22/08/2018
José Reinaldo Marques
08/12/2006
O repórter-fotográfico Jesus Carlos — sócio da Agência Imagenlatina Fotojornalismo e Banco de Imagens, de São Paulo — começou a fotografar profissionalmente em 1974, no jornal mensal Projeção, de João Pessoa, na Paraíba. Do fim dos anos 70 até o início dos 80, ele se instalou na região do ABC paulista e trabalhou para o semanário ABCD Jornal, em São Bernardo do Campo, além de fazer frilas para vários tablóides, revistas e assessorias de imprensa.
Mais tarde, Jesus trabalhou cinco anos fora do Brasil, no México, onde fundou, com colegas mexicanos, a primeira Imagenlatina. Na volta, atuou em assessorias de imprensa, na área sindical e em revistas empresariais, até retomar a proposta da agência, que fornece material fotográfico para várias publicações brasileiras.
Jesus lembra que, quando trabalhava no ABCD Jornal, se fazia “um jornalismo amplo e bem diferenciado, tanto em foto quanto em texto”, dos outros jornais que circulavam na região:
— Nossas pautas abordavam denúncias, o dia-a-dia das pessoas, aspectos culturais e esportivos. Também dávamos espaço para os movimentos sociais existentes. Nas fotos, a gente procurava registrar o mais fielmente possível esse cotidiano — eu diria que com uma imagem mais documental. Essa fotografia mais jornalística, informativa, factual começou a aparecer nos veículos sindicais em 1978, com o surgimento do chamado novo sindicalismo.
O fotógrafo diz que guarda boas recordações dessa fase em que praticava um fotojornalismo quase militante:
— Acho que o período em que fizemos um trabalho mais arrojado foi durante as grandes greves. Procurávamos cobrir todo o ABCD e tudo o que estava acontecendo durante as paralisações. Mas a coisa esquentava quando aconteciam as intervenções do TRT e da polícia de choque nos sindicatos. O bicho pegava para todos nós e o importante era estar no lugar certo, na hora certa. Aí sim fazíamos o fotojornalismo mais autêntico e que vale ser destacado.
Agitação
Jesus acha que os melhores momentos de sua carreira de Jesus foram vividos nas décadas de 70 e 80:
— Além de ter sido uma época de muita agitação, foi também um tempo de muitas imagens publicadas na imprensa e de ruptura com a forma velha de fazer fotojornalismo. Começamos a fotografar sem flash, a usar a grande-angular, a puxar o filme, a nos aproximar mais e perder o medo do que estávamos registrando. Os anos 80 foram importantes para os repórteres-fotográficos, porque houve muita troca de experiências e informações entre os profissionais.
Nascia então, diz ele, um novo fotojornalismo:
— Foi quando surgiram as agências de fotografia independentes, entre elas a F4. Os fotógrafos começaram a pautar e editar seu próprio material e a se preocupar com a questão do direito autoral e com uma tabela de preços mínimos para o freelancer.
No tempo em que esteve no México, o fotógrafo trabalhou para várias publicações, mexicanas e de outros países. E viveu mais dois momentos profissionais marcantes: quando trabalhou no diário La Jornada e quando se associou aos colegas Pedro Valtierra, Marco A. Cruz, Fabrício León e Luiz H. González para fundar a agência Imagenlatina.
— No México, é mais fácil dar um tom autoral ao nosso trabalho, devido a característica que incluem o fato de lá ainda se produzir mais foto em preto e branco do que em cor. E a fotografia de autor é muito valorizada: tem mais espaço na imprensa e nas galerias artes e outros espaços de exposição.
Velho Chico
Em julho deste ano, Jesus fez uma individual no Salão Nobre da Caixa Econômica Federal, na Praça da Sé, em São Paulo: “Os barranqueiros do Velho Chico”, resultado de um trabalho que ainda não considera terminado.
— Quero transformá-lo num grande livro. Já conseguimos — o repórter Anselmo Massad e eu — publicar várias reportagens sobre a região do Velho Chico, quando a questão da transposição das águas do rio era a pauta da vez. Já voltei lá três vezes e quero ir de novo ano que vem.
Algumas das imagens — selecionadas pelo fotógrafo para ilustrar esta matéria — mostram o cotidiano e a diversidade da população ribeirinha, da nascente, em Minas Gerais, à foz, entre Alagoas e Sergipe. Como escreveu Anselmo Massad, a fotografia de Jesus Carlos sobre o São Francisco mostra “gente de histórias e costumes diferentes, mas com a mesma relação de dependência das águas e do que vem delas”.
Clique nas imagens para ampliar: