Jornalistas acionam MP contra Ministro dos Transportes


23/07/2009


Em ofício enviado à ABI a Rede de Rádio e Televisão Tiradentes, de Manaus, pede à entidade manifestação de solidariedade à representação judicial dos jornalistas Marcos Santos e Ronaldo Lázaro Tiradentes, funcionários da emissora, protocolada no Ministério Público local contra o Senador e Ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, seu filho Gustavo Nascimento e um de seus seguranças, o oficial PM Wellington Silva, acusados de tê-los “xingado, ameaçado e agredido”, durante um incidente no aeroporto de Manaus.

De acordo com o relato dos requerentes, no documento enviado à ABI, o episódio só pode ser classificado como “revolta e desequilíbrio” do Ministro, seu filho e do oficial da PM-AM, seria “um ato de vingança contra os jornalistas Ronaldo Tiradentes e Marcos Santos”. O motivo seria a atitude dos apresentadores no programa de rádio “CBN Manaus”, através do qual têm cobrado do Ministro o cumprimento de promessas de campanha, quando este disputava uma vaga no Senado.

A seguir, publicamos na íntegra cópia do documento encaminhado à ABI, no qual os jornalistas afirmam que a atitude do Ministro Alfredo Nascimento “é mais uma demonstração desse comportamento arbitrário e ditatorial, que não respeita a convivência democrática”: 

“Senhor Presidente,

Vimos por meio desta comunicar o lamentável incidente ocorrido na tarde do dia 27 de junho do corrente ano, num dos hangares do aeroporto Eduardo Gomes, envolvendo o jornalista Ronaldo Tiradentes e a esposa deste, Kiê Cavalcante Hara, e o jornalista Marcos Santos, funcionários da nossa empresa, destratados, xingados, ameaçados e agredidos pelo senador e ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e por um dos seguranças deste, o oficial da PM-AM Wellington Silva. 

O incidente decorre do jornalismo independente que a Rede de Rádio Tiradentes, especialmente a Rádio CBN (FM 91,5), vem exercendo ao longo de sua história, numa clara afronta aos direitos democráticos e à liberdade de informação tão duramente conquistados em nosso País. 

O Ministro Alfredo Nascimento tem um histórico de violência. Foi acusado, durante a campanha para o Senado da República, em 2006, pelo jornal Diário do Amazonas, de ter ameaçado de morte um dos seus diretores. 

Mais recentemente, num episódio fartamente relatado pela imprensa, o senador ministro ofendeu o Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, chamando-o de (sic) “viado”.
A reação dele, no episódio ora relatado, é mais uma demonstração desse comportamento arbitrário e ditatorial, que não respeita a convivência democrática. 

A sociedade amazonense, com a Rádio CBN em posição de destaque, cobra do ministro o cumprimento das promessas de campanha. Dizia o então candidato que cumpriria o mandato integralmente e logo em seguida o entregou ao suplente; mostrava imagens de máquinas no que supostamente seria o asfaltamento da BR-319, cujo licenciamento ambiental até hoje, decorridos quase quatro anos, não foi concedido; afirmava que duplicaria a BR-174, entre Manaus e o Município de Presidente Figueiredo, coisa que também não ocorreu; garantia o andamento de obras para construção de 33 portos no Amazonas, mas inaugurou apenas o de Parintins que, na enchente do ano passado, por falta de cuidado e fiscalização na construção, foi ao fundo e este ano, de cheia recorde na Região Amazônica, está mais de um metro submerso. 

O histórico de promessas não cumpridas pelo ministro em campanhas anteriores é extenso, todo ele do conhecimento dos amazonenses. Relembrar essas coisas e cobrar o cumprimento do prometido ao eleitor, não é mais que dever de cidadão. 

Ressalte-se que, em todos as críticas formuladas, a emissora ofereceu espaço para que o ministro se defendesse, coisa que aconteceu uma única vez e por intermédio da assessoria dele. 

