Jonas Vieira – No ar, um grande repórter


29/06/2007


José Reinaldo Marques
29/06/2007 

                José Reinaldo Marques

Nascido em 25 de dezembro de 1934, em Fortaleza, Jonas Vieira ingressou no Jornalismo aos 16 anos de idade, na função de revisor da Gazeta de Notícias e do Povo, que circulavam na capital cearense. Estudou inglês no Instituto Brasil-Estados Unidos (Ibeu) e, ao completar a maioridade, lá mesmo virou professor. Em meados da década de 60, teve o primeiro contato profissional com o rádio e foi assistente de produção de programas da Rádio Ceará Clube, somando 57 anos de profissão:
— Desde menino eu já me ligava ao rádio, influenciado por meu pai. Foi graças ao rádio que pude desenvolver minha formação musical e profissional. Naquela época, era um veículo muito instrutivo e educativo, diferentemente dessa coisa lamentavelmente horrorosa e comercial que temos hoje. Os programas são pagos pelas grandes gravadoras, que impõem a programação, tirando a autonomia que as emissoras tinham antigamente. Em termos de investimento, o rádio também perdeu muito para a televisão.

Em 1958, Jonas decidiu deixar de ser professor. Era então repórter do Correio do Ceará e, no jornal Unitário, assinava com o pseudônimo de J. Júnior a coluna “Falando em rádio”:
— Nessa época me dei conta de que Fortaleza estava pequena para mim. Então, em 1959, cheio de pretensões, me transferi para o Rio de Janeiro.

Logo foi contratado para trabalhar nos jornais O Dia e A Notícia, que à época pertenciam ao ex-Governador Chagas Freitas:
— Naquele tempo o mercado era amplo — lembra ele. — Circulavam na cidade muitos jornais matutinos e vespertinos, havia boas ofertas de trabalho nas revistas e tinham também as agências de notícias.

Tal variedade levou Jonas às redações de O Jornal, Diário da Noite, agências Globo, JB, Associated Press e Reuters, O Cruzeiro, A Cigarra, O Dia, A Notícia e Última Hora. Nesta, como repórter de Política, foi designado para cobrir a Presidência da República — função que lhe deu a oportunidade de conversar muitas vezes com Samuel Wainer:
— Ele era uma pessoa muito próxima de seus funcionários e tinha relação muito íntima com o Presidente João Goulart. Sempre que ia ao Palácio, passava antes para falar comigo e me perguntar sobre os últimos acontecimentos.

 José Reinaldo Marques

Último a saber

O jornalista conta que, em março de 1964, Jango tirou férias e se hospedou no Palácio Rio Negro, em Petrópolis, seguindo o costume de Getúlio Vargas. Àquela altura, já havia muita agitação no Rio, com os movimentos de grevistas e os discursos inflamados de Carlos Lacerda. Uma noite, Pinheiro Júnior, então chefe de Reportagem da UH, ligou para Jonas e lhe pediu que perguntasse ao Presidente se ele estava a par de um manifesto — cuja cópia já estava na redação — que circulava nos quartéis, prevendo sua derrubada:
— Quando eu pedi ao João Goulart que confirmasse a notícia, ele se espantou; disse que não sabia de nada e me perguntou onde eu havia conseguido aquela informação. Expliquei e ele chamou alguém do Gabinete Militar para investigar. Ainda insisti, mas ele voltou a negar que soubesse de alguma coisa. Percebi então que estava tudo perdido. Se o Presidente da República não sabia de um fato da maior gravidade que estava acontecendo dentro dos quartéis do Rio, imagina no restante do Brasil.

Quatro dias depois, com Jango já de volta ao Palácio Laranjeiras, no Rio, perguntaram ao então Ministro da Guerra, General Argemiro de Assis Brasil, se ele tinha o domínio das Forças Armadas:
— O General mostrou quatro dedos da mão e começou a contar: “O I Exército está comigo; o II Exército, em São Paulo, comandado pelo Amauri Kruel, está comigo; o III, do Ladário Pereira Teles, no Rio Grande do Sul, e o IV, do Justino Alves Bastos, no Nordeste, estão todos comigo.” Não era nada disso. Dias depois, quando aconteceu o comício na Central do Brasil, já tinha ficado claro que o Presidente não tinha o apoio dos militares. Por isso, para mim não foi uma surpresa a queda do Jango.

Livros e celebridades

Jonas entrevista Kim Novac

Em 1982, Jonas fez sua primeira incursão em rádio no Rio, como produtor e apresentador do programa “Rádio Memória”, na Roquette-Pinto — que em 2006 voltou ao ar aos domingos, das 7h às 9h, ao vivo. Em 85, estreou na Nacional, vivendo experiência que foi contatada no livro “César de Alencar, a voz que abalou o rádio”:
— Fui convidado pelo próprio para dirigir o seu programa. Naquela época, eu era um sonhador socialista e o César, uma pessoa odiada por muita gente, porque tinha sido acusado de ter dedurado vários colegas. No livro, mostro que ele não fez nada e foi usado como instrumento para chamar a atenção da situação da Rádio Nacional. Tanto isso é verdade que na Rádio Mayrink Veiga, que foi fechada pelos militares, nada aconteceu, ninguém virou bode expiatório. O César sabia que eu tinha feito a biografia do Orlando Silva e me perguntou: “Agora que já me conhece, você não vai fazer a minha biografia, não?”. Infelizmente, ele morreu antes da publicação.

Outros títulos escritos por Jonas incluem “Herivelto Martins, uma escola de samba”, em parceria com Natalício Norberto, “Francisco Carlos, ídolo do rádio e do cinema” e “Gonzagão e Gonzaguinha, duas vidas”, cujo material está perdido:
— Não sei a quem eu entreguei o texto para ser lido. Faz oito anos que isso aconteceu. Como ainda não mexia com computador, fiz tudo na máquina de escrever e não tenho uma cópia do livro arquivada — lamenta.

Com o editor Antônio Mussi e Herivelto

Ao longo da carreira, Jonas Vieira entrevistou de celebridades do mundo artístico, como Kim Novac (no carnaval de 1960), a figuras de destaque no cenário político, como Leonel Brizola, São Thiago Dantas, Carlos Lacerda e Tancredo Neves:
— Sem contar que tive a oportunidade de trabalhar com pessoas extraordinárias como Sérgio Porto (Stanislau Ponte Preta), Nelson Rodrigues, Adalgisa Néri, Maurício Azêdo (Presidente da ABI), Paulo Francis, Paulo Tapajós, Fernando Lobo, Giusepe Ghiarone e Jorge Guilherme, que foi da Rádio Nacional e implantou a CBN.