Entidades repudiam agressões à imprensa durante o 7 de Setembro


09/09/2013


Repórter da Folha atacado por cães da Polícia Militar nos arredores do Estádio Nacional de Brasília. (Crédito: Folha de S. Paulo)

Repórter da Folha atacado por cães da Polícia Militar nos arredores do Estádio Nacional de Brasília. (Crédito:
Folha de S. Paulo)

Sindicatos e entidades de defesa da liberdade de imprensa criticaram as agressões contra profissionais de imprensa durante a cobertura dos protestos no Dia da Independência, no último sábado, 7 de setembro. Foram registradas ocorrências no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Manaus e Brasília. De acordo com a Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj, apesar do relato de ameaças feitas por manifestantes a jornalistas, os maiores problemas foram causados pela polícia.

“Verificamos que há despreparo total da polícia na contenção desses movimentos. As academias de polícia precisam reformar seus currículos. Não se pode tratar manifestantes pacíficos e profissionais em trabalho como se fossem bandidos”, disse à Agência Brasil o diretor de Relações Institucionais da Fenaj, José Carlos Torves.

Segundo o dirigente, a Fenaj está “apurando a abrangência e a gravidade desses casos para nos manifestarmos posteriormente e tomarmos as medidas necessárias junto às secretarias de Segurança dos estados, à Secretaria Nacional de Direitos Humanos e ao Ministério Público”.

A organização internacional Repórteres Sem Fronteiras – RSF também divulgou nesta segunda-feira, 9 de setembro, uma nota em que condena as ameaças e agressões por parte da Polícia Militar e pediu que os responsáveis sejam punidos para evitar que esse tipo de comportamento se repita. “A Polícia Militar já foi responsável por graves agressões físicas contra jornalistas em manifestações da “primavera brasileira” e durante a visita do papa. Esses comportamentos se repetirão se não forem punidos”, disse a organização em comunicado.

A ONG não escondeu, contudo, que algumas das agressões partiram dos próprios manifestantes. “As críticas da imprensa não legitimam em nada a violência”, disse a RSF, que reconheceu a necessidade de um debate nacional sobre os desequilíbrios de espaço na mídia brasileira, mas ressaltou que essa desigualdade não justifica nem torna toleráveis as agressões contra os repórteres que cobrem as manifestações.

O Sindicato de Jornalistas do Distrito Federal também condenou a ação policial. A primeira-secretária do sindicato, Juliana Cézar Nunes, disse que este não é um caso isolado: “O sindicato lamenta que esses atos voltem a acontecer e que o governo coloque a polícia para atuar dessa forma truculenta. Além de atuar dessa maneira com a população, atua com os jornalistas, impedindo que eles trabalhem”, disse. Nota do sindicato destacou o fato de que “vários profissionais da mídia que estão na cobertura dos protestos do Dia da Independência terem sido agredidos pela força policial”.

Representando três mil emissoras privadas de rádio e televisão no país, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão – Abert divulgou uma nota de repúdio às agressões, que partiram “tanto de policiais como de manifestantes, com a intenção de impedir o registro dos fatos”.

A nota, assinada pelo presidente da entidade, Daniel Pimentel Slavieiro, considera “inaceitável que se imponha limites, de qualquer ordem, à atividade jornalística, pelo grave prejuízo que causam ao conjunto da sociedade, que tem violado seu direito fundamental de acesso à informação”.

Mais preocupado com os problemas causados pela Polícia Militar, José Carlos Torves disse que os policiais trabalham “de forma extremamente agressiva” nesses eventos e “costumam se revoltar” quando suas ações são registradas por jornalistas. “E quando esses policiais veem câmera, microfone ou o profissional da imprensa trabalhando, eles usam da agressão na tentativa de evitar registro do barbarismo que cometem”, completou o diretor da Fenaj.

Ocorrências

Em Brasília, o repórter da Agência Brasil Luciano Nascimento, da Agência Brasil, foi agredido com spray de pimenta e empurrões por três integrantes da PM, no Setor Hoteleiro Sul. Ele havia testemunhado um soldado da Tropa de Choque atirando bomba de gás lacrimogênio contra a cabeça de um manifestante e, ao apurar o ocorrido, foi agredido mesmo após ter se identificado.

Também na capital federal, os fotojornalistas Fábio Braga, da Folha de São Paulo, e Ueslei Marcelino, da agência Reuters, foram atacados por cães da polícia enquanto registravam o uso de spray de pimenta contra manifestantes nos arredores do Estádio Nacional de Brasília antes do amistoso da seleção brasileira contra a Austrália. Ueslei se machucou ao cair enquanto fugia dos animais, enquanto Fábio foi mordido na perna. O repórter teve ferimentos leves.

Em todo o País, pelo menos 225 pessoas foram detidas em protestos ocorridos em várias cidades como Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Vitória, Recife e Salvador. Vias foram interditadas e atropelamentos registrados. Trinta e dois feridos foram contabilizados.

No Rio, houve 79 detidos ao longo do sábado. Durante a manhã, manifestantes chegaram a invadir a pista da Avenida Presidente Vargas, onde ocorria o desfile militar. Houve confronto com policiais e famílias que foram ao local para assistir o evento foram atingidas por bombas de gás.

Já em São Paulo, manifestantes que partiram do vão livre do Museu de Artes de São Paulo – MASP, na Avenida Paulista, chegaram à Câmara dos Vereadores de São Paulo, onde entraram em confronto com policiais militares. Pedras e barras de ferro foram atiradas no prédio. Em Belo Horizonte, a Polícia Militar de Minas Gerais prendeu 27 manifestantes.

*Com informações da EBC, da agência EFE e jornais O Estado de Minas e O Globo.