Alfredo Nascimento, porém, processou os jornalistas Ronaldo Tiradentes e Marcos Santos, na tentativa de intimidá-los. Não conseguindo, ao encontrá-los pessoalmente no hangar do aeroporto Eduardo Gomes, partiu para a agressão física, que só não se concretizou porque o carro do jornalista Ronaldo Tiradentes estava com as portas travadas.
Os dois jornalistas estavam chegando ao aeroporto, de onde seguiriam rumo à cidade de Parintins, sede da mais importante festa folclórica do País, com transmissão ao vivo pela TV Band, quando aconteceu o incidente. 

O responsável por organizar o estacionamento dos carros pediu licença ao ministro para que este permitisse a Ronaldo Tiradentes estacionar o carro atrás do dele. Alfredo Nascimento reagiu com impropérios: “Se esse fdp estacionar o carro atrás de mim eu passo por cima”, esbravejou. 

Ato contínuo, partiu para cima do carro de Ronaldo Tiradentes, tentando abri-lo. Ao mesmo tempo, o filho dele, de nome Gustavo Nascimento, e outros dois homens que os acompanhavam, tentavam abrir a porta do lado da esposa do jornalista. 

Ronaldo tentou pegar o celular para fotografar a tentativa de agressão e uma senhora que os acompanhava, diretora do Dnit no Amazonas, Auxiliadora Carvalho, gritou que podia ser uma arma. Só então o ministro saiu correndo de perto do carro, sendo imitado pelo filho e os outros acompanhantes. 

Ato contínuo, o ministro acionou os agentes da Polícia Federal que estavam no aeroporto. Afirmava que Ronaldo Tiradentes estava armado. Feita a revista no carro do jornalista, porém, nenhuma arma foi encontrada. 

Restou a evidente tentativa de intimidação, que poderia degenerar num incidente ainda mais grave não fossem os agentes da Polícia Federal bons profissionais e capazes de conduzir as averiguações a bom termo. 

Instantes depois chegou ao local o oficial da PM-AM Wellington Silva, que acompanhou toda a revista feita no carro de Ronaldo Tiradentes. Este, por sua vez, filmou o procedimento, para se resguardar. Ao final, quando tomava imagens do carro do ministro, o oficial tentou agredi-lo e ao jornalista Marcos Santos, que interveio tentando evitar as vias de fato. 

Alfredo Nascimento, no entanto, não deixou as coisas por aí. Em nota oficial, distribuída a todas as emissoras de rádio e TV de Manaus, assim como aos jornais, afirmou que Ronaldo Tiradentes e Marcos Santos o haviam ameaçado de morte e fez diversas outras acusações levianas, em evidente tentativa de distorcer os fatos. 

Ficam patentes o abuso de poder, a tentativa de intimidação e a falta de espírito democrático e de decoro do ministro.
O Senador e Ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, não vai calar a Rádio CBN Manaus. Essa trincheira da liberdade de imprensa será defendida até o último momento, buscando resguardar a sociedade de políticos que não cumprem as promessas e sobrevivem de renová-las a cada eleição, como é o caso dele. 

SOLICITAMOS a esta entidade o apoio e solidariedade necessários. Alfredo Nascimento anuncia abertamente a candidatura ao Governo do Estado do Amazonas. Se não houver uma ação pronta e direta agora, no momento em que ainda é candidato, o Estado que detém a maior parcela preservada da Floresta Amazônica corre o risco de ser governado por um déspota autoritário e capaz de imaginar que o Brasil não possui instituições fortes o suficiente para combater-lhe a prepotência, o autoritarismo e a arrogância. 

Por último, informamos que foi feita uma representação, junto à Superintendência da Polícia Federal do Amazonas, cuja cópia segue em anexo, para instauração de inquérito policial, cuja cópia segue anexa. Pedimos que esta entidade faça o devido acompanhamento da mesma.
Certos de contar com sua pronta e costumeira solidariedade,

Cordialmente,
Rede de Rádio e Televisão Tiradentes Ltda.
Ronaldo Lázaro Tiradentes / Reg. Srt-am 470
Marcos Santos / Reg. Srt-am 023”.