terão de responder legalmente por abuso de poder. “A Secretaria de Segurança Pública não tolera a prática de abusos por policiais. Um inquérito policial militar (IPM) foi aberto para apurar os fatos relatados pelo jornalista Bruno Cassucci. Se ficarem comprovadas as afirmações do repórter, os policiais serão punidos na forma da lei”, diz o comunicado oficial do órgão.

Petição

O ataque a Bruno Cassucci também mobilizou a categoria: jornalistas esportivos organizaram uma petição online exigindo a punição dos agressores. “É obrigação da Polícia Militar identificar e responsabilizar os policiais envolvidos nesta ação provocou revolta em todos os cidadãos que lutam para o livre exercício do jornalismo, diz o texto.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) afirmou em nota que a violência empregada contra o repórter é “injustificada e inaceitável, além de representar um grave atentado à liberdade de expressão”.

O diretor executivo da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, classificou a ação policial como “vergonhosa”. A entidade ressaltou o despreparo da PM e cobrou uma punição aos policiais responsáveis pela “agressão à liberdade de expressão”.

O presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo (Aceesp), Luiz Ademar, manifestou solidariedade de Bruno Cassucci. “Assim como lutamos para afastar do futebol os torcedores violentos, também não vamos tolerar policiais violentos tentando proibir um jornalista de cumprir a sua função.”

Leia abaixo a íntegra da nota da ABI:

 A Associação Brasileira de Imprensa repudia ação truculenta da Polícia Militar de São Paulo ao agredir o repórter Bruno Cassucci de Almeida, correspondente do Jornal Lance!, ocorrida no último domingo em Santos, na cobertura da partida entre Santos e Botafogo. A ABI exige que o Governo de São Paulo que a PM-SP tome providências enérgicas contra a agressão ao jornalista e tome providências para identificar e punir os culpados.

 Cumprindo o seu dever profissional, o repórter Cassucci foi abordado de forma violenta pelos policiais quando cobria a briga entre as torcidas. O repórter teve as fotos apagadas e ainda foi alvo de outras tentativas de coerção. Foi colocado de costas contra a parede com as mãos para cima e um dos policiais colocou uma bomba de efeito moral dentro de sua roupa.

 Atitudes como essas jamais poderiam ser praticadas por uma polícia que tem por obrigação a defesa do direito à liberdade de imprensa e das garantias individuais do cidadão.

 Rio de Janeiro, 2 de dezembro de 2014

  Presidência da ABI”

*Postado por Claudia Souza.