Imprensa, democracia e paz 


13/10/2021


Por Vilson Antonio Romero, jornalista, conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e diretor da Associação Riograndense de Imprensa (ARI).

O Comitê Norueguês anunciou em Oslo em 8 de outubro que os jornalistas Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitry Muratov, da Rússia, ganharam o prêmio Nobel da Paz de 2021 por seus esforços para defender a liberdade de expressão.

“O jornalismo livre, independente e baseado em fatos serve para proteger contra o abuso de poder, mentiras e propaganda de guerra. O Comitê Norueguês do Nobel está convencido de que a liberdade de expressão e a liberdade de informação ajudam a garantir um público informado”, afirmou a instituição.

Além de homenagear uma categoria profissional que sofre ataques a todo o momento e em grande parte das nações, a láurea serve como reflexão sobre o momento crítico que assola o planeta, com a atordoante crise sanitária decorrente da contaminação pelo coronavírus.

A pandemia fez recrudescer a desinformação, as chamadas “fake news”, e o negacionismo nas redes sociais, levando parcela expressiva das populações a ignorar os protocolos recomendados pelas autoridades médicas e contribuir, com seu comportamento irresponsável, para o morticínio que já ceifou quase 5 milhões de vidas em todo o mundo, em números certamente subnotificados. 

A imprensa mundial, em especial nos países democráticos, assumiu um papel fundamental na divulgação das orientações com bases científicas sobre os malefícios e os cuidados necessários para mitigar os efeitos da pandemia.

Mesmo assim, a liberdade de imprensa, segundo a ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF) enfrenta inúmeros obstáculos para sua plena consecução, sendo totalmente inexistente ou sofrendo bloqueios graves em 73 dos 180 países avaliados no ranking mundial elaborado pela organização com sede na França. 

Tanto na Rússia quanto nas Filipinas, países onde atuam os premiados deste ano, a situação da liberdade de imprensa é extremamente crítica, situando-os na 150ª. e a 138ª. posições, respectivamente, dessa classificação global. Só para comparação, o Brasil, onde as condições de trabalho da imprensa livre se agravaram muito desde o início do atual governo, se situa na 111ª. colocação, num ambiente claramente tóxico para os profissionais e veículos de comunicação.

Enquanto Maria Ressa dirige o Rappler (rappler.com), mídia digital de jornalismo investigativo, Dmitry Muratov é editor-chefe do jornal independente “Novaya Gazeta” (novayagazeta.ru), que já teve seis jornalistas mortos desde a sua fundação, em 1993. Ambos se destacam, em governos opressores das liberdades como “vozes críticas contra o autoritarismo e a desinformação”, segundo o Comitê.

A preocupação aumenta quando o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) revela que, nos últimos 30 anos, ao menos 145 jornalistas foram mortos nos territórios filipino e russo durante o exercício da profissão.

Que o Nobel da Paz de 2021 sirva de mais um alerta para todos os povos, ressaltando, como escreveu o Comitê Norueguês, que “salvaguardar a liberdade de expressão é uma condição para a democracia e a paz duradoura”. Imprensa livre, sempre!