Turquia condena jornalistas à prisão por reportagem


Por Claudia Sanches

09/05/2016


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Os jornalistas Erdem Gul e Can Dundar (Foto: Reprodução)

Os jornalistas turcos Can Dundar e Erdem Gul foram condenados a cinco anos de prisão nesta sexta-feira (06/05) acusados de “divulgação de segredos de Estado”, após um julgamento polêmico no país.

Dundar, editor-chefe do jornal Cumhuriyet, foi condenado a cinco anos e dez meses de prisão, e Gul, chefe da redação do diário na capital Ancara, a cinco anos. Eles foram absolvidos de algumas acusações, incluindo espionagem e tentativa de fomentar um golpe.

A promotoria turca tinha pedido 25 e dez anos, respectivamente, alegando que os jornalistas tentaram derrubar o governo ao publicar, em maio passado, um vídeo que supostamente mostra a agência de inteligência do país ajudando a enviar armas a grupos jihadistas na Síria em 2014.

A defesa vai recorrer da sentença e, enquanto isso, Dundar e Gul ficarão em liberdade. Eles foram detidos em novembro do ano passado – desencadeando um intenso debate sobre a liberdade de imprensa na Turquia –, e soltos três meses depois  quando a Justiça decidiu que a prisão preventiva era infundada.

Favorável à condenação dos jornalistas, o presidente Recep Tayyip Erdogan, que acusou a cobertura do jornal de ser parte de uma tentativa de minar a posição da Turquia no cenário internacional, havia prometido, antes do julgamento, que os dois “pagariam caro”.

“Apesar de todas as tentativas de nos reduzirem ao silêncio, continuaremos exercendo nossa profissão de jornalista. Em nosso país, somos obrigados a preservar a coragem”, declarou Dundar em declarações à imprensa após o anúncio da sentença.

Horas antes da condenação, Dundar escapou de um atentado a tiros do lado de fora do tribunal onde ocorreu o julgamento, na cidade de Istambul. Ele saiu ileso do ataque, e o autor dos disparos, que gritou “você é um traidor” ao dar os tiros, foi detido pela polícia sem resistência.

“Hoje enfrentamos duas tentativas de assassinato: uma por arma de fogo e outra pela Justiça”, disse Dundar. “Não tenho dúvidas de que ordens do mais alto escalão desempenharam um papel importante nessa decisão”, concluiu o jornalista.