Imagens do gênio do expressionismo alemão


21/10/2008


Cláudia Souza
24/10/2008

              © Fundação Murnau


A mostra cinematográfica “Poemas visionários — O cinema de F.W. Murnau” abre na próxima quarta-feira, 29, e fica em cartaz até 9 do próximo mês, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (Rua Primeiro de Março, 66 — Centro), em comemoração aos 120 anos de nascimento do diretor alemão, um dos mais importantes representantes da escola expressionista e do movimento conhecido como Kammerspiel.

Inédita no País, a retrospectiva — que em novembro segue para São Paulo e Brasília — exibe o talento genial de um dos maiores realizadores do cinema mudo, autor dos célebres “Fausto”, “A última gargalhada”, “Aurora” e “Nosferatu”, sua obra mais famosa, adaptada da novela “Drácula”, de Bram Stoker.

Dos 21 filmes que dirigiu ao longo de sua carreira, 12 foram conservados e o restante se perdeu, especialmente durante a Segunda Guerra Mundial. A mostra no CCBB abrange as fases alemã e norte-americana, totalizando 11 filmes em película 35mm e 16mm e um em DVD, todos legendados em português, incluindo os raros “Terra em chamas”, “Fantasma” e “As finanças do Grão-Duque”.

Apesar de terem entre 75 e 85 anos, as obras de Murnau apresentam linguagem audiovisual atual, desvinculada de modismos e padrões impostos ao cinema em todo o mundo.

Oscar

Friedrich Wilhelm Murnau, ou simplesmente F. W. Murnau, nasceu em 28 de dezembro de 1888, em Bielefeld, na Alemanha. Com expressivo talento, realizou na Alemanha dos anos 20 importantes obras, como “Nosferatu” (“Nosferatu, eine symphonie des grauens”), de 1922; “A última gargalhada” (“Der letzte mann”), de 1924, e “Fausto” (“Faust”), de 1926.

Em seguida, Murnau emigrou para Hollywood, onde realizou “Aurora” (“Sunrise”), em 1927, e “City girl”, em 1930. O primeiro foi agraciado com os Oscars de melhor direção de arte, melhor qualidade artística de produção, melhor atriz (Janet Gaylor) e melhor fotografia, na primeira cerimônia dos Academy Awards, em 1928.

Apesar dos prêmios, o cineasta, insatisfeito com as imposições dos grandes estúdios de Hollywood, realizou de forma independente seu último filme, “Tabu” em 1931, inicialmente com a colaboração de Robert Flaherty, cineasta que dirigiu em 1922 “Nanook, o esquimó”, o primeiro documentário de longa-metragem, pioneiro também no conceito da antropologia visual.

Em 11 de outubro de 1931, pouco antes da estréia de “Tabu” em Los Angeles, Murnau morreu em um acidente de carro. 

 © Deutsche Kinemathek

História

Curador da mostra, juntamente com Cristiano Terto, Ardnt Roskens diz que os filmes de Murnau são indispensáveis objetos de estudo para os amantes e pesquisadores de cinema e da imagem de modo geral:
— O objetivo do evento é atrair um público interessado na história do cinema e que não tem oportunidade de encontrar produções do gênero nos circuitos comercial e cultural.

Ardnt conta que conheceu a obra do cineasta na Universidade de Berlim e ficou impressionado com a linguagem atual dos filmes:
— Murnau é bem presente na Alemanha ainda hoje. “Nosferatu”, “Aurora” e “Tabu” são muito festejados naquele país. Em uma das edições do Festival de Berlim, assisti a uma retrospectiva do artista, incluindo títulos pouco conhecidos. Desde então, persegui a idéia de realizar um projeto semelhante. Como estou há seis anos no Brasil, busquei o apoio do Instituto Goethe e do CCBB, até porque nunca foi exibido aqui o panorama completo da obra desse grande diretor alemão.

Hollywood

Os filmes da fase norte-americana diferem dos títulos da fase alemã em decorrência dos interesses comerciais dos EUA, explica Ardnt:
— Os estúdios disponibilizaram condições técnicas e financeiras para a realização dos longas. Em “Aurora”, por exemplo, foi construída uma cidade cenográfica inteira. Por outro lado, Hollywood pressionou para que “Aurora” e “City girl” tivessem o romance como fio condutor da trama.

Os resultados, contudo, foram além de simples histórias de amor. Mesmo assim, o cineasta preferiu romper com os estúdios:
— Em “Nosferatu”, Murnau já havia trabalhado com a paixão presente na narrativa, porém, sob aspectos que delineiam o expressionismo alemão. Nos filmes da fase norte-americana, a linguagem característica do cineasta confere leitura incomparável aos demais do gênero. Depois de “Aurora” e “City girl”, ele realizou “Tabu” com recursos próprios, consolidando o sonho de filmar nos trópicos, neste caso, no Taiti.

Legado

Em termos estéticos, Murnau foi precussor na construção de imagens dentro da perspectiva do expressionismo alemão, sublinha o curador:
— Expoente deste gênero, ele explorou com perfeição o espaço cenográfico e introduziu uma grande novidade na época: o movimento de câmera, cujo processo era extremamente trabalhoso, em função das condições técnicas vigentes. “Outra gargalhada” é um exemplo desta riqueza de movimentos. O legado de Murnau influenciou gerações de cineastas como Martin Scorcese, que definiu “Aurora” como um “poema visionário”, expressão que resgatei para titular a mostra no CCBB. 

Filmografia
(Títulos ainda disponíveis)

• “O caminho na noite” (Alemanha, 1920)
• “Castelo Vogelöd” (Alemanha, 1921)
• “Nosferatu” (Alemanha, 1921/22)
• “Terra em chamas” (Alemanha,1921/22)
• “Fantasma” (Alemanha, 1922)
• “As finanças do Grão-Duque” (Alemanha, 1923/24)
• “A última gargalhada” (Alemanha, 1924)
• “Tartufo” (Alemanha, 1925)
• “Fausto” (Alemanha, 1925/26)
• “Aurora” (EUA, 1926/27)
• “City girl” (EUA, 1929/30)
• “Tabu” (EUA, 1930/31). 


                                          Clique nas imagens para ampliá-las: