Jornalista torcedor Aqui tem clubismo


29/03/2021


Marcos Gomes é jornalista e membro da Comissão da Diretoria de Cultura da ABI.

Uns revelam os times pra que torcem numa boa, outros preferem jogar recuados e deixar a dúvida na cabeça do torcedor mas, não tem escapatória, em qualquer situação o jornalista se vê diante de questionamentos, quase sempre são acusados de praticar o clubismo.

Para ajudar você a entender esse fenômeno, o ABI Esporte escalou quatro jornalistas apaixonados por seus times: Ricardo Carvalho (Palmeirense), Cid Benjamin (Flamenguista), Carlos Monforte (Santista) e Caco Schmitt (Gremista). O programa vai ao ar nesta segunda-feira (29), às 19h30, no canal do Youtube da Associação Brasileira de Imprensa. 

Cid Benjamin
Certa vez fiz uma brincadeira com meu querido amigo Nelsinho Rodrigues. No aniversário de um de nós – amigos de bar, política e futebol – exibi uma crônica forjada como se fosse do seu pai, o velho Nelson. Nela, o autor confessa a frustração de não ser Flamengo. Nunca estive tão inspirado ao escrever algo. Por um instante tinha baixado em mim o espírito e o talento do velho Nelson. Para dar mais autenticidade à crônica, anexei outras três ou quatro autênticas, tiradas do mesmo livro de onde eu dizia ter encontrado aquela que e com exatamente a mesma diagramação. E as exibi, todas juntas, para um grupo de amigos no aniversário de um de nós. Foi a glória: Nelsinho, que conhece bem a obra do pai, autenticou o texto falsificado. E o justificou: “Papai escreveu isso nos anos 50, não foi? Foi um momento em que esteve doente e o Flamengo foi muito solidário com ele”. Pois bem, o que escrevi ali, naquele texto que se perdeu e que começa afirmando que o Flamengo era uma “força telúrica”, exprime minhas razões para torcer pelo Mais-Querido. Eu teria um desgosto profundo se não tivesse o Flamengo no mundo!

Carlos Monforte
Torcer para o Santos é reviver a história do futebol a cada jogo. Ser jornalista não devia mudar, mas é impossível olhar aquela camisa e não se emocionar.
Para o bem ou para o mal.

Caco Schmitt
Ser gremista é para o que der e vier. Alma aguerrida, batalhas inacreditáveis, resultados impossíveis. Gremista é passional: ora céu; ora inferno! Sofrer e vibrar, soltar o grito, erguer o braço, sentir a fé! Ser gremista é não ser normal, é jogar junto cada partida, onde o Grêmio estiver, como se estivesse em uma aventura fantástica e por 90 minutos ser imortal! Ser gremista e jornalista não é algo excludente. Na folha da Tarde, Cia Jornalística Caldas Jr, em Porto Alegre, fazia esporte e, vez por outra, cobria o setor do Internacional. Sempre com a mesma imparcialidade, pois no exercício profissional ética não abre espaço para clubismo. Fora do horário de trabalho: “Dá-lhe, tricolor”.

Ricardo Carvalho
Se a razão de ser de um jornalista, ao logo da vida, é contar histórias em suas várias formas e temas, o futebol é, sem dúvida, uma fonte inesgotável de narrativas. Como jornalista há 45 anos, sempre tive um certo receio em ser deslocado para a editora de esportes e exercitar o distanciamento necessária na cobertura de um, por exemplo, Palmeiras e Corinthians. Acho que não ia conseguir, porque se tem alguma coisa viva na minha memória é ser torcedor do Palmeiras, com o tal do “timão” meu rival desde garotinho, quando meu pai me levava para o Pacaembu assistir o “derby”.

E olha que tenho uma filha e grandes amigos corintianos. Felizmente, a nossa desavença dura só os 90 minutos do jogo e mais uma meia hora para gozações mútuas. Sim, porque futebol têm que ser alegria, festa, celebração. Tem que ser grito de campeão e para nós, palmeirenses, este grito tem sido bem frequente (rsrs). Ainda bem